Exclusivo Os melhores PPR para preparar a reforma

No final do ano passado existiam 767 Planos Poupança Reforma à disposição dos investidores, mas são muito poucos os merecedores do dinheiro dos investidores que procuram soluções para a sua reforma.

Os portugueses adoram Planos Poupança Reforma (PPR). No final do ano passado, segundo dados da CMVM, mais de 2,2 milhões de investidores tinham dinheiro aplicado em PPR que, no seu conjunto, agregava 21 mil milhões de euros de ativos sob gestão, 23% superior ao montante registado em 2017.

A popularidade dos PPR não é de agora. Desde que foram comercializados pela primeira vez em 1989 que estes instrumentos de poupança e investimento rapidamente ganharam tração. E não foi apenas na carteira dos investidores, mas principalmente no portefólio comercial de bancos e seguradoras.

Essa realidade é bem visível na vasta oferta de PPR atualmente existente no mercado: de acordo com informação compilada pelo ECO, estavam ativos 767 PPR no final de 2021 – apesar de pouco mais de uma centena permitir atualmente novas subscrições.

Nos últimos seis anos terminados em 2021, os PPR registaram uma rendibilidade média anual bruta de apenas 2,13%, que se traduziu num ganho real (descontado da inflação) de 1,36%.

Há soluções para todos os gostos: PPR com ou sem capital garantido, mais ou menos arriscados, mais caros ou mais baratos, geridos “à moda antiga” por gestores que determinam a abertura e o fecho das posições ou através de ordens automáticas conferidas por robôs (robot advisers). Há de tudo um pouco. E até há propostas comerciais que vão para lá do próprio PPR, sobretudo nesta altura do ano em que bancos e seguradores correm a vender estes produtos aos seus clientes atirando-lhes com o benefício fiscal que o Estado confere no investimento nestes produtos.

É disso exemplo a campanha da gestora Futuro, do grupo Montepio, que para captar recursos para os seus PPR está a oferecer 10 euros em cartão oferta FNAC por cada 2.000 euros de investimento realizado até ao final do ano.

Fazer as contas antes de investir o dinheiro da reforma

A comercialização dos PPR distribui-se por três grandes categorias: há PPR sob a forma de seguro de capitalização, que agrega a maioria da oferta (cerca de 80%) e que garantem, por norma, o capital e proporcionam um rendimento mínimo; e há PPR sob a forma de fundos de investimento e fundos de pensões que, geralmente, não têm capital garantido e que podem investir uma parte ou a totalidade da carteira em ações.

Apesar destas diferenças, o desempenho da generalidade dos PPR está longe de ser brilhante: nos últimos seis anos terminados em 2021, os PPR registaram uma rendibilidade média anual bruta de apenas 2,13%. Na carteira dos investidores, este parco desempenho traduziu-se num ganho real (descontando a inflação média neste período) de 1,4%. É muito pouco, sobretudo porque as contas não se ficam por aqui.

Fonte: ASF, APFIPP, CMVM, seguradoras e gestoras de fundos.

É preciso ainda descontar os impostos sobre as mais-valias (a taxa de tributação varia entre 28% e 8%) e as comissões de subscrição e de resgate que muitos PPR ainda cobram, sobretudo no universo dos seguros PPR. É o caso do Misto BA PPR, da España Compañia Nacional de Seguros, que apresenta uma comissão máxima de subscrição de 29% e de reembolso de 15%; e do Valor Mais PPR (71D8) da Lusitania Vida, que apesar de não ter comissão reembolso pode cobrar até 40% sobre o valor das subscrições.

Num plano de investimento de longo prazo, como pretende ser a construção de um complemento de reforma, todos estes custos revelam-se danosos para o alcance do objetivo delineado. Mas existem boas exceções no universo dos PPR.

Separar o trigo do joio entre os PPR

Encontrar um PPR com capacidade de gerar um complemento de reforma suficientemente sólido para quando os Anos Dourados chegarem é quase como encontrar uma agulha no palheiro. E essa dificuldade não é de agora. Sempre foi assim.

Entre 1990 e 2009, a primeira década de vida dos PPR, a rendibilidade média real dos 613 PPR ativos no mercado nessa altura foi de 1,54% por ano, revelam Joaquim Madrinha e David Almas no livro “Como Salvar a Minha Reforma”. Nesse mesmo período, a rendibilidade real dos Certificados de Aforro, instrumentos de risco virtualmente nulo por serem garantidos pelo Estado, foi de 1,82%.

O mais antigo fundo PPR é o PPR 5 Estrelas, que é gerido pela Futuro SGFP. Atualmente, este fundo detém cerca de 178 milhões de euros de ativos sob gestão e conta com 33 anos de atividade (foi constituído a 4 de dezembro de 1989). No entanto, a longa idade do fundo está longe de ser garantia de qualidade: nos últimos 10 anos, enquanto o PPR 5 Estrelas gerou uma rendibilidade média anual de 1,5%, o Invest AR PPR, que foi lançado 12 anos depois, gerou uma rendibilidade média anual de 6,6% no mesmo período.

O tamanho também não é um bom indicador para encontrar os melhores PPR. Veja-se o caso do Leve Uni PPR, gerido pela Fidelidade, que em 2020, último ano que esteve disponível para subscrição, detinha uma carteira avaliada em 5,8 mil milhões de euros que o ainda tornam no maior PPR do mercado: entre 2016 e 2021, o Leve Uni PPR ofereceu aos seus subscritores apenas 0,42% ao ano. Neste período, a taxa de inflação média foi de 0,8%.

Significa que apesar de o PPR da Fidelidade se enquadrar num produto de capital garantido (a taxa de retorno anual resultava de 80% da média das últimas observações diárias da taxa Euribor a 3 meses no último ano), nos últimos seis anos os subscritores do Leve Uni PPR perderam poder de compra.

Para os investidores que ainda estão longe da reforma e que têm um horizonte temporal de investimento superior a cinco ou mais anos, um PPR com maior exposição a ações pode revelar-se numa solução mais interessante.

A dura realidade é que são muito poucos os PPR disponíveis no mercado que merecem o dinheiro dos pequenos investidores. E a capacidade para os descobrir é também complicada, dado que a maior parte procura vender o seu produto pelo benefício fiscal que o Estado paga e que pode ir até aos 400 euros (20% do valor investido), consoante a idade dos investidores e do montante subscrito.

No entanto, é importante não esquecer que este benefício fiscal que os vendedores tanto apregoam concorre diretamente com outras deduções, como as despesas de saúde e de educação, os encargos com imóveis e com seguros de saúde. Por isso, é muito possível que a “cenoura fiscal” que é atirada para a frente dos olhos dos investidores seja facilmente reduzida a pouco ou mesmo nada.

Boas soluções para ter uma reforma tranquila

Ao contrário do que sucedeu no ano passado e em 2019, que se revelaram em anos positivos para os fundos PPR, este ano as seguradoras e os bancos terão mais dificuldade em persuadir os seus clientes a realizarem uma última subscrição do seu PPR antes de o ano terminar. Isto porque é muito difícil encontrar um PPR com rendibilidades positivas em 2022. Aliás, de acordo com o último relatório da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP), não há um único fundo PPR que tenha sido capaz de oferecer aos seus subscritores ganhos entre janeiro e novembro deste ano.

No entanto, para os investidores que estejam interessados em aplicar as suas poupanças num PPR ou em qualquer outro produto financeiro, o desempenho registado num ano não deverá ser o elemento central da sua decisão.

Um ano bom ou um ano mau num histórico de 10 anos, por exemplo, todos podem ter. Mas ter consistência e uma estratégia de investimento vencedora e bem definida é algo mais raro e muito difícil de encontrar no universo dos PPR. Mas é possível. É disso exemplo a gestão de Paulo Monteiro no Invest AR PPR, que assenta numa estratégia de investimento equilibrada entre uma exposição máxima de 40% a ações e o restante em ativos menos voláteis, como obrigações e depósitos. Os resultados estão à vista: apesar de este ano estar a perder 9,3%, o PPR da Invest Gestão de Ativos acumula uma rendibilidade anualizada média de 6,6% ao longo da última década.

A mesma consistência existe na gestão de Paulo Joaquim no NB PPR/OICVM ao longo dos últimos 10 anos: com uma exposição acionista máxima de 25%, o PPR do grupo Novobanco gerou para os seus subscritores ganhos médios de 4,3% ao ano desde 2012, já considerando a desvalorização de 10% que regista este ano. No seu segmento de risco não houve nenhum PPR que se tenha saído melhor que o NB PPR/OICVM.

Para os investidores que ainda estão longe da reforma e que têm um horizonte temporal de investimento superior a cinco ou mais anos, um PPR com maior exposição a ações pode revelar-se numa solução mais interessante, dado que são os ativos que mais rendem no longo prazo.

O fundo PPR SGF Stoik, gerido por Luís Jordão e pela SGF – Sociedade Gestora de Fundos de Pensões, pode ser uma opção. Constituído a 15 de fevereiro de 2016, este fundo tem uma estratégia de investimento centrada numa exposição até 75% a ações de grandes empresas, como a Amazon, a Coca-Cola ou a LVMH. Até ao final de 2021, o PPR SGF Stoik estava a acumular ganhos de 6% ao ano.

Ainda mais exposto ao mercado acionista está o PPR da Casa de Investimentos, o Casa Global Value PPR, que investe até 100% em ações. Gerido por Emília Vieira, o fundo tem ainda pouco tempo de vida (foi lançado a 1 de outubro de 2020) e acumula uma desvalorização de 22,6% este ano, mas segue a mesma estratégia que a gestora e a sua equipa têm produzido na gestão das carteiras discricionárias dos seus clientes na última década, que passa por uma seleção de grandes empresas sob os princípios da política do investimento em valor, e que se traduziu em rendibilidades médias anuais de 6,14% desde 2010.

É certo que as “rendibilidades passadas não são garantia de rendibilidades futuras”, como repetidamente se lê em qualquer prospeto de um fundo de investimento. E por isso é que apostar num currículo vencedor é só parte de um alargado processo de pesquisa e estudo. E mesmo escolhendo o “PPR perfeito”, a tarefa não está concluída.

Investir com base num horizonte temporal largo é uma das principais premissas que os investidores devem ter em atenção quando decidem aplicar as suas poupanças. Principalmente no contexto atual dos mercados, marcado por fortes oscilações dos preços que torna bem presente a possibilidade de, num dia, tanto se alcançar uma mais-valia extraordinária como acabar com um portefólio reduzido a tostões.

É por isso que um investimento a cinco anos é sempre melhor que a três, e um plano de investimento a vinte anos será melhor que a dez. O segredo está no tempo: quando mais cedo começar a poupar e a investir para construir um complemento de reforma melhor.

Nota: Nenhuns dos produtos assinalados no texto traduzem-se em recomendações de investimento. Este texto não dispensa a consulta da informação oficial dos produtos financeiros identificados e nunca é demais lembrar que rendibilidades passadas não são garantia de rendibilidades futuras.

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