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“Existe hoje um maior escrutínio da sociedade em relação às empresas”

António Lagartixo é o CEO da Deloitte, promotora dos IRGAWards, e, em entrevista por escrito, explica os objetivos da iniciativa que premeia os líderes e as organizações no mercado de capitais.

Existe hoje um maior escrutínio da sociedade em relação às empresas e organizações cujos produtos ou serviços consomem, e com quem se relacionam. É cada vez mais importante as empresas fomentarem um clima de responsabilidade em relação ao seu impacto social e ambiental“, afirma António Lagartixo em entrevista por escrito ao ECO. É neste contexto que o gestor, managing partner da Deloitte, explica os objetivos dos IRGAwards, na sua 35º edição.

“Building better futures, Together” é o tema da edição deste ano do IRGA. Porquê?

Os Investor Relations and Governance Awards (IRGAwards) são um meio para promover e distinguir o desempenho de líderes e organizações no mercado de capitais e na sociedade em geral, ou seja, são uma oportunidade para reconhecer o contributo de cada um para um benefício que se quer partilhado e multiplicado. Queremos também que estes prémios sejam um momento de reflexão, uma forma de repensar o futuro, e no clima de incerteza em que vivemos, é indispensável que façamos esse caminho juntos, procurando inovação e soluções para enfrentar os desafios que as organizações – e as pessoas – têm pela frente.

A minha expectativa é que os IRGAwards inspirem cada vez mais organizações a agir de forma responsável para a melhoria do mercado, mas também da sociedade como um todo, o que inclui os seus impactos sociais e ambientais, a adoção de princípios éticos sólidos, estratégias de responsabilidade social corporativa, educação e consciencialização sobre a importância do governance corporativo no mercado de capitais.

No último ano, as organizações, privadas e públicas, contribuíram para a melhoria da qualidade de vida das pessoas ou sente que ficaram aquém do que lhes era exigido?

Antes de mais, penso que será consensual a ideia que as organizações têm pelo menos a intenção ou o objetivo de contribuir para melhorar a vida das pessoas, da comunidade em que se inserem e da qual também dependem.

Existe hoje um maior escrutínio da sociedade em relação às empresas e organizações cujos produtos ou serviços consomem, e com quem se relacionam. É cada vez mais importante que as empresas fomentem um clima de responsabilidade em relação ao seu impacto social e ambiental, e muitas têm-no feito, e têm-se apercebido de que é uma mais-valia e não apenas uma obrigação a cumprir.

Acabámos de sair de um ano em que as maiores empresas da bolsa portuguesa obtiveram lucros de quase 13 milhões de euros por dia – no contexto de aumento da inflação e das taxas de juro e de incerteza quanto ao futuro, estes números podem parecer um pouco desproporcionais, mas não podemos esquecer que são estas as empresas que estão a trazer mais inovação e desenvolvimento ao país e a contribuir para a criação de emprego – tudo razões para estarmos otimistas.

Temos um contexto de muitos desafios: subida dos juros, inflação ainda elevada, muita incerteza geopolítica e ameaça de desaceleração pronunciada da economia. As lideranças estão preparadas e a reagir bem a estas mudanças?

Existe um sentimento generalizado de descrença ou pessimismo relativo à economia global e até na própria evolução do nosso modelo de sociedade. No entanto, e de um modo geral, podemos constatar que face à complexidade dos desafios que temos enfrentado são vários os indicadores que estão melhor do que prevíamos. Tome-se como exemplo o facto de as economias europeias e norte americanas não terem entrado em recessão, a estabilidade do mercado de trabalho ou o decréscimo progressivo da inflação ao longo dos últimos meses.

Na perspetiva nível nacional, é indiscutível que continuam a existir inúmeros desafios, mas os indicadores económicos demonstram que o país está melhor quando comparado com as décadas precedentes, e acredito que os desafios de crescimento são oportunidades que, graças à resiliência da economia e das empresas portuguesas, vamos conseguir aproveitar.

As previsões de evolução da economia portuguesa são positivas para o próximo ano, e como pode ser verificado pelas iniciativas e líderes que estão em destaque nos IRGAwards, há muitas razões para estarmos otimistas em relação ao futuro. Exemplos concretos, que conheceremos hoje, de diversificação, flexibilidade e investimento em inovação são cada vez mais prevalentes.

As empresas que procuram novas oportunidades de otimizar processos, investir em novas tecnologias e produtos que possam aumentar a eficiência operacional e impulsionar a competitividade, as que mantêm uma estrutura flexível e adaptável de modo a responder rapidamente a mudanças no ambiente de negócios – e, claro, as que apostam na valorização do seu talento, promovendo uma cultura de inovação e comunicação clara – são aquelas que estarão melhor preparadas para lidar com os desafios de uma economia em constante mutação.

Os temas da sustentabilidade e da transformação voltam a ter destaque nesta edição. As candidaturas para estes prémios demonstram uma melhoria na qualidade dos projetos em Portugal nestas áreas?

Sem dúvida que o crescimento da economia e das empresas portuguesas deve estar associado a estas duas dimensões – e as organizações que consigam construir uma visão que combine as ambições e objetivos de transformação digital e de sustentabilidade, serão as que se conseguirão posicionar de forma mais competitiva no mercado, sendo capazes de potenciar o valor criado pelos seus processos de transformação.

Temos muitos bons exemplos dessas práticas nesta edição dos IRGAwards e esperamos poder atuar como um estímulo para que o tecido empresarial português continue a caminhar nesse sentido.

O futuro ditará quem terá sucesso e quem ficará infelizmente pelo caminho, mas penso que seja claro neste momento que tanto a sustentabilidade como a transformação serão pilares fundamentais para competir não só no futuro como também no presente.

Os IRGA vão na sua 35.ª edição. Estes prémios têm ajudado a melhorar as práticas de governance e o mercado de capitais em Portugal? O que falta fazer?

Esta cerimónia é um instrumento de promoção e distinção dos desempenhos dos líderes e das organizações no mercado de capitais e no mercado financeiro português. Atribuímos estes prémios há 35 anos porque sabemos que o desenvolvimento e competitividade do mercado são fundamentais para assegurar o crescimento económico e, dessa forma, facilitar o financiamento privado da transformação e inovação, e também uma melhor gestão do risco.

Para promover as organizações e as personalidades que mais e melhor contribuíram para o funcionamento, eficiência e transparência do mercado, estes prémios têm evoluído ao longo dos anos na sua metodologia e abrangência. E, nesta edição, a base de elegíveis foi ampliada para refletir o crescente número de organizações que atualmente geram um impacto significativo na economia portuguesa.

Nos IRGAwards procuramos igualmente analisar os atuais desafios na liderança das organizações, o comportamento dos investidores e a evolução dos mercados globais, o que nos tem oferecido conclusões bastante relevantes sobre a forma como o mercado de capitais e as práticas de governance estão a evoluir no nosso país.

Para além disso, numa perspetiva de melhoria contínua, para fortalecer o nosso mercado é importante continuar a incentivar mais empresas a entrar no mercado de capitais, promover a diversidade nos conselhos de administração, investir na formação em governance e comunicar de forma mais transparente com os vários stakeholders, incluindo reguladores, empresas, investidores e organizações da sociedade civil.

 

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