Do linear para o circular: Repensar os pilares do nosso modelo económico

  • Inês Santos
  • 17 Maio 2023

À medida que o mundo se confronta com a degradação ambiental e o esgotamento dos recursos, as falhas do nosso modelo económico.

Sendo já palpáveis as consequências associadas a um planeta em desequilíbrio, são cada vez mais os que apelam a uma reformulação dos pilares do sistema atual. Este sistema é sustentado por uma abordagem linear de “take-make-waste“, que se baseia na extração de recursos naturais, na produção de bens e na sua eventual eliminação como resíduos. Se é verdade que este sistema tem sido uma das forças motrizes do nosso crescimento económico, também é verdade que tem vindo a contribuir fortemente para a dupla crise das alterações climáticas e perda da biodiversidade.

Desde 1970, a utilização dos recursos triplicou, podendo novamente duplicar até 2050 caso a produção e consumo atuais se mantenham constantes. É neste âmbito que surge pertinentemente o conceito de economia circular, enquanto sistema que pretende maximizar a eficiência dos recursos e minimizar os resíduos, defendendo uma abordagem que valoriza todo o ciclo de vida dos produtos e recursos. Em termos simples, a economia circular propõe um sistema regenerativo, no qual os recursos são utilizados, reutilizados e reciclados num sistema de ciclo fechado (closed-loop systems), contribuindo para a minimização do desperdício e impacte ambiental.

Esta transição de uma economia de base linear para uma economia circular não só é necessária para garantir a sustentabilidade ambiental, como também oferece enormes benefícios económicos. Ao adotar princípios de circularidade, as organizações podem poupar recursos, reduzir custos e entrar em novos mercados. A abordagem da economia circular representa, assim, uma oportunidade para as empresas repensarem as suas operações e criarem valor, prolongando a vida útil dos produtos e materiais, reduzindo os resíduos e reutilizando os recursos.

Mas a economia circular vai além da simples redução de resíduos e da reciclagem de materiais. Trata-se de uma abordagem holística da sustentabilidade que tem em consideração não só fatores ambientais como também fatores sociais, defendendo a criação de sistemas de distribuição mais equitativos.

Naturalmente, alterar os pressupostos do atual modelo de produção e padrões de consumo não é tarefa fácil, exigindo uma mudança de mentalidades, como também uma mudança dos incentivos. A readaptação para modelos de negócio centrados na reutilização e reparação, assim como os novos modelos da chamada Economia da Partilha, oferecem benefícios e oportunidades económicas que podem vir a sentir-se de forma desfasada no tempo e, por vezes, apenas indiretamente, pelo que a adoção de políticas públicas que criem incentivos financeiros mais imediatos, capazes de impulsionar a mudança e os investimentos necessários, é por muitos considerada fundamental.

Outro grande obstáculo centra-se na pouca sensibilidade e compreensão dos princípios da economia circular entre as empresas e os consumidores, o que realça a necessidade de iniciativas de educação e sensibilização para fomentar a adoção de práticas circulares. Neste âmbito, os próprios consumidores têm um papel chave a desempenhar, papel este que é, muitas vezes, subestimado. Estes podem influenciar as estratégias e práticas empresariais, ao exigirem produtos e serviços mais sustentáveis e circulares. Ao reformularem as suas preferências, os consumidores são capazes de orientar o mercado para abordagens mais circulares. Por outro lado, os consumidores podem desempenhar um papel ativo no prolongamento da vida útil dos produtos através da reparação, reutilização e reciclagem, promovendo uma utilização mais sustentável dos recursos. É, no entanto, essencial assegurar a capacitação dos consumidores para os princípios e benefícios da economia circular, bem como das ferramentas e conhecimentos necessários, de forma a viabilizar escolhas informadas e conscientes.

Ao abraçar estes princípios, abrimos um caminho promissor para um futuro mais sustentável e equitativo. Esta transição exigirá colaboração, inovação, uma vontade de desafiar o status quo e a conscientização de todos – governos, organizações e sociedade civil -, para o papel exigente que têm a desempenhar.

  • Inês Santos
  • Circular Economy Club Lisboa

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