Quanto vale a indústria tabaqueira em Portugal?
"Investir em Portugal: Transformação, Inovação e Competitividade" da conferência no ISCTE, onde foi apresentado um 'case study' sobre a peso económico da indústria tabaqueira em Portugal.
Quanto vale a indústria tabaqueira em Portugal? A resposta a esta pergunta foi dada no estudo desenvolvido por Luís Martins da Costa, management consulting leader at Winning Scientific Management, apresentado numa conferência que decorreu esta semana no ISCTE. Emprega mais de três mil pessoas diretamente, exporta 700 milhões de euros e paga mais de 1.1 mil milhões em impostos.
Luís Martins da Costa detalhou, assim, as principais conclusões deste estudo. Foi realçado o impacto que a Tabaqueira tem em cerca de 42.800 pessoas, como a maior empresa do setor, e o facto de 86% dos cigarros produzidos em Portugal serem exportados, sobretudo para países da União Europeia, com um volume de exportações superior a 700 milhões de euros. Mas não só. A sua contribuição em impostos para o Estado no valor de 1.178 milhões de euros e a preferência por fornecedores portugueses, a quem adquiriu cerca de 70% da matéria-prima.
Nesta conferência, em formato presencial, a abertura foi de Eurico Brilhante Dias, presidente do grupo parlamentar do PS, e contou com a presença de vários oradores: Além de Luís Martins da Costa, management consulting leader at Winning Scientific Management, participaram também Mafalda Vasconcelos, executive board member na EDP Comercial, Marcelo Nico, general manager na Tabaqueira, Nuno Fernandes Thomaz, presidente da Centromarca e administrador da SOGEPOC, Rui Vinhas da Silva, ex-presidente do COMPETE e membro da comissão executiva do ISCTE Executive Education, e Vítor Coelho, public affairs director The Navigator Company. O debate foi moderado por Isabel Canha, fundadora e diretora da Executiva.pt e a conferência foi encerrada por José Crespo de Carvalho, presidente da comissão executiva do ISCTE Executive Education.
Nas suas notas de abertura, Eurico Brilhante Dias destacou a competitividade como uma das questões centrais e os desafios de captar investimento estrangeiro e aumentar as exportações, bem como a necessidade de Portugal ter de fazer crescer o peso das exportações no PIB e se afirmar como um produtor de bens com maior valor acrescentado.
Rui Vinhas da Silva defendeu uma economia mais competitiva, mais exportadora e atrativa ao investimento estrangeiro, salientando que Portugal está entre as regiões menos desenvolvidas no que diz respeito ao PIB per capita e chamou a atenção para os fatores que alavancam verdadeiramente as economias dos países mais competitivos: sofisticação e inovação, vincando outro fator decisivo para a competitividade: a retenção de talento nacional.
Seguiu-se o debate com a participação de Mafalda Vasconcelos, Marcelo Nico, Nuno Fernandes Thomaz e Vítor Coelho, com a moderação de Isabel Canha.
Mafalda Vasconcelos mencionou os principais desafios que a EDP enfrenta, tendo a descarbonização como prioridade ao longo dos últimos 15 anos, mas salientou que a transição energética tem de ser justa e que a empresa vai investir 300 milhões de euros em todo o mundo para empoderar sociedades.
Vítor Coelho salientou a importância da floresta na base da cadeia de valor e o facto do sucesso da Navigator não assentar só na matéria-prima, mas também numa estratégia que assenta em vender produtos premium, apostar em ativos industriais e na excelência dos trabalhadores e também na investigação e no desenvolvimento. Para Vítor Coelho, temos de olhar para a floresta como uma riqueza nacional e não apenas quando há incêndios no verão, que surgem nas áreas abandonadas, que correspondem a 30% do total de florestas.
