Cuidado com as promessas de “almoços grátis” na bolsa

Maio traz consigo o velho adágio "Sell in may and go away". Apesar de vários estudos apontarem para os seus feitos, na carteira dos pequenos investidores está longe de se traduzir numa refeição farta.

Há um velho adágio em Wall Street que aponta para que os investidores vendam a sua carteira de ações em maio e só voltem ao mercado no final de outubro. Entre os investidores, este axioma é conhecido como “Sell in May and Go Away”.

Segundo o Stock Trader’s Almanac, os piores seis meses do ano para o índice acionista norte-americano S&P 500 começam em maio e vão até outubro. O almanaque dos mercados diz que, olhando para a evolução do mercado desde 1950, um investimento de 10 mil dólares no Dow Jones Industrial Average resultaria numa carteira de 1,13 milhões de dólares se tivesse sido investido apenas entre 1 de novembro a 30 de abril.

Mas, fazendo o inverso, investindo entre 1 de maio e 31 de outubro, esse mesmo investimento de 10 mil dólares teria aumentado apenas 3.422 dólares, assumindo que o dinheiro foi investido em obrigações nos outros seis meses.

Em Lisboa, este adágio é também notado, com o PSI a servir “almoços grátis” para os investidores que têm procurado captar esta “brecha” do mercado.

De acordo com um trabalho académico de Cherry Y. Zhang e Ben Jacobsen, publicado em outubro de 2018, que teve como análise o comportamento dos mercados acionistas de 65 países (Portugal incluído), o fenómeno “Sell in May and Go Away”, “é notavelmente robusto”.

Segundo os académicos, a estratégia “Sell in May and Go Away” gerou retornos, em média, 4% mais elevados durante o período de novembro-abril do que durante maio-outubro na maioria dos 65 países analisados por Zhange e Jacobsenentre 1919 a 2017.

Para o mercado nacional, que teve como ponto de análise o período de outubro de 1998 a abril de 2017, os resultados a que chegaram os investigadores são claros: um investidor que se mantivesse no mercado durante todo este período teria alcançado perdas anuais médias de 2,7%; mas se tivesse seguido os princípios da estratégia “Sell in May and Go Away” teria registado ganhos de 4,7% anualmente. É uma diferença abismal.

Os números parecem dar força a uma estratégia ativa no PSI, saindo e entrando no mercado à medida que os “almoços grátis” começam a ser servidos. Mas cuidado com oferenda.

Estes resultados não têm em conta a tributação sobre as mais-valias e nem sobre os dividendos distribuídos pelas ações; nem têm em conta as comissões associadas à negociação dos títulos.

E essa situação não é uma nota de rodapé na carteira dos pequenos investidores, sobretudo se os portefólios e as ordens de compra forem de pequenas dimensões. Tanto as comissões como os impostos têm um impacto tremendo na rendibilidade de uma estratégia.

Por isso, se está a contar com um almoço grátis na Euronext Lisboa, faça bem as contas e, acima de tudo, não se iluda: não há uma bola de cristal capaz de prever se a Bolsa sobe ou desce.

Tentar adivinhar para onde vai o mercado não funciona e pode correr muito mal.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Cuidado com as promessas de “almoços grátis” na bolsa

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião