O “modus operandi” socialista na TAP

O governo muda o que outros fazem para estragar e, perante a incapacidade de resolver o problema que criou, procura “bodes expiatórios” para se desculpar.

A história recente da TAP é uma perfeita ilustração do que é o “modus operandi” socialista na conquista e manutenção do poder em Portugal. O PS opera em quatro fases:

  1. Critica as soluções implementadas pelos outros;
  2. Anula as decisões tomadas e origina novos problemas;
  3. Demonstra incapacidade para resolver os problemas que criou e usa “bodes expiatórios” para se desculpar;
  4. Abandona os problemas para os outros resolverem.

1 – Critica as soluções: Em 2015, os socialistas estavam em campanha para as eleições e criticaram a privatização da TAP argumentando que a empresa era muito importante para o país, porque era uma empresa estratégica e uma companhia bandeira, e porque era necessário preservar o “hub” de Lisboa e assegurar as viagens para as comunidades portuguesas que vivem no exterior e para os países que falam português.

O facto de o acordo de privatização prever tudo isto era indiferente para os socialistas. O que era inaceitável era que a TAP fosse vendida a privados pois, de acordo com o discurso, havia o perigo do “hub” de Lisboa ir para Madrid e, por isso, era Portugal que estava em causa. O que era necessário era criar polémicas e tentar facturar eleitoralmente com a confusão causada.

O PCP, com o BE “atrelado”, apoiou as críticas. Os comunistas são contra a liberdade económica e vêem o sector privado como uma ameaça à potencial clientela que os sindicatos lhe proporcionam. Ao PCP a iniciativa privada estraga o poder dos sindicatos que controlam, e ao Bloco estraga o poder dos sindicatos que gostavam de controlar, mas não controlam.

A TAP “escondia-se” atrás dos privilégios que que lhe eram dados pelo Estado português, designadamente o monopólio em muitos percursos para fora da UE e os “slots” cativos que tinha no Aeroporto de Lisboa. Mas a concorrência aberta no espaço europeu fazia crescer a pressão para que a exclusividade nos “slots” fosse abandonada, causando ainda mais desgaste à situação da TAP.

Indo contra toda a “lenga-lenga” demagógica da esquerda, o CDS, com o apoio do PSD, privatizou a TAP, uma companhia que tinha uma estrutura de custos que a tornava economicamente inviável e que não possui a flexibilidade nem a capacidade competitiva para responder ao desafio que constituíam as companhias “low-cost”, que alteraram totalmente o negócio de transporte de passageiros.

A TAP “escondia-se” atrás dos privilégios que que lhe eram dados pelo Estado português, designadamente o monopólio em muitos percursos para fora da UE e os “slots” cativos que tinha no Aeroporto de Lisboa. Mas a concorrência aberta no espaço europeu fazia crescer a pressão para que a exclusividade nos “slots” fosse abandonada, causando ainda mais desgaste à situação da TAP.

2 – Anula decisões e cria problemas: Após as eleições, António Costa anulou a privatização e nacionalizou a TAP para justificar as críticas feitas e o apoio comunista do PCP e do Bloco que viabilizaram o seu governo. Não foi só a esquerda que apoiou esta nacionalização, é bom não esquecer. Também o Chega a defendeu, fazendo coro com o radicalismo da esquerda.

Os resultados da nacionalização em 2016 são conhecidos. Costa nomeou amigos para a gestão da empresa, uma prática recorrente que é inimaginável nos países desenvolvidos, mas possível num “paraíso” socialista, com a gravidade de poderem tomar decisões em nome do Estado sem possuírem qualquer vínculo jurídico, o que é um total atropelo da lei e da ética.

Pior ainda, fez uma negociata com os accionistas privados que se mantiveram na empresa, em condições dúbias de que ainda hoje não sabemos os detalhes. O grupo Barraqueiro e David Neeleman cederam parte da sua posição a troco de algo que nunca foi claro. A negociata veio criar uma situação pouco transparente, em que investidores privados estavam dependentes das decisões do governo para os seus lucros, facto com que pareciam estar confortáveis. Ora isso só é crível se tivessem um rendimento garantido ou o risco de perda protegido pelo mesmo governo.

Os resultados da nacionalização em 2016 são conhecidos. Costa nomeou amigos para a gestão da empresa, uma prática recorrente que é inimaginável nos países desenvolvidos, mas possível num “paraíso” socialista, com a gravidade de poderem tomar decisões em nome do Estado sem possuírem qualquer vínculo jurídico, o que é um total atropelo da lei e da ética.

Os resultados da nacionalização foram pouco exemplares, como aliás são sempre que os governos se imiscuem em negócios de que nada percebem. Os prejuízos na TAP acumularam-se e somaram 160 milhões de euros entre 2016 e 2019, mostrando que a companhia estava numa situação difícil antes da pandemia apesar do enorme crescimento do turismo e dos passageiros.

Uma das razões era o excesso de pessoal na empresa. Apenas pouco mais de metade dos colaboradores estava directamente afectos à sua actividade principal, quer na operação quer na manutenção das aeronaves. A outra metade era pessoal de terra ligada aos serviços de apoio.

Outra razão era uma política salarial e de benefícios desfasada da realidade nacional, especialmente no que se refere ao pagamento de horas extraordinárias e de outras compensações para além do salário base. O salário médio dos colaboradores da TAP cresceu de 2.845€ para 4.123€ entre 2016 e 2019, evitando greves, mas fragilizando ainda mais a empresa antes de chegar o choque da pandemia. O valor em 2019 compara com uma média de 1.161€ para os trabalhadores portugueses em empresas. Ou seja, os colaboradores da TAP recebiam quase 4 vezes mais do que nas restantes empresas portuguesas.

