Fazemos o melhor Vinho do Mundo, mas é segredo
Fazemos o Melhor Vinho do Mundo mas é segredo. Só nós é que sabemos, nós e alguns felizardos pelo Mundo.
Se pesquisarmos um pouco no Google, quase todos os anos, algum Vinho Português ganha o prémio de melhor Vinho do Mundo, pelo menos para os jornais Portugueses. Mas se pesquisarmos nos outros países, também temos “muitos melhores Vinhos do Mundo” a ganharem prémios, a estarem nos rankings, críticas, concursos, etc. Nada contra, estas classificações ajudam os consumidores a navegar um mundo complexo, cheio de regras e nomes estranhos, em que basta mudarmos de país, para já estarmos perdidos.
Sabe comprar vinho Chinês, Russo ou Romeno? Pois é, foram os maiores produtores de Vinho logo depois de Portugal em 2021. Até o vinho do Brasil, que vem logo depois da Roménia e produziu metade da quantidade de Portugal, é difícil de comprar, porque não conhecemos as regiões, as castas e os produtores.
O que significa isto? A prova de Vinho e a classificação é feita por humanos e é bastante subjetiva. Não significa que realmente não tenhamos grandes Vinhos, e que em determinadas categorias e para algumas publicações e críticos não sejamos em dado momento, em dado ranking, crítica ou concurso, o melhor Vinho do Mundo mesmo.
Depois desta frase “O melhor Vinho do Mundo é Português!” que nos deixa felizes, (mas para quem trabalha no setor, pelo menos no meu caso, com um sorriso amarelo), segue-se outra frase menos agradável:“mas é tão difícil encontrar Vinho Português no estrangeiro.”
Aqui começamos a ter um caso complicado, fazemos o Melhor Vinho do Mundo mas é segredo.
Só nós é que sabemos, nós e alguns felizardos pelo Mundo.
Mas a realidade é um pouco diferente da perceção do consumidor, vamos a números: (Dados OIV 2021):
- Em 2021 Portugal foi o 9º País em Produção. O 11º em consumo total. Já sabemos que em consumo per capita somos o 1º. Fomos o 10º país que mais exportou Vinho.
- Fomos o país com o melhor ratio de Vinho engarrafado, versus vinho em Bag In Box e Granel, 92% das nossas exportações foram de Vinho engarrafado.
- Em ratio de Vinho a Granel, fomos o país que mais importou, 50% das nossas importações foram de Vinho a Granel.
Isto são os números macro, mas se entrarmos no mercado de forma mais profunda, numa análise de alguns grandes retalhistas Online em diversos locais do mundo, podemos ver o seguinte:
- Wine.com (Estados Unidos da América) – Portugal representa cerca de 1,8% da oferta, com 294 Vinhos em 15766 Vinhos no total.
- Majestic.co.uk (Reino Unido) – Portugal representa cerca de 2,6% da oferta com 39 Vinhos.
- Wine.com.br (Brasil) – Portugal cerca de 13% da oferta com 87 Vinhos.
Isto é obviamente uma pequena amostra das mais de 70000 lojas online de Vinho que existem registradas só na plataforma Wine-Searcher.
Apesar desta representatividade, que parece pequena em alguns mercados, sobretudo comparativamente com países como França, Itália e Espanha.
Nas exportações temos vindo a crescer bastante desde 2010, sobretudo nos Vinhos tranquilos certificados com Denominação de Origem e com Indicação Geográfica. É nestes vinhos que Portugal tem vindo a ganhar mercado e notoriedade, ainda com um preço médio longe do desejado, mas com um crescimento em volume e valor, para praticamente o dobro nestes 12 anos.
Em termos de média de preços, o trabalho não tem sido tão conseguido, tínhamos uma média de 2,44 Euros Litro em 2010, para uma média de 2,89 Euros/Litro no 1º Semestre de 2022.
“Então os Vinhos Portugueses são demasiado baratos, Portugal não se sabe valorizar, somos sempre os mesmos coitadinhos.”
Não. Na verdade Portugal teve a quinta média de preços mais alta do mundo (2,73 Euros/Litro) dos 11 maiores países exportadores, muito próxima da média mundial que foi 2,80 Euros/Litro em 2020.
Então, afinal o que podemos fazer melhor no setor do Vinho em Portugal?
- Eu diria que podíamos começar por analisar os casos de sucesso, tanto nos produtores nacionais como internacionais que têm volumes elevados, que focam no cliente e nos perfis de cada mercado.
- Ficar atentos aos Produtores de menor volume, mas que conseguem estar presentes em muitos países, com valor acrescentado e notoriedade na Imprensa especializada.
- O que estão a fazer bem? Como é a sua comunicação online e offline? Onde estão presentes? Como trabalham as suas equipas comerciais?
- Há produtores nacionais com equipas comerciais a trabalhar especificamente uma marca, todo o dia a fazer prospecção online e por telefone, trabalho esse que depois é continuado por outros elementos da equipa comercial, quando o lead avança no funil.
- Apostar nos mercados que têm um valor mais elevado por litro e que têm consistência neste valor. Como Estados Unidos, Canadá, Dinamarca, Japão, Coreia do Sul.
- E também começar a prospetar mercados que no momento são incipientes, mas que ela sua massa populacional, poderão e serão atrativos no futuro. Como a Nigéria, Costa do Marfim e Gana. E claro a Índia onde se irá realizar uma Pro Wein já neste mês de Outubro, definitivamente um sinal de potencial.
E claro, o mais difícil em Portugal, (apesar do esforço e bom trabalho da Viniportugal e outras Associações de Produtores), trabalhar em conjunto, criar estratégias para cada mercado em conjunto, com dinâmicas envolvendo o Turismo, a Gastronomia e o Vinho. A aposta no Enoturismo está a comprovar-se como uma aposta ganha e que deve ser fortalecida e mais integrada a nível nacional e não apenas regional.
E no final, temos de estar preparados para receber os mais de 20 milhões de turistas que recebemos por ano em Portugal, para lhes apresentar o melhor que temos na Gastronomia e Vinho. Podemos estar a desperdiçar uma oportunidade de criar mais de 20 milhões de embaixadores do Vinho Português todos os anos. Temos de trabalhar fora e dentro para fazer crescer o setor, em volume, valor e preço médio.
E como nos preparamos? Transmitindo o Vinho numa linguagem mais simples, mais próxima do conhecimento do consumidor e também de quem no dia a dia vende o Vinho tanto no Retalho como no Canal Horeca. Tornar a linguagem do Vinho mais atractiva e simples, é um dos desafios. Contar mais histórias e enumerar menos técnicas, pelo menos para a maior parte dos consumidores.
Não somos os melhores do mundo, mas não somos nem de longe nem de perto, os piores do mundo, estamos a fazer o nosso trabalho e podemos sim melhorar e muito.
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