Só o ‘mix’ energético pode mover o amanhã

  • Ana Calhôa
  • 8 Novembro 2022

Óleos alimentares usados, borras de café ou molhos fora de prazo são recolhidos, reciclados e transformados em biocombustíveis. Reaproveitar resíduos permite reduzir o desperdício e evitar poluição.

É cada vez mais urgente refletirmos sobre a energia do futuro. Num momento de grande tensão e dúvida sobre como movemos o amanhã, a dependência energética de fontes fósseis tem assombrado cada passo. Sem uma solução de “tamanho único” e tirando partido de várias alternativas que se complementam, acredito que o mix energético é a resposta mais imediata, sustentável e acessível para acelerarmos a descarbonização da mobilidade.

As metas definidas para a total descarbonização na União Europeia são muito ambiciosas — e necessárias. O setor da mobilidade é aquele com maiores emissões de CO2, pelo que é preciso encontrar uma solução que permita reduzir estes GEE de forma imediata. Sabemos que o objetivo final é, de facto, terminar a produção de carros a combustão. No entanto, e tendo em conta que a vida média de um veículo é de 15 anos, acredito que o foco deverá estar nas fontes de energia alternativa, que nos permitem continuar a utilizar a frota existente mas com menos impacto ambiental.

Para isso, o mix de energias renováveis, já disponíveis para todos, é a chave para conseguir diminuir, a curto, médio e longo prazo, as emissões de GEE. A par dos veículos elétricos, devemos procurar nas fontes de bioenergia avançada a resposta a uma mobilidade mais sustentável. Neste âmbito, referimo-nos à bioenergia produzida a partir de resíduos, como óleos alimentares usados, borras de café ou molhos fora de prazo, que são recolhidos, reciclados e transformados em biocombustíveis. O facto de reaproveitarmos resíduos para a produção de biocombustíveis permite-nos não só reduzir o desperdício, valorizando e contribuindo para uma economia circular, como também para preservar a natureza do impacto desta poluição.

É importante investir na diversidade das fontes utilizadas para alcançar a neutralidade de forma mais rápida. Acredito que as misturas mais ricas em biocombustíveis são a solução mais imediata pelo facto de se poderem usar nos veículos que hoje temos, sendo por isso algo acessível a todos.

Em simultâneo, acredito que precisamos de continuar a explorar a potencialidade do biometano, dos combustíveis sintéticos ou hidrogenados, mas também investir em veículos elétricos sustentáveis, de modo a reforçar este mix energético e ter vantagem nesta missão de descarbonizar a mobilidade.

Este mix de fontes energéticas poderá ser reforçado por diferentes estratégias, aumentando a autonomia do país no setor. Desde logo, a crescente afinação do aparelho produtor de biocombustíveis em Portugal vai permitir processar cada vez mais resíduos (ao invés de óleos virgens). Depois, é necessário continuar a informar e educar todos os participantes no mercado, do consumidor ao legislador, sobre como as energias se complementam e se completam.

Por fim, também a legislação merece atenção, uma vez que o seu aprofundamento permite trazer maior valor a toda a cadeia de produção, à qualidade do trabalho desenvolvido e também ao produto final.

Num cenário que evidencia a dependência energética de combustíveis fósseis, é preciso encontrar uma resposta para sustentar a mobilidade, produção industrial e abastecimento doméstico. A complementaridade de energias, ou mix energético, é um importante passo neste caminho e é fundamental envolver o poder decisor e a opinião pública neste trabalho contínuo, de forma a acelerar a transformação e transição da mobilidade.

Mais que um sprint, acredito que esta é uma maratona energética que todos nós, produtores e consumidores de energias alternativas, renováveis e avançadas, precisamos de correr em conjunto.

  • Ana Calhôa
  • Secretária-geral ABA

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