Acordo de concertação? Compromisso da CGTP “não é com patrões nem com governos ao seu serviço”
Isabel Camarinha critica Governo por “manobra” nas pensões e “roubo e aldrabice” no salário mínimo. Justifica ausência do acordo de concertação por só se comprometer “com quem trabalha e trabalhou".
Uma semana depois de ficar de fora da assinatura do acordo de concertação social, a secretária-geral da CGTP criticou a proposta de “empobrecimento para quem trabalha” que foi firmada entre as associações patronais e a UGT. “Não nos venham com a história dos consensos e dos compromissos nacionais porque o nosso compromisso não é com patrões nem com governos ao seu serviço, mas com quem trabalha e trabalhou”, sublinhou Isabel Camarinha.
Num discurso proferido este sábado, no final de uma manifestação em Lisboa, a líder da CGTP enumerou que, além de “atirar o aumento dos salários para depois”, no chamado Acordo de Rendimentos e Competitividade “faltam as medidas que revoguem as normas gravosas da legislação laboral, que revoguem a caducidade das convenções coletivas e que reintroduzam o princípio do tratamento mais favorável”.
“Estamos fartos e não aceitamos justificações esfarrapadas. Quando a inflação era baixa, diziam que os salários não aumentavam porque o poder de compra estava garantido; agora que a inflação aumenta brutalmente, dizem que não podem aumentar por causa da espiral inflacionista. (…) Os patrões afirmam e o Governo concorda que temos de produzir primeiro para depois aumentar os salários. Ora, o depois deles significa, na prática, nunca. O depois tem de ser agora”, resumiu.
É todos os meses, e não apenas em outubro, que os trabalhadores e os pensionistas e reformados precisam de mais salário e pensão para ter acesso aos bens e serviços essenciais.
Isabel Camarinha reivindicou que o “brutal” aumento de custo de vida exige, ainda em 2022, um “aumento geral intercalar dos salários” e a atualização extraordinária e imediata do salário mínimo nacional (SMN). “É uma emergência nacional porque é agora que falta o dinheiro. Porque é todos os meses, e não apenas em outubro, que os trabalhadores e os pensionistas e reformados precisam de mais salário e pensão para ter acesso aos bens e serviços essenciais”, completou, numa alusão aos cheques que vão começar a ser pagos na próxima semana, ao abrigo do programa “Famílias Primeiro”.
A secretária-geral da CGTP aproveitou também para denunciar a “manobra que dá com uma mão e que tira com as duas” aprovada pelo Executivo socialista para as pensões – “a meia pensão recebida agora é feita à custa de um corte das pensões futuras, um pagamento pontual à custa de uma redução permanente”. “A mesma aldrabice e o mesmo roubo” vê Isabel Camarinha no salário mínimo, “que ia ter um aumento histórico e, afinal, um trabalhador compra muito menos hoje do que há um ano – e já então não era suficiente”.
Centenas de pessoas participaram na manifestação em Lisboa, promovida pela central sindical com o lema “Aumentos dos salários e pensões emergência nacional! Contra o aumento do custo de vida e o ataque aos direitos”. Percorreu as ruas da capital entre o Cais do Sodré e o Rossio, contando com sindicatos de várias áreas, desde a educação, comércio, serviços, autarquias, polícias, saúde e educação.
PCP e Bloco entusiasmam-se com mobilização
Em declarações aos jornalistas, o dirigente comunista Francisco Lopes, que substituiu Jerónimo de Sousa devido a um “problema de saúde pontual”, destacou que esta manifestação, que aconteceu também no Porto, “corresponde à maior mobilização dos últimos dois anos”. O ex-candidato presidencial notou ainda, citado pela Lusa, que “demonstra que os trabalhadores não aceitam a degradação dos salários, das pensões, o ataque aos serviços públicos, ao mesmo tempo que se verifica uma acumulação de milhares de milhões de euros em lucros dos grandes grupos económicos”.
Em representação do Bloco de Esquerda, a deputada Mariana Mortágua disse esperar que “mobilizações como esta se multipliquem”, criticou a ideia que disse ser propagada pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, de que as pessoas “têm de empobrecer” e que “isso é uma inevitabilidade” para superar a crise decorrente do aumento da inflação. E fez até um paralelismo com o Governo de Passos Coelho: “Era uma mentira na altura da troika e continua a sê-lo hoje.”
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