Quem disse que os jovens não querem saber do seu dinheiro?

As estatísticas dizem que os mais jovens têm pouco conhecimento e ainda menos interesse pela gestão do seu dinheiro. Em Braga, a assembleia de clientes da Casa de Investimentos mostrou o contrário.

Eram esperadas mais de 500 pessoas no Altice Forum Braga para uma palestra sobre investimento. Na verdade, era mais que isso. Tratava-se da segunda assembleia anual de clientes da Casa de Investimentos, maioritariamente subscritores do fundo plano poupança reforma (PPR) Casa Global Value PPR, atualmente com mais de 50 milhões de euros sob gestão.

Mas ao contrário do que sucedeu no ano passado, o evento deste ano prometia ter alguma tensão, dado o desempenho do PPR no último ano, que ficou marcado por perdas de 25,6%. “Foi um ano muito difícil para todos os nossos clientes”, começou por dizer Emília Vieira, CEO da Casa de Investimento, notando ainda que foi também um “ano muito difícil” para a empresa: o primeiro ano que perdeu dinheiro, “cerca de 130 mil euros”.

Entre as centenas de investidores que se deslocaram à capital minhota para ouvir as explicações de Emília Vieira e da sua equipa de gestão sobre o que correu mal no ano passado — e perceber o que podem contar para 2023 –, contavam-se dezenas de jovens na casa dos 20 e dos 30 anos de idade.

Pelas estatísticas, estes jovens investidores não deveriam ter tirado a tarde de um sábado para rumarem à “cidade dos Arcebispos” para ouvirem falar de empresas, estratégias de investimento e muito menos de uma solução de investimento para a sua reforma, como é encarado por muitos a aposta em PPR.

60% dos jovens portugueses procuram informação financeira na internet (comparando com 43% dos inquiridos não jovens) e 29% junto de amigos e família, particularmente em matérias relacionadas com ações e legislação.

São vários os fóruns e os relatórios que apontam para a pouca apetência dos jovens pela gestão do seu dinheiro, reforçando o flagelo que é a iliteracia financeira em Portugal. E a última posição que o país ocupa nos índices europeus nesta matéria. Mas não foi isso, pelo menos, que se viu no Altice Forum em Braga no último fim de semana.

Teresa Basto Lopes é disso exemplo. “Identifico-me com o investimento de longo prazo”, refere ao ECO esta advogada de 31 anos, residente em Lisboa, notando que “o investimento no PPR da Casa foi o primeiro passo que [deu] para gerir melhor o [seu] dinheiro”.

A procura dos jovens por melhores soluções para o seu dinheiro não é algo tão distante quanto possa parecer. No último inquérito da CMVM sobre literacia financeira de investidores e não investidores portugueses, financiado pela Comissão Europeia, ficou a saber-se que 60% dos jovens portugueses procuram informação financeira na internet (comparando com 43% dos inquiridos não jovens) e 29% junto de amigos e família, particularmente em matérias relacionadas com ações e legislação.

“Queria um PPR que estivesse investido a 100% em ações”, revela João Miranda, um trabalhador-estudante de 24 anos que começou a aplicar as suas poupanças no Casa Global Value PPR no final do ano passado. O mundo do investimento não é propriamente novidade para este jovem. Ao ECO, refere que a sua carteira de investimentos é ainda constituída por algumas ações e uma pequena exposição a criptoativos.

Emília Vieira, Casa de Investimentos
Emília Vieira, CEO da Casa de Investimentos, na assembleia de acionistas de 2023, a 23 de fevereiro, no Altice Forum Braga.

Poupar no presente e investir para o longo prazo

A estratégia de investimento do PPR da Casa de Investimento assenta nos princípios do investimento de valor, procurando empresas de grande dimensão a “preços de saldo”. É a mesma estratégia que Warren Buffett e o seu sócio de vida, Charlie Munger, seguem há mais de 60 anos e que lhe geraram ganhos de 20% ao ano desde 1965. O dobro do alcançado pelo mercado.

Emília Vieira é uma admiradora do Oráculo de Omaha e uma seguidora da “buffetelogia“, tal como muitos dos que encheram o grande auditório do Altice Forum Braga. “Desde que comecei a investir, há uns três anos, que tenho lido tudo o que encontro sobre o Warren Buffett e a sua metodologia de investimento”, comenta Carlos Santos, 26 anos, natural do Porto.

Para Emília e muitos dos seguidores dos princípios de Buffett, o importante não é adivinhar se as cotações sobem ou descem na próxima semana ou no próximo mês, mas procurar soluções que garantam a capitalização mais eficiente das poupanças no longo prazo. É por essa razão que pouco ou nenhuma tensão se sentiu ao longo de quase três horas do evento.

A política de investimento seguida por Emília Vieira e a sua equipa de gestão está apontada para o longo prazo. Ajuda a essa tomada de decisão o facto de cerca de 9,5% dos clientes serem menores de idade.

Nem mesmo quando Paulo Leite, investment manager da Casa de Investimentos, anunciou aos presentes que a causa principal para as perdas registadas no ano passado no PRR se deveu a uma não aposta declarada em empresas do setor da energia, o único setor que fechou com ganhos. O setor da energia valorizou 41% em 2022.

“Não se enquadram nos nossos critérios de qualidade porque, desde logo, estão dependentes de uma matéria-prima e de um preço que não controlam, estão expostas a desafios tremendos de impacto ambiental”, justificou o gestor.

No entanto, alguns investidores mostraram-se preocupados quando escutaram Paulo Leite dizer que também as energias renováveis “não são uma boa alternativa para os investidores”, apesar de notar que esta é uma das seis grandes tendências para os próximos anos.

Equipa de gestão da Casa de Investimentos
Equipa de gestão da Casa de Investimentos. Da esquerda para a direita: Paulo Leite, Igor Vieira, Emília Vieira, Pamela Macedo e João Fontes.

De acordo com a composição de fevereiro da carteira do Casa Global Value PPR, mais de um terço do fundo estava exposto ao setor tecnológico, em empresas como a Alphabet, Amazon, Microsoft e Nvidia.

A política de investimento seguida por Emília Vieira e a sua equipa de gestão está apontada para o longo prazo. Ajuda a essa tomada de decisão o facto de cerca de 9,5% dos clientes serem menores de idade.

E isso é algo que agrada à maioria dos investidores, sobretudo os mais jovens, como João Braziel, COO da Clínica Privada de Oftalmologia, em Lisboa, que confessa ter um plano automático de reforços trimestral do seu PPR e “não [se] preocupa muito em ver se o fundo está a subir ou a descer.”

No horizonte deste jovem de apenas 30 anos não está uma data nem um objetivo definido para utilizar o dinheiro que tem investido no PPR. A única coisa que tem definido em relação a este investimento é a intenção de continuar a aforrar e investir paulatinamente.

O mesmo foco é demonstrado por João Miranda e pela namorada Catarina Costa. “Vamos utilizar o dinheiro que iremos receber do IRS para reforçar no PPR”, refere Catarina, 24 anos, que é licenciada em Gestão de Empresas.

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