BRANDS' ECO Ciclo de Conversas #9 – Financiamento

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  • 21 Julho 2023

A penúltima sessão do "Ciclo de Conversas - Rumo à Neutralidade Carbónica 2030", organizada pela CM Porto, teve como tema "Financiamento". O evento decorreu no Porto Innovation Hub.

O “Ciclo de Conversas – Rumo à Neutralidade Carbónica 2030” é uma iniciativa organizada pela Câmara Municipal do Porto, que conta com 10 sessões de esclarecimento e debate relacionadas com os temas da sustentabilidade, descarbonização e transição climática no contexto da neutralidade carbónica das cidades. A nona sessão aconteceu na passada quinta-feira, dia 13 de julho, no Porto Innovation Hub, e teve como tema “Financiamento”.

Rui Couto Viana, Professor Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, foi o moderador do evento, que contou com a presença de Sofia Santos, Fundadora da Systemic; Rita Oliveira, Diretora de Marketing e Comunicação da GoParity; e Miguel Gouveia, Diretor de Área da Direção de Experiências de Empresas – Financiar o Crescimento, do Banco BPI.

Cada um dos oradores teve direito a uma intervenção, seguida de um espaço de debate e de esclarecimento com o público presente.

“Todos nós percebemos que o tempo é uma corrida e percebemos que o dinheiro é fundamental. Temos que encontrar alternativas de financiar todo este processo rumo à neutralidade carbónica. É o momento de todos nós, em diferentes planos, atuarmos para chegarmos ao objetivo que pretendemos”, começou por dizer Rui Couto Viana, na abertura da sessão.

Riscos climáticos dificultam financiamento

A primeira intervenção desta penúltima sessão ficou a cargo de Sofia Santos, que alertou para o facto de que qualquer empresa que queira aceder ao financiamento sustentável, seja grande ou PME, “vai ter de começar a reportar como são as suas boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG – Environmental, Social and Governance) porque essas práticas serão um fator decisivo para quem está a analisar o empréstimo”.

Os bancos vão ter como estímulo emprestarem dinheiro a quem tenha os menores impactos ambientais“, continuou, ao mesmo tempo que referiu um estudo do BCE que tentou identificar qual a exposição das economias aos riscos físicos climáticos, que são os impactos que uma cheia, uma seca, etc, podem ter. “Verificamos que Portugal é um dos países europeus com maior risco climático. Isto significa que o país deve criar adaptação às alterações climáticas e desenvolver os mecanismos de resiliência”, afirmou.

A fundadora da Systemic disse, ainda, que os bancos “não gostaram muito” destes resultados, isto porque “se Portugal tiver mais risco climático, isso também significa maior risco financeiro, logo os empréstimos não serão feitos tão facilmente e o dinheiro vai custar mais“.

Na mesma lógica, Sofia Santos explicou, também, a relação entre o aumento da temperatura (risco climático) e o aumento do PIB mundial: “Num cenário em que a temperatura aumenta 2.6°C até 2050 o que se espera é que o PIB mundial decresça 14% e a nível europeu desça 8%. Quero dizer com isto que há uma parte da teoria económica que nós não estamos a incluir, que é perceber que se a temperatura aumenta, o PIB diminui“.

O papel dos investidores

“O papel da GoParity é fazer com que investidores individuais façam a transição e movam o dinheiro que está a ser emprestado a indústrias de combustíveis fósseis para projetos que evitam CO2 ou até que capturam carbono“, começou por dizer Rita Oliveira, durante a segunda intervenção.

A GoParity é uma plataforma de crowdlending só para projetos sustentáveis. Nesse sentido, a diretora de marketing e comunicação da empresa explicou que, “de um lado há empresas que procuram financiamento e do outro há as pessoas que querem investir”. “As pessoas emprestam dinheiro a estas empresas que procuram financiamento e que depois devolvem o dinheiro com juros. A vantagem é que, a par do recebimento dos juros e a par do investimento, cada pessoa consegue monitorizar o impacto relativo do seu investimento“, acrescentou.

Apesar de terem começado com projetos de energia solar para autoconsumo, nos quais estavam inseridas as comunidades de energia, a plataforma tem agora trabalhado com empresas privadas: “Algumas das empresas com quem trabalhamos têm acesso a este financiamento do PRR e a outros, mas precisam de apoio de tesouraria para dar início a estes projetos e é aqui que nós entramos“.

Os apoios públicos e a importância dos bancos na divulgação

“Em termos de apoios públicos, nos próximos anos, vai haver muito dinheiro. Estamos a falar de cerca de 50 mil milhões de euros, dos quais 15 mil milhões são diretamente para as empresas, mas todos sabemos que este dinheiro não vai ser suficiente e que as empresas vão precisar de fundos próprios e de capital alheio”, referiu, por sua vez, Miguel Gouveia.

Neste ponto, o responsável do BPI destacou o papel dos bancos no apoio às empresas nesta transição: “Nós achamos que o papel dos bancos não deve ser apenas financiar, deve ter duas vertentes: a primeira é informar, reforçar e dinamizar todos os ecossistemas ligados com os fatores da sustentabilidade e, depois, financiar”.

De forma a tornar mais ágil e prático este processo de encontrar os apoios disponíveis, o BPI disponibilizou uma plataforma de acesso universal e gratuito para todas as empresas, na qual estão reunidos todos os apoios públicos que há para empresas, quer nacionais, quer a nível europeu. “A ideia era juntar a informação sobre todos estes apoios num só lugar, numa só plataforma”, