Euribor a 6 meses deverá ultrapassar os 3% até março

Á boleia das subida das taxas de juro do BCE, os investidores estão a antecipar que as taxas Euribor a 3 e 6 meses continuem a escalar até ao verão.

A taxa Euribor a 12 meses superou esta segunda-feira os 3% pela primeira vez desde dezembro de 2008. E até ao final do primeiro trimestre do próximo ano será a vez das Euribor a 3 e 6 meses superar esta barreira. É isso que indicam os forward rate agreements (FRA) sobre as Euribor negociados pelos investidores.

Estes contratos financeiros, negociados em mercado secundário, permitem a fixação de uma taxa de juro no futuro e são utilizados pelos profissionais para antecipar as oscilações das taxas de juro no longo prazo.

Atualmente, os contratos forward sobre as Euribor a 3 e 6 meses indicam que as taxas deverão superar os 3% em março e subir até aos 3,3% até ao final do primeiro semestre. Isto significa que em abril do próximo ano, um crédito à habitação de 100 mil euros, a 30 anos, indexado à Euribor a 3 meses com um spread de 1,2%, passará a apresentar uma prestação de 488 euros face aos 389 euros que passou a pagar em outubro após a revisão trimestral da sua taxa de juro, ou 310 euros que pagava em abril deste ano.

Só após o verão do próximo ano é que as famílias com crédito à habitação poderão respirar um pouco mais de alívio, pelo menos a contar com o comportamento dos forward rate agreements.

“O mercado está a incorporar a expectativa de que a ocorrência de uma recessão e a descida da inflação, ambas em 2023, poderá levar a cortes nos juros no final do ano ou no início de 2024”, refere Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros.

No entanto, o suspiro por parte das famílias não deverá ser muito profundo. Desde logo porque o Banco de Portugal projeta uma taxa média de 2,9% para a Euribor a 3 meses no próximo ano, segundo revela o banco central no Boletim Económico de dezembro, publicado na sexta-feira feira.

Taxas Euribor só aliviam após o verão

Fonte: Refinitiv. Dados referentes aos contratos de futuros da Euribor a 3 e 6 meses.

 

Crédito à habitação está pressionado pelo BCE

Desde o início do ano que as taxas Euribor têm escalado a uma velocidade nunca antes vista: se em janeiro a Euribor a 6 meses – taxa mais utilizada nos contratos de crédito à habitação – estava a negociar em terreno negativo nos -0,5%, atualmente está a negociar nos 2,57%.

Num contrato de crédito à habitação a 30 anos com um spread de 1,2%, esta evolução traduziu-se num aumento de 156 euros por cada 100 mil euros de financiamento no espaço de um ano.

Na base deste aumento tão repentino das Euribor tem estado a política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que desde o verão já aumentou por quatro vezes consecutivas as taxas diretoras do BCE para travar a inflação na Zona Euro, que alcançou os 11,1% em novembro – bem longe dos 2% definidos como meta por parte do BCE).

Entre julho deste ano e a última reunião do Comité de Política Monetária do BCE realizada em dezembro, a taxa de depósitos e a taxa de refinanciamento de operações (“refi”) passou de 0% para 2% e 2,5%, respetivamente. E está longe de ficar por aqui.

“As expectativas de mercado são de que o BCE suba mais 125 pontos base, para 3,25% [taxa de depósitos]”, refere Filipe Garcia, sublinhando que “o discurso após a reunião do BCE de quinta-feira passada colocou mais 25 a 50 pontos base na taxa terminal face ao que se esperava antes.”

Com a mesma expectativa de contínua subida das taxa diretoras por parte do BCE estão os analistas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Em setembro, na publicação “O Preço da Guerra”, que agrega as suas últimas previsões para a economia mundial, a OCDE antecipava que a taxa de juro de “refi” suba dos atuais 2,5% até aos 4% no próximo ano.

A confirmarem-se estas previsões, as perspetivas para as famílias portuguesas com crédito à habitação não são as melhores: a última vez que a taxa de depósitos figurou nos 3,25% e a taxa de refinanciamento de operações esteve perto dos 4% foi em outubro de 2008. Nessa altura, a Euribor a 6 meses estava a negociar nos 4,7% – e chegou aos 5,3%.

No orçamento das famílias, um crédito à habitação de 100 mil euros a 30 anos, indexado à taxa Euribor a 6 meses com um spread de 1,2%, em outubro de 2008, traduzia-se numa prestação de 593 euros, um valor 92% acima do verificado em janeiro deste ano.

Atualmente, o mercado está a incorporar uma taxa de refinanciamento de operações de 3,75%, apesar de o BCE ter dado a entender que poderá subir um pouco mais a fasquia. Porém, Filipe Garcia nota que uma eventual subida da ‘refi’ a 4% seria algo transitório, pelo que continuo a ter dificuldades em ver as Euribor acima de 3,5%.”

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