Bolsa de Lisboa perde 18 empresas numa década (e só viu entrar seis)

Nos últimos 10 anos, por cada nova entrada de uma empresa na bolsa portuguesa saíram três. Será que as empresas estão a perder o interesse na praça financeira nacional?

A Sonaecom poderá ser a 19.ª empresa a abandonar a Euronext Lisboa na última década. Desde 2013, apenas por duas ocasiões (2014 e 2015), a bolsa nacional não registou a saída de empresas da principal praça financeira do país.

Já este ano, a bolsa despediu-se da Orey Antunes, que deixou de cotar a 30 de junho, na altura com uma capitalização bolsista de 894 mil euros. Antes disso, foi a vez da Sonae Indústria e da Sonae Capital, que deixaram de negociar na Euronext Lisboa a 22 de julho de 2021 e 20 de novembro de 2020, respetivamente.

Na altura, a Sonae Indústria apresentava uma capitalização bolsista de 107 milhões de euros e a Sonae Capital de quase 193 milhões de euros. “Nós nunca gostamos de ver empresas saírem”, refere Isabel Ucha, presidente da Euronext Lisboa, ao ECO, sublinhando que, tal como sucede no resto da Europa, “apesar de haver menos empresas cotadas, a sua relevância no total da economia é maior.”

Nos últimos 10 anos, por cada nova admissão ao mercado principal da Euronext Lisboa registaram-se cerca de três saídas.

O peso da capitalização bolsista da Euronext Lisboa sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal aumentou nos últimos 10 anos, passando de um montante equivalente a 29% do PIB no final de 2012 para perto de 35% atualmente (com base no PIB estimado para este ano).

“Só nos últimos três anos acrescentámos 20 mil milhões de euros à capitalização bolsista das empresas cotadas”, refere a presidente da Bolsa portuguesa. Mas apesar do volume e da capitalização bolsista da praça financeira nacional terem aumentado nos últimos anos, as empresas continuam a preferir alternativas ao mercado de capitais para se financiar.

E isso é bem visível tanto pelo crescente número de empresas que abandona bolsa nacional como pelo reduzido número de novas empresas admitidas à cotação.

Só nos últimos 10 anos, por cada nova admissão ao mercado principal da Euronext Lisboa registaram-se três saídas. Trata-se de um rácio quase duas vezes superior ao verificado na média das sete bolsas do grupo Euronext*: entre 2013 e 2022, foram admitidas à negociação do mercado acionista das bolsas do grupo Euronext 295 empresas contra 473 saídas.

Entradas e saídas a ritmos distintos

No calendário de abandonos da Euronext Lisboa, não houve ano mais movimentado do que 2018. Nesse ano, a bolsa nacional viu partir cinco empresas, com destaque para o Banco BPI (após o lançamento de uma OPA potestativa do seu sócio maioritário, o Caixabank), a Luz Saúde (que à data era detida em 98,79% pela Fidelidade e pela Fosun) e o Banco Santander.

Mesmo retirando o banco espanhol da equação, em 2018 a Euronext Lisboa perdeu 2.779 milhões de euros de capitalização bolsista.

O ano que mais se aproximou de tamanha azáfama foi 2016, com as saídas do Banif e das três empresas ligadas ao grupo Banco Espírito Santo: entre janeiro e fevereiro desse ano, a Euronext Lisboa perdeu quatro empresas e 1.065 milhões de euros de capitalização bolsista.

Desde 2013 até hoje, mesmo não contabilizando as saídas dos bancos espanhóis (Banco Santander e Banco Popular Español), a Euronext Lisboa já perdeu 16 emitentes do seu mercado principal e mais de 6,1 mil milhões de euros de capitalização bolsista.

Em contracorrente às saídas têm estado as admissões. Na última década têm sido muito poucas as empresas a procurarem a bolsa nacional para se financiarem no mercado acionista. Apenas seis o fizeram.

Foi o caso dos CTT – Correios de Portugal, a 5 de dezembro de 2013, e a Greenvolt, a 15 de julho de 2021. Ambas as empresas fazem hoje parte do grupo de 14 companhias que constituem o principal índice acionista da Euronext Lisboa (PSI).

Sobre a possibilidade de haver novas admissões na bolsa portuguesa, Isabel Ucha refere que a Euronext não tem nem nunca teve objetivos de números de ofertas públicas iniciais (OPI) a realizar, “desde logo porque não dominamos o contexto de mercado”.

A líder da Euronext Lisboa sublinha ainda que para haver OPI (ou do inglês IPO – initial public offering) é preciso haver janelas de oportunidades e, neste momento, isso não existe.

A última vez que houve uma janela de oportunidade marcante foi há dois anos. Entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro semestre de 2021, de acordo com Isabel Ucha, foi um período recorde de OPI na Europa e nos EUA. Só na Euronext foram realizados mais de 220 operações nos vários países. Em Lisboa, durante o “período de ouro” de OPI, resumiu-se a apenas uma operação, o OPI da Greenvolt.

* Os dados referentes à bolsa italiana, que foi integrada na Euronext a 29 de abril de 2021, só incluem as entradas e saídas em 2022.

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