Nuno Fernandes Thomaz realçou a transição climática e o envelhecimento da população como grandes desafios em Portugal. Bem como o facto de termos de fazer mais pela soberania alimentar e a importância do apoio social e na saúde ter de continuar a crescer. Para Nuno Fernandes Thomaz é crucial as empresas apostarem na competitividade. E que a falta de escala, massa crítica, qualidade de gestão e de tecnologia e recursos humanos são impedimentos para o seu crescimento.
Para Marcelo Nico ,as conclusões do estudo foram surpreendentes em alguns pontos. Números têm vindo sempre a crescer, mesmo após o estudo. “O nosso objetivo é deixar de vender cigarros e vender produtos menos nocivos para os consumidores. Todos os setores estão a ser transformados, incluindo o nosso”. O intuito é continuar a investir no talento, garante o gestor. A Tabaqueira investe 15 milhões de euros em cada ano em Portugal e quer continuar a apostar na sustentabilidade.
Sobre a questão e o desafio de como Portugal pode recuperar depois de ter sido ultrapassado nos rankings por vários países e sobre quais são os fatores competitivos que temos e quais os principais entraves, Mafalda Vasconcelos deu relevância ao envelhecimento da população, mas apontou a transição energética como uma oportunidade.
"Como país, como setor público e privado, devemos continuar a apostar nas energias renováveis e continuar a apostar na diferenciação do produto para gerar mais competitividade.”
Na opinião de Vítor Coelho, a demografia é o desafio estratégico mais importante que o país enfrenta atualmente. As previsões são de que a população portuguesa desça para 7 milhões de pessoas. “Há que apostar na investigação e na inovação e desenvolvimento. Já fomos ultrapassados por vários países em termos de PIB. Há que reduzir a carga fiscal nas empresas e também nos cidadãos e criar uma cultura de crescimento. Crescer não apenas em Portugal mas também lá fora, apostar em clusters como energias verdes, digitalização e inteligência artificial”.
"Há que apostar na qualidade de vida para fixar pessoas, nomeadamente jovens quadros (mesmo que trabalhem para empresas fora do país). Há que tirar partido da ponte que somos com os EUA e com África.”
Para Nuno Fernandes Thomaz, há que apostar na formação e pagar mais às pessoas. E apostar nas marcas nacionais, ter marcas mais fortes e que garantam história, reputação e qualidade.
"Não podemos continuar a deixar que quem é bom vá para fora, há que reter talentos. Há que baixar o IRC para atrair investimento estrangeiro.”
Marcelo Nico destacou a necessidade de apostar no talento português, nas pessoas. A inclusão e a diversidade também são fundamentais: fazer com que as pessoas se sintam integradas nos locais onde trabalham e garantir igualdade de género.
"É preciso que as empresas percebam que é importante investir em Portugal.”
À questão colocada por Isabel Canha sobre que medidas tomariam para transformar a competitividade, caso fizessem parte do Governo, Mafalda Vasconcelos referiu políticas ativas de mobilidade, a aposta nos painéis solares tanto nos edifícios públicos como privados, o facto de a solução estar também no setor privado e ter de haver diálogo entre todos os stakeholders, para que estejam abertos a uma visão rápida de crescimento e investir na digitalização para que alguns processos ocorram mais rapidamente.
Para Vítor Coelho a redução da carga fiscal é fundamental, a requalificação da força de trabalho, bem como as competências de gestão dos empresários das mais diversas áreas. A aposta nas logísticas portuárias e ferroviárias e a definição da linha estratégica de onde queremos crescer e captar jovens de fora para dentro.
Nuno Fernandes Thomaz salientou a redução de impostos, maior enfoque nas pessoas e perceber quais são os clusters e onde é que Portugal pode ser competitivos.
Marcelo Nico referiu a necessidade de incentivar o investimento estrangeiro, continuar a investir no desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia, haver maior flexibilidade, tanto para ter trabalhadores estrangeiros a trabalhar para cá como trabalhadores portugueses a trabalhar para fora a partir de cá e atrair estrangeiros para trabalhar em Portugal.
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