Digitalização: “Podemos estar a falar de uma revolução”
Em entrevista ao ECO, António Pires, responsável pela área de Industry X da Accenture Portugal, falou sobre a importância da digitalização das empresas e da adoção da Indústria X.
A digitalização tem vindo a ser uma aposta de cada vez mais empresas que querem acompanhar o processo evolutivo do mercado. Aliás, na maioria dos casos, não se trata apenas de uma atualização, mas sim de uma questão de sobrevivência face a uma oferta tão capacitada tecnologicamente.
Com esta evolução como paradigma, as empresas que resistirem à mudança podem mesmo ficar para trás pelo facto de se tornarem menos atrativas. Mas, então, como podem as organizações planear esta mudança para o digital e fazê-la acontecer da melhor forma possível, mesmo quando não conseguem entender como se adaptarem a ela?
Em entrevista ao ECO, António Pires, responsável pela área de Industry X da Accenture Portugal, fala sobre a importância da digitalização das empresas e ainda explica o conceito de Indústria X, desenvolvido pela Accenture, que visa ajudar as empresas nesta transição para o digital através da reinvenção. Veja a entrevista abaixo.
O que é a digitalização do chão de fábrica?
A digitalização do chão de fábrica é um conceito abrangente que envolve a utilização dos dados e da tecnologia com o objetivo de aumentar a produtividade, a eficiência e a flexibilidade ao nível da produção. Podemos estar a falar de utilizar os dados e a inteligência artificial para ações de manutenção preditiva, ou para controlo de qualidade em tempo real, ou da utilização de realidade aumentada para promover a produtividade dos colaboradores no chão de fábrica através da diminuição de erros. Os dados, a analítica e a inteligência artificial tornam as decisões mais dinâmicas, flexíveis e precisas.
A Indústria X envolve uma visão holística da transformação digital. Quais são as condições necessárias para essa transformação ter lugar?
O mote que temos na Industry X é reimaginar o que fazemos e reinventar como o fazemos. As condições de partida que são necessárias para esta transformação são a liderança, o acesso a talento e a capacidade de transformar.
É uma nova revolução industrial ou uma evolução?
Em geral, podemos estar a falar de uma revolução. Vamos ter uma nova forma de criar produtos, de os produzir, de os levar até ao consumidor e até a capacidade de lhes associar novos serviços. As empresas que adotam o conceito da Industry X usam a inteligência para tomar decisões operacionais e de produção mais informadas que as capacitam a fazer mais com menos, de forma mais sustentável e a reinventar os próprios produtos que desenvolvem.
Normalmente, associamos a palavra revolução a uma transformação muito comprimida no tempo. Hoje, estão criadas as condições para acelerar esta transformação, nomeadamente devido à maturidade das tecnologias envolvidas e o facto de estarem hoje muito mais acessíveis.
Tecnologia e produção. Cada um destes eixos é indispensável na Indústria X. Mas como se preparam as pessoas para a adoção da Indústria X?
À medida que mais e novas tecnologias são incorporadas no local de trabalho, as funções tradicionais passarão da execução de tarefas manuais para a monitorização, interpretação e orientação de máquinas e dados inteligentes. As empresas percebem que as capacidades tradicionais da produção têm de ser aumentadas (e, eventualmente substituídas) com novas competências e requisitos, como automação, programação, inteligência artificial, integração de sistemas e desenvolvimento de software. Para além disso, reconhecem que a implementação de novos modelos operativos pode requerer ainda mais mudança ao nível da organização e dos colaboradores.
Muitos dos líderes com quem falamos, acreditam que a transformação da indústria também a torna mais capaz de atrair talento, em suma, torna a indústria mais “cool”. As pessoas que estão hoje na produção podem necessitar de alguma formação, mas também estas consideram que as novas tecnologias facilitam e acrescentam valor ao seu trabalho.
Qual é o modelo de organização adequado a essa transformação?
Esta transformação obriga a atuar ao nível de três pilares fundamentais – a tecnologia, os processos e a cultura. A natureza multidisciplinar desta transformação obriga as empresas a fazer um esforço adicional para quebrar os silos entre áreas e tornar os seus processos de tomada de decisão mais ágeis.
A Indústria X tem implícita uma visão sustentável da fábrica?
Sem dúvida. A sustentabilidade está também no centro desta transformação. Enfrentamos desafios importantes ao nível dos materiais, do consumo de recursos e da implementação da economia circular. Estes desafios encontram resposta na Industry X. Apenas para dar alguns exemplos, a resposta aos desafios da sustentabilidade está na forma como desenhamos e desenvolvemos os produtos, na forma como utilizamos gémeos digitais e sensorização para otimizar consumos, na forma como gerimos o ciclo de vida dos produtos.
Num estudo que desenvolvemos recentemente estimamos que a utilização de gémeos digitais tem o potencial reduzir o equivalente a 7,5 Gt de emissões de CO2e até 2030.
Qual é o estádio de desenvolvimento das empresas industriais portuguesas na adoção da transformação digital no chão de fábrica?
É sempre difícil generalizar, mas diria que as empresas industriais portuguesas percebem que a digitalização é o caminho a seguir e estão numa fase de experimentação.
É um processo que deve ser implementado de forma transversal ou por unidades de produção e por etapas?
É uma pergunta muito pertinente. A implementação pode e deve ser realizada por etapas, mas deve responder a um plano global, isto é, as empresas devem ter uma visão e um roadmap para a transformação. Depois, a velocidade dessa transformação pode ser adequada caso a caso. O plano global é fundamental para determinar prioridades e para focar em iniciativas de maior valor, que libertem recursos para apoiar o financiamento da transformação.
E tendo em conta a realidade empresarial portuguesa, é uma transformação também adequada às PME?
É uma transformação adequada a todas as empresas. As PMEs podem encontrar nesta transformação uma vantagem competitiva importante porque as próprias cadeias de valor onde estão integradas vão acabar por exigir que este caminho seja percorrido.
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