Por estas e outras falhas de intervenção política, a fraca capacidade competitiva e de resposta aos desafios colocados pela concorrência, e os custos crescentes de uma política de pessoal e salarial irresponsáveis traduziram-se, em termos práticos, na nacionalização da má gestão e dos maus resultados da empresa, e trouxeram novos problemas para dentro do Estado, ou seja, aos contribuintes.

3 – Demonstra incapacidade e usa “bodes expiatórios” para se desculpar: Em 2020 veio a pandemia e os problemas agravaram-se e, com eles, os encargos para os portugueses. Em simultâneo, os socialistas ganharam um primeiro “bode expiatório” para esconder a sua incompetência. O confinamento deixou os aviões em terra e os prejuízos atingiram níveis estratosféricos, um valor acumulado de 3 mil M€ entre 2016 e o final de 2021.

Estratosféricos foram também os valores em dinheiro dos portugueses que o governo colocou na empresa. No total, os auxílios anunciados totalizaram quase 4 mil M€, correspondentes a duas fases diferentes, uma primeira de 1,21 mil M€ e a segunda de 2,55 mil M€, a que se juntaram posteriormente mais 178,5 M€.

Cedo se percebeu que a operação de reestruturação tinha uma componente que era apenas maquilhagem política. Houve dispensa de 1.751 colaboradores (19% do total), na sua grande maioria com contrato a termo e apenas alguns com contrato individual de trabalho.

Para a TAP receber estes auxílios, a DG Competitividade obrigou o governo a comprometer-se com uma reestruturação da empresa, com redução de despesas e de pessoal. O objectivo era tornar a empresa economicamente viável, reduzindo os enormes custos de estrutura e permitindo que o dinheiro que os portugueses nela colocaram fosse devolvido.

Cedo se percebeu que a operação de reestruturação tinha uma componente que era apenas maquilhagem política. Houve dispensa de 1.751 colaboradores (19% do total), na sua grande maioria com contrato a termo e apenas alguns com contrato individual de trabalho. Mas houve também um “acordo de emergência” com os sindicatos que foi por eles comemorado como tendo evitado a saída da grande maioria dos colaboradores prevista no plano de reestruturação. Em 2021, a empresa ainda teve 7.200 colaboradores, sendo que esse número foi reduzido em 2022.

Um dos “truques” usados no acordo foi transferir trabalhadores da TAP para a Portugália, mantendo o excesso de custos. O outro foram os cortes salariais temporários, que significam na realidade que em termos estruturais pouco mudou e a empresa não ganhou flexibilidade competitiva, adiando apenas os problemas. A Comissão Europeia apoiou tudo porque, à semelhança dos socialistas, não quer arcar com a responsabilidade de estar associada a decisões impopulares.

A consequência foi que o governo teve de assumir implicitamente a sua incapacidade para resolver o problema ao anunciar que não haveria devolução das verbas colocadas na empresa. E anunciou-o apesar das grandes companhias europeias que foram ajudadas estarem a devolver as ajudas recebidas e algumas até já o fizeram na sua totalidade.

4 – Abandona os problemas para os outros resolverem: perante a incapacidade de resolver os problemas, os que já existiam e os que o governo criou com a nacionalização, a opção socialista é agora privatizar. Como não consegue resolver os problemas, a opção é abandoná-los depois de reduzir o valor da empresa e deixar que outros os venham resolver.

A sua importância estratégica e da companhia bandeira, o “hub” de Lisboa ou as viagens para as comunidades portuguesas que vivem no exterior e para os países que falam português serviram apenas para criar confusão e justificar decisões erradas. Os eventuais lucros de 2022, ainda não confirmados, não escondem que nada mudou estruturalmente na TAP para que a empresa passasse a ser viável.

Os “bodes expiatórios” da pandemia e do acordo com a Comissão Europeia são apenas desculpas do governo para tentar esconder a sua incompetência. Mas a incapacidade em reestruturar a empresa, a indemnização paga a Neeleman, as trapalhadas com Alexandra Reis e, agora, o despedimento do chairman e da CEO da TAP, e as respectivas indemnizações que se anunciam, confirmam mais uma vez a gestão desastrosa de todo este processo feito por António Costa.

Os “bodes expiatórios” da pandemia e do acordo com a Comissão Europeia são apenas desculpas do governo para tentar esconder a sua incompetência. Mas a incapacidade em reestruturar a empresa, a indemnização paga a Neeleman, as trapalhadas com Alexandra Reis e, agora, o despedimento do chairman e da CEO da TAP, e as respectivas indemnizações que se anunciam, confirmam mais uma vez a gestão desastrosa de todo este processo feito por António Costa.

Este é o exemplo perfeito do “modus operandi” socialista. Muda o que outros fazem para estragar e perante a incapacidade de resolver o problema que criou, procura “bodes expiatórios” para se desculpar. Os socialistas são bons a passar as culpas para os outros, como se viu na bancarrota em que colocaram Portugal em 2011. Os seus “cheerleaders” tanto repetiram a mentira de que “a culpa é do Passos” que hoje ainda há muitos portugueses que acreditam nisso. Na TAP será também escolhido outro culpado.

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