BRANDS' ECO Condução autónoma: quando é que a ficção se torna real?

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  • 19 Outubro 2022

Ainda não há resposta, mas uma coisa é certa: a tecnologia caminha para lá e a grande velocidade. A prová-lo, realizou-se a primeira viagem, em Portugal, de condução autónoma com 5G, em ambiente real

Carros que se conduzem sozinhos e em que os condutores deixam de o ser para poderem passar a ler ou ver filmes durante o trajeto está cada vez mais longe dos filmes de ficção científica para chegar à realidade do dia a dia. Quando é que isso acontecerá é que ainda não se sabe ao certo. Alguns especialistas acreditam que estes veículos podem chegar às estradas já nos próximos anos, mas outros estão ainda céticos, alegando a necessidade de desenvolvimento de tecnologia disruptiva, que ainda está para chegar.

Mas a verdade é que grande parte do trajeto já foi percorrido e inúmeros avanços têm decorrido, como veremos mais à frente, além de que a expectativa é grande. Afinal, em jogo está uma mudança de paradigma na mobilidade que se quer mais segura, eficiente e acessível a todos. Há um genuíno interesse em reduzir o número de mortes nas estradas e acredita-se que os veículos autónomos podem contribuir para esse objetivo, já que, segundo a Organização Mundial da Saúde, morrem todos os anos 1,35 milhões de pessoas em consequência de acidentes rodoviários, grande parte dos quais devido a erros humanos. Por outro lado, há uma necessidade real de encontrar soluções para a sustentabilidade do planeta e a mobilidade autónoma, acredita-se, poderá ser uma das soluções, já que passará a incentivar largamente a partilha de veículos nas deslocações diárias. A acrescentar a tudo isto junta-se o potencial económico e de criação de emprego desta disrupção do mercado.

Onde estamos hoje?

Mas, afinal, em que ponto estamos hoje no que à condução autónoma diz respeito? A evolução tem sido constante ao longo dos últimos anos e a maioria dos veículos novos integram já alguma tecnologia de apoio ao condutor, sobretudo evidente em questões de segurança rodoviária. Mas até que se considere que um veículo é de condução integralmente autónoma – ou seja, sem qualquer necessidade de intervenção humana – muito caminho há ainda a palmilhar.

Para facilitar a abordagem do assunto, numa altura em que a tecnologia está ainda a ser desenvolvida e a sua integração nos veículos não acontece de um dia para o outro em todas as marcas e modelos, a Society of Automotive Engineers (SAE) definiu seis níveis de condução autónoma [ver infografia], que variam entre o nível zero – correspondente a nenhuma automação, ou seja, cabe ao condutor executar todas as tarefas associadas à condução – e o nível cinco – em que não há condutores mas apenas passageiros e o veículo poderá nem sequer incluir volante e pedais tal como os concebemos hoje. No meio destes dois extremos encontram-se outras soluções de autonomia, algumas das quais já integradas em diversos veículos em circulação.

Considera-se que qualquer veículo a partir do nível três já é de alguma forma autónomo, sendo que estes níveis mais elevados ainda não são permitidos em Portugal. Neste momento, os carros vendidos vão, em regra, apenas até ao nível dois de autonomia, o que significa que dispõem de dispositivos capazes de interferir na direção, aceleração e travagem, acionados apenas em caso de necessidade e se o condutor não agir, implicando que este assuma de imediato o controlo.

A legislação acompanha o ritmo

À medida que a tecnologia avança, os veículos vão-se modificando, os condutores adaptam-se, e a legislação existente tenta acompanhar o ritmo. Nesse sentido, em julho deste ano começou a ser aplicado o novo Regulamento da União Europeia (UE) sobre a segurança geral dos veículos, que veio tornar obrigatórios alguns sistemas avançados de assistência ao condutor, com vista a melhorar a segurança rodoviária. Em concreto, a UE espera que as novas medidas contribuam para, até 2038, poupar a vida a mais de 25 mil pessoas e evitar pelo menos 140 mil feridos graves. Mas este Regulamento é também importante porque veio estabelecer o quadro jurídico para a homologação de veículos automatizados e totalmente autónomos na EU, o que é um passo em frente para que se chegue a níveis mais elevados de condução autónoma, o que tornaria a UE pioneira neste domínio.

5G – a tecnologia que permite dar o passo em frente

A provar que a tecnologia existe e as deslocações com veículos autónomos são possíveis e seguras, realizou-se recentemente aquela que foi a primeira viagem, em Portugal, de condução autónoma e conectada com 5G, em ambiente real. A ação decorreu na Ponte Internacional Valença-Tui e contou com o 5G da NOS, marcando a conclusão do projeto europeu 5G-MOBIX, que estudou o importante papel do 5G na mobilidade autónoma conectada em ambiente transfronteiriço.

Esta demonstração consistiu na deslocação de um shuttle autónomo, que durante a travessia da ponte teve de lidar com vários obstáculos, todos ultrapassados com recurso ao 5G. Num primeiro momento, ao deparar-se com a obstrução do percurso, o veículo passou o comando para o centro de controlo de tráfego, onde, de forma remota e com recurso a uns óculos de realidade virtual, um técnico assumiu a condução. De seguida, um peão que se encontrava num ângulo morto do veículo foi detetado por um sensor instalado na ponte, tendo o shuttle recebido essa informação através da rede 5G e evitado o acidente.

A iniciativa 5G-MOBIX, financiada pela EU no âmbito do Horizonte 2020, teve como objetivo principal estabelecer a base para o desenvolvimento de corredores 5G e impulsionar o desenvolvimento de oportunidades aplicadas à mobilidade autónoma conectada. O consórcio incluiu 58 parceiros (incluindo a NOS) de 13 países da UE, bem como Turquia e Coreia do Sul, entre outros.

Ao longo dos quatro anos em que decorreu o 5G-MOBIX, vários testes demonstraram que o 5G, pelas suas caraterísticas – a elevada velocidade, baixa latência (intervalo de tempo entre o envio e a receção de informação) e a fiabilidade da comunicação – é fundamental para o sucesso da mobilidade autónoma conectada. Segundo Jorge Graça, Administrador da NOS, este foi “um momento determinante na preparação do futuro da condução autónoma”. “Tivemos oportunidade de participar em demonstrações em ambiente real e com obstáculos verdadeiros, algo nunca feito em Portugal. E tudo isto num corredor transfronteiriço, onde foi necessário ultrapassar vários desafios relacionados com a interligação das redes dos dois países”, sublinhou o responsável. Nas suas palavras, “esta é a conclusão de um longo percurso que reuniu vários parceiros e que não nos deixa dúvidas que o 5G será essencial na mobilidade autónoma conectada”.

As conclusões resultantes do projeto irão, agora, contribuir para a definição de novas regulações e padronizações a nível europeu, relacionadas com a mobilidade autónoma conectada, bem como para impulsionar o desenvolvimento de novos modelos de negócios em torno desta área.

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