Onde investir o seu dinheiro em 2023
Os especialistas acreditam que o efeito de uma recessão já está em larga escala descontado na cotação das ações e das obrigações. Mas estão longe de anteverem um ano brilhante para estes ativos.
Depois de um ano de 2022 extremamente desafiante, que ficou marcado pelo regresso da guerra à Europa e pela subida galopante da inflação e das taxas de juro, 2023 está longe de se apresentar como um ano de viragem e de tranquilidade para a carteira dos investidores.
O ano que agora arranca carrega às costas uma bagagem de muitas incertezas. A começar pelo desenrolar da guerra na Ucrânia e a terminar na orientação da política monetária dos principais bancos centrais no combate à elevada taxa de inflação que assola a economia.
A maioria dos especialistas aponta para a inevitabilidade de uma recessão nas economias mais desenvolvidas do mundo, mas notam a grande probabilidade dessa recessão ser “suave” e de curta duração.
As melhores notícias podem chegar da China, que depois de um annus horribilis deverá mostrar alguma recuperação com a abertura de Pequim no que respeita à política zero contra a Covid-19, e também da Índia que, segundo o Fundo Monetário Internacional, deverá crescer 6,8% este ano e 6,1% no próximo.
O ano de 2023 começa assim envolvido numa grande indefinição e com uma boa dose de pessimismo no mercado, com a maioria dos analistas a antecipar que apesar da recessão já estar impressa e descontada em grande medida na cotação das ações e das obrigações, será difícil não se observar novas quedas no preço destes ativos, pelo menos no começo do ano.
O que parece certo é que a liquidez venha a ser a grande estrela na carteira dos investidores. Ativos como depósitos ou Certificados de Aforro, que ajudam a estancar a volatilidade dos mercados e podem ser utilizados a qualquer momento para reforçar posições, devem ser preservados para contornar a enorme indefinição que ainda se vislumbra no horizonte, como revelam os outlooks de cinco dos maiores bancos de investimento e gestoras internacionais do mundo.
2023 será particularmente marcado por alterações mais frequentes na alocação de ativos nas carteiras de investimento.
- Tom Donilon
Presidente da BlackRock Investment Institute
A visão da BlackRock para este ano assenta no pressuposto de que o período de crescimento e de inflação estável que se viveu nas últimas quatro décadas acabou.
Para a Europa, a equipa de especialistas da maior gestora de ativos do mundo classifica como “inevitável” a ocorrência de uma recessão. “O impacto do choque energético ainda não foi sentido de forma integral, uma vez que os governos tentaram, ainda que parcialmente, proteger as famílias e as empresas através de uma política fiscal expansionista”, lê-se no outlook para 2023.
Tom Donilon e a sua equipa da BlackRock Investment Institute (entidade que produz research para a gestora) acreditam que uma eventual recessão que possa bater à porta da Europa e das economias desenvolvidas já está muito descontada pelo mercado. Todavia, destacam que “as avaliações do mercado acionista ainda não as refletem na sua totalidade, especialmente na Europa, região na qual vemos uma recessão económica a evidenciar-se primeiramente”.
Essa visão justifica o posicionamento tático e de subponderação dos investidores aos mercados acionistas europeus e norte-americanos. Além disso, os analistas da BlackRock antecipam que 2023 será particularmente marcado por alterações mais frequentes na alocação de ativos nas carteiras de investimento, “equilibrando opiniões sobre o apetite por risco com estimativas de como estão os mercados a descontar o prejuízo económico no preço.”
Por outro lado, a equipa de Tom Donilon apresenta uma perspetiva positiva para as obrigações corporativas de elevada qualidade por traduzirem-se em títulos de dívida de empresas com balanços resilientes que, numa situação de recessão, podem ultrapassar melhor as dificuldades do mercado que as ações.
Positivo em: Obrigações de empresas com elevado nível creditício, obrigações globais indexadas à inflação e ações de empresas expostas aos setores financeiro e energético, e à área da saúde.
Negativo em: Obrigações de dívida pública a longo prazo e ações norte-americanas.
Embora 2023 seja um ano difícil para as economias, o pior da volatilidade do mercado já passou.
- Karen Ward
Chief Market Strategist para a região da EMEA do JPMorgan
Apesar de a inflação permanecer acima das metas definidas pelos bancos centrais, o JPMorgan antecipa que a taxa de inflação comece a corrigir ao longo de 2023 por conta de três dinâmicas: 1) abrandamento da economia mundial, 2) enfraquecimento do mercado de trabalho, 3) diminuição das pressões sobre as cadeias de abastecimento logísticos e 4) a Europa aumenta a sua capacidade de diversificar as suas necessidades energéticas.
Na visão central do outlook para 2023 do banco norte-americano, as economias desenvolvidas vão enfrentar uma “recessão suave” este ano “devido a condições financeiras mais restritivas, a uma política fiscal menos favorável nos EUA, a incertezas geopolíticas e à perda do poder de compra das famílias”, refere a equipa de analistas de Karen Ward, que antecipa uma subida das taxas de juro nos EUA até aos 5% e até aos 3% por parte na Zona Euro.
Para os investidores, a ocorrência de um cenário de recessão não deverá ser um grande problema nas suas carteiras. Segundo o JPMorgan, tanto as ações como as obrigações já têm as suas cotações descontadas pelos “macro-problemas que se vão desenrolar em 2023 e parecem cada vez mais atraentes”. Esta leitura dos dados, leva os analistas mostrarem-se entusiasmados em relação às obrigações como nunca tiveram na última década.
