Lacerda Machado foi quem mais recorreu à consultoria milionária de Fernando Pinto na TAP

Fernando Pinto recebeu 1,2 milhões de euros por serviços de consultoria na TAP após deixar a liderança. Miguel Frasquilho afirma que Diogo Lacerda Machado foi quem mais recorreu ao apoio do ex-CEO.

Depois de deixar o cargo de CEO da TAP, Fernando Pinto ficou como consultor da companhia, contrato com o qual ganhou 1,2 milhões de euros. Miguel Frasquilho revelou na comissão parlamentar de inquérito à TAP que o antigo administrador Diogo Lacerda Machado, amigo do primeiro-ministro, foi quem mais recorreu à consultoria do antigo gestor. O ex-presidente do conselho de administração deixou também elogios à estratégia de David Neeleman para a transportadora.

A questão partiu da deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, que esta quinta-feira questionou Miguel Frasquilho sobre o contrato de consultoria que diz ter rendido “67 mil euros por mês e 812 mil euros por ano” a Fernando Pinto, mais do que ganhava como presidente executivo. O antigo chairman respondeu que recorreu aos serviços do ex-CEO mas que Diogo Lacerda Machado, também membro da administração, recorreu “bastantes mais vezes”.

Frasquilho afirmou que Fernando Pinto era questionado sobre temas como a estratégia a seguir ou a configuração das aeronaves a adquirir, mas que as consultas eram “informais”. “Não consigo apresentar documentos escritos que documentem” estes contactos, afirma. “Diria que diariamente será um manifesto exagero e mensal também será. Talvez no meio, mas não lhe sei precisar”, respondeu quando questionado sobre o número de vezes que Fernando Pinto tinha estas interações na TAP.

O antigo chairman da companhia, entre junho de 2017 e junho de 2021, afirmou ainda que o contrato com Fernando Pinto foi feito pela comissão executiva, liderada pelos representantes da Atlantic Gateway, sem a sua intervenção.

Elogios para a estratégia de David Neeleman

Miguel Frasquilho deixou na sua audição elogios à estratégia e ao plano de negócios desenhado pelos acionistas privados, a Atlantic Gateway de David Neeleman e Humberto Pedrosa, que entraram no capital da companhia em 2015. “Quando iniciei funções o plano de negócios estava bem delineado e a estratégia parecia fazer todo o sentido”, afirmou.

Antes mesmo de entrar na TAP, David Neeleman negociou com a Airbus a desistência de uma ordem de 13 A350, com que a companhia queria voar para vários destinos, incluindo a Ásia, e a compra de 53 novas aeronaves das famílias A320 e A330, onde se incluem as aeronaves que a companhia usa nas rotas para o Brasil ou os EUA. “A troca de aeronaves fez sentido”, anuiu o antigo administrador aos deputados.

O antigo presidente do conselho de administração diz que “nunca teve indicação” de que os 53 aviões “tivessem sido comprados acima do valor de mercado”, como conclui uma análise da Airborne Capital, feita em 2022 a pedido da TAP. Para Miguel Frasquilho, “nenhum lessor [os financiadores] iria financiar aeronaves que estivessem acima do preço do mercado”.

No âmbito do negócio de compra dos aviões, a Airbus deu 227 milhões de dólares a uma empresa de David Neeleman, que foram transferidos para a Atlantic Gateway, servindo para esta capitalizar a TAP na privatização de 2015. “A questão dos fundos Airbus não tive dela conhecimento e nunca foi tema na minha permanência na TAP”, disse Frasquilho.

A comissão parlamentar de inquérito para “avaliar o exercício da tutela política da gestão da TAP” foi proposta pelo Bloco de Esquerda e aprovada pelo Parlamento no início de fevereiro com as abstenções de PS e PCP e o voto a favor dos restantes partidos. Nasceu da polémica sobre a indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis para deixar a administração executiva da TAP em fevereiro de 2022, mas vai recuar até à privatização da companhia em 2015. Tomou posse a 22 de fevereiro, estendendo-se por um período de 90 dias.

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