BRANDS' ECO “A UE deve criar um ambiente regulatório e de investimento favorável à adoção de tecnologias limpas”

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  • 22 Junho 2023

Lídia Pereira defende que Portugal é um dos líderes europeus na transição para a energia limpa, mas enfrenta desafios como o investimento em infraestruturas e tecnologia para as renováveis.

Lídia Pereira, membro do Parlamento Europeu, e uma das oradoras do segundo webinar do ciclo Reshaping Europe to Build a More Sustainable Future, promovido pela Deloitte Portugal, comenta, em entrevista, o estado-da-arte da transição energética na Europa e em Portugal.

Lídia Pereira, membro do Parlamento Europeu
Portugal revela um potencial crescente para a produção de energias renováveis. Como é que isso posiciona o país entre os países europeus que estão a responder à crise energética e à emergência da ação climática?

A minha avaliação é que Portugal tem feito grandes avanços na produção de energia renovável e que tem uma capacidade crescente de produzir a partir de pontos renováveis, principalmente no que diz respeito à energia eólica e à solar. Em 2022, cerca de 60% da eletricidade consumida em Portugal foi gerada a partir de fontes renováveis. Estes dados colocam o país como um dos líderes europeus na transição para a energia limpa.

Esta transição acaba por ser fundamental para a adaptação às consequências da crise energética que se tem verificado e, claro, tem uma dupla função, a mitigação dos efeitos das alterações climáticas. A meu ver, a produção de energia renovável pode trazer outros benefícios económicos e sociais, nomeadamente na criação de empregos.

Que obstáculos há que superar para desbloquear definitivamente a transição?

A guerra na Ucrânia mostrou a vulnerabilidade do continente europeu quanto ao fornecimento de combustíveis fósseis para a produção de energia. Esta transição energética também se tornou prioritária para que a Europa possa ser mais independente em termos de energia.

Portugal tem um posicionamento privilegiado porque tem uma grande capacidade em conseguir dar mais para as redes europeias do ponto de vista energético. Mas continua a haver desafios, como os investimentos em infraestruturas e tecnologia para a produção e distribuição de energia renovável, principalmente nas áreas mais remotas do país.

Outra prioridade é a necessidade de políticas públicas claras e estáveis que incentivem a produção de energia renovável e reduzam a dependência dos combustíveis fósseis. E creio que este é um dos pontos em que Portugal tem falhado, nomeadamente no que diz respeito ao avanço nas interligações energéticas entre a Península Ibérica e o resto da Europa, ou à investigação e desenvolvimento (I&D) na área das tecnologias limpas.

Face ao risco de a Europa ser ultrapassada pelos EUA, como está a ser conduzida essa área das cleantech a nível europeu?

A Europa tem a tecnologia e a inovação para liderar a transição para uma economia de baixo carbono. A grande dificuldade dá-se depois, com o scale up. Há um ecossistema dinâmico na área das startups e das cleantech, mas também obstáculos que dificultam ganhar escala para dinamizar a exportação da tecnologia já existente.

Um outro comentário tem a ver com os desenvolvimentos da Europa no domínio dos painéis solares, para depois deixar escapar esse conhecimento para outras regiões do globo, em particular a China, e como isso nos colocou numa situação de vulnerabilidade, isto porque hoje estamos, de certa forma, reféns por essa via. Refiro estes dois aspetos como ponto de partida para que a União Europeia não cometa alguns erros do passado.

Num contexto em que é evidente que há a concorrência dos Estados Unidos (e o lnflation Reduction Act vai muito nessa linha), é importante que a UE seja capaz de criar um ambiente regulatório e de investimento favorável à adoção de tecnologias limpas.

Em que fase está Portugal nesta matéria?

Portugal tem investido em tecnologias limpas e tem um ecossistema em crescimento de soluções cleantech, mas continua muito abaixo nas áreas de l&D. É fundamental apostar em políticas públicas e que o Estado seja congruente com o que vem advogando para o setor privado. E é também importante criar um ambiente que seja favorável à inovação e aos investimentos e que consiga atrair para o nosso país empreendedores focados em cleantech.

Qual a importância da proposta Net Zero lndustry Act para a reindustrialização da Europa e a criação de emprego?

Esta proposta tem como objetivo garantir que a indústria europeia evolua e se torne neutra em termos de emissões de CO2 até 2050. Essa transição pode trazer benefícios significativos na criação de empregos e para a economia, em geral, principalmente através da expansão das cleantech e da baixa emissão de carbono.

Portugal tem o desafio de conseguir ajustar toda esta transição. As indústrias que são intensivas em energia, como a siderúrgica ou a petroquímica, podem ter de enfrentar desafios para a adoção de tecnologias limpas e de baixa emissão de carbono, e podem precisar de apoio financeiro para se adaptarem a essa transição.

Como avalia o impacto do aumento de preço da energia nas famílias e na competitividade das empresas?

É óbvio que o aumento nos custos de energia pode gerar um aumento nos custos de produção e ter um impacto significativo na competitividade das empresas, especialmente das intensivas em energia, e temos assistido à dificuldade em que muitas se encontram. Mas é importante relembrar que a competitividade não é apenas determinada pelo preço de energia. A eficiência energética, a adoção de tecnologias limpas e a diversificação das fontes de energia também são fatores importantes para a competitividade, numa lógica de longo prazo. E eu diria que é aí que Portugal deve apostar e se deve distinguir no contexto europeu.

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