Em relação ao mercado acionista, a equipa de Karen Ward destaca que a venda generalizada de ações, particularmente no último trimestre do ano passado, deixou alguns títulos a cotar com fortes ganhos potenciais em virtude de estarem a hoje a negociar em valores muito baixos.
“Dado o declínio já verificado no preço das ações e das obrigações, acreditamos que embora 2023 seja um ano difícil para as economias, o pior da volatilidade do mercado já passou e tanto as ações como as obrigações parecem cada vez mais atrativas”, refere o JPMorgan no seu outlook para este ano que carrega o slogan “um mau ano para a economia, um melhor ano para os mercados”.
Positivo em: Ações de grandes empresas relacionadas com a transição climática e ações de mercados emergentes.
Negativo em: Ações de empresas do retalho e imobiliário.
Podemos estar a aproximar-nos do ponto em que as más notícias para a economia, incluindo a recessão iminente, se transformam em boas notícias para os mercados.
- Stefan Hofrichter
Responsável de Economia e Estratégia da Allianz Global Investors
A equipa de especialistas da Allianz Global Investors (GI) liderada por Stefan Hofrichter antecipa uma recessão mundial que se tornará num “obstáculo importante para que os preços dos ativos de risco possam recuperar”, pelo menos por enquanto.
De acordo com a visão do líder da Allianz GI, se o passado servir de guia para antecipar o futuro, “os preços das ações podem atingir o seu ponto mais baixo durante a primeira metade da recessão, assim que os investidores comecem a ver sinais de recuperação.
Mas não são somente as ações que sofrem com o abrandamento da economia. “O mesmo pode ser verdade para o desempenho relativo das obrigações com riscos mais elevados em comparação com as obrigações do Tesouro”, sublinha Hofrichter no outlook da gestora para 2023 que carrega o título “Preparados para o reinício”.
No entanto, a Allianz GI considera que podemos estar a aproximar-nos do ponto em que as más notícias para a economia, incluindo a recessão iminente, se transformam em boas notícias para os mercados, destacando a existência de algumas oportunidades para reentrar nos mercados de ações e obrigações ao longo do ano.
Positivo em: Obrigações soberanas e obrigações de empresas com elevado nível creditício (grau de investimento), particularmente obrigações verdes ou sustentáveis.
Negativo em: Ações europeias e norte-americanas.
Os mercados poderão revelar-se mais resilientes este ano do que em 2022, mas 2023 será apenas um ano “aceitável” para as ações.
- Christian Nolting
Global CIO do Deutsche Bank
O maior banco alemão prevê que os EUA e a Europa enfrentem uma recessão suave e de curta duração logo no primeiro semestre do ano. “A combinação de um menor crescimento, uma inflação persistente e restrições da despesa pública será um cenário difícil tanto para as pessoas como para os governos”, refere Christian Nolting, responsável pelo departamento de investimento do Deutsche Bank.
Para os investidores, o abrandamento do crescimento económico esperado para os dois blocos em 2023 não deverá traduzir-se obrigatoriamente num desempenho negativo nos mercados. Aliás, segundo Nolting, os mercados poderão revelar-se mais resilientes este ano do que em 2022, mas 2023 será apenas um ano “aceitável” para as ações e “não será um grande ano”.
Face aos valores de fecho da última sessão de 2022, o Deutsche Bank antecipa uma valorização de 7% para as ações que constituem o índice norte-americano S&P 500 e ganhos de 5% para as ações do índice europeu Stoxx 600.
Geograficamente, Nolting destaca ainda a China e por arrasto o mercado asiático, antecipando uma boa recuperação do Império do Meio em 2023, como resultado dos estímulos que Pequim continuará a dar à sua economia. “A recuperação chinesa, combinada com a reabertura regional, significa que a Ásia poderá ter um bom 2023.”
Positivo em: Ações europeias e asiáticas.
Negativo em: Obrigações high yield e dólar.
A desaceleração económica global continuará a ser um elemento adverso fundamental para as ações durante algum tempo”.
- Willem Sels
Global CIO do HSBC
O abrandamento da economia mundial e um panorama de taxas de juro mais elevadas são os dois principais vetores que marcarão a economia e os mercados mundiais ao longo deste ano, segundo o HSBC.
Para os investidores, estas dinâmicas irão obrigar à tomada de decisões que possam garantir um equilíbrio na sua carteira de investimentos, depois de um ano de grandes dificuldades. “A boa notícia é que mesmo os ativos de qualidade são agora muito mais baratos e os investidores podem construir carteiras resilientes com rentabilidades esperadas respeitáveis, e esperar por melhores tempos para tomar posições mais arriscadas”, escreve Willem Sels, responsável pelo departamento de investimento do HSBC, no outlook do banco para este ano.
O HSBC antecipa um ano pouco positivo para as ações mundiais, notando que “a desaceleração económica global continuará a ser um elemento adverso fundamental para as ações durante algum tempo”.
Em contrapartida, os analistas do banco revelam-se otimistas em relação ao investimento em obrigações de empresas com grau de investimento, considerando que estes ativos, além de proporcionarem uma maior diversificação à carteira apresentam as yields “muito apertadas.”
Positivo em: Obrigações corporativas com elevado nível creditício (grau de investimento) e fundos de cobertura (hedge funds).
Negativo em: Ações da Zona Euro e do Reino Unido.
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