BRANDS' ECO Até onde podem subir os juros e o que posso fazer?
A inflação obrigou a que o BCE agisse, subindo as taxas de juro para a Zona Euro. E este cenário está para durar. Quanto tempo exatamente não sabemos, mas vai manter-se e é preciso agir.
As taxas Euribor estão a subir, deixando para trás o terreno negativo onde estiveram desde 2015. Sabíamos que não era “normal”, nem comportável, termos juros negativos por muito mais tempo. Sendo que agora estamos a sentir a passagem dos juros de níveis negativos para um patamar mais perto do esperado. Se olharmos para o histórico, em períodos sem turbulências, as taxas Euribor andam entre os 2% e os 4%.
De realçar que as taxas Euribor costumam antecipar as decisões do BCE. Assim, este ano, o banco central subiu as taxas de juro de zero para 1,25%. Quando anunciou o último aumento, as taxas Euribor já tinham “descontado” essa subida, ou seja, as Euribor já estavam a negociar acima da taxa definida pelo BCE. Tal como agora: as taxas a seis e 12 meses estão acima dos 2%, quando a taxa de referência está nos 1,25%.
Os economistas acreditam que o BCE terá de ir mais longe e, na próxima reunião, a 27 de outubro, já se esperam novos aumentos. E as taxas Euribor já estão a refletir isso mesmo. Apesar de a taxa diretora estar ainda nos 1,25%, a Euribor a seis meses já está acima de 2%, e a taxa a 12 meses está próxima dos 3% (2,7%).
Se as taxas Euribor continuarem a subir para valores próximos dos 3,5%, por exemplo, isso implicará um aumento de cerca de 30% nos encargos mensais de um crédito habitação. Em todo o caso, cada situação é única. Para perceber qual o efeito na sua prestação, em particular, o recomendado é que simule o impacto da variação da Euribor no seu crédito habitação.
Mas até onde podem ir as taxas Euribor?
É impossível antecipar até onde vão subir as taxas Euribor, até porque dependerá muito de vários fatores económico-financeiros. E ainda que não seja possível prever o futuro, podemos usar a história para anteciparmos, de alguma forma, o que pode acontecer.
Nos últimos 20 anos, as taxas Euribor superaram os 5% por duas vezes, uma em 2000, e a última, em 2008 – mesmo no centro da crise do subprime dos EUA, que acabou por ditar uma crise financeira à escala global.
E qual seria o impacto de termos taxas Euribor deste valor? Bem, significava que uma família com um crédito de 100 mil euros indexado à Euribor a 6 meses, com 25 anos ainda pela frente e um spread de 1,3%, passaria de cerca de 365 euros de prestação, com dados de janeiro, para um encargo mensal de 660 euros. Ou seja, é uma diferença de praticamente 300 euros.
Ainda assim, o momento recomenda cautela. Não é expectável que o BCE suba as taxas de juro de uma forma tão agressiva. Até porque é preciso ter algum cuidado para que a economia não caia numa forte recessão económica.
E o que posso fazer para atenuar o impacto da Euribor?
Há vários caminhos possíveis, sendo que, para começar, é essencial que reveja todas as suas despesas, a fim de avaliar quais os custos que poderá cortar.
Depois deste exercício, no caso em concreto do crédito habitação, pode rever todas as condições do contrato, podendo negociar spread, prazos, tipo de taxa (se fixa, se mista ou variável). Pode ainda negociar os custos com os produtos associados ao contrato, nomeadamente os seguros de vida e multirriscos. Na prática, pode negociar tudo o que está relacionado com o seu contrato de crédito.
Qual é o seu spread? Sabia que atualmente há bancos a oferecerem spreads de 0,85%? Tem o contrato associado a uma taxa Euribor ou a uma taxa fixa (ou mista)? Se procura alguma estabilidade, avalie se não há uma taxa mista que compense e que lhe garanta alguma estabilidade nos próximos tempos. E quanto paga pelos seus seguros da casa?
Responda a estas questões e perceba se pode conseguir reduzir os custos com o seu crédito de forma transversal. Sendo que o recomendável é que avalie o que está a ser praticado pela concorrência, de forma a perceber se o que lhe estão a oferecer está enquadrado ou se consegue melhores condições. E isto pode ser feito por si, batendo porta a porta, ou procurando ajuda de um intermediário de crédito, como o Doutor Finanças.
Pegando no exemplo acima mencionado, de um crédito de 100 mil euros, em que faltam ainda 300 prestações para concluir o contrato, com um spread de 1,3% e uma Euribor a seis meses, a redução do spread para 0,9%, implica uma redução de 30 euros por mês.
Já no que respeita aos seguros, é possível muitas vezes reduzir significativamente o custo mensal e obter ainda uma melhoria das coberturas. É preciso ter em consideração que, se decidir transferir os seguros de instituição, o mais provável é perder a bonificação que o seu banco lhe aplicou no spread. Antes de decidir, faça contas e perceba o que faz mais sentido para o seu caso.
Se estiver em dificuldades?
Se está numa situação em que já não consegue mesmo pagar ou em que está a antecipar que pode entrar em incumprimento a qualquer momento, fale com o seu banco. Este é o melhor conselho que lhe podemos dar.
À sua disposição tem ferramentas de proteção que obrigam os bancos a encontrar soluções para o ajudar a regularizar as suas dívidas. Em causa está o PARI e PERSI, dois instrumentos criados desde a última crise, que têm o objetivo de ajudar os consumidores. Assim, desde que tenha capacidade de pagar, as instituições vão encontrar uma solução que lhe permita sair de incumprimento.
Olhe para as instituições financeiras como um parceiro e não como um inimigo: o seu objetivo não é ter clientes em incumprimento nem ficar com imóveis em mãos. Afinal, os bancos são bancos. Não são imobiliárias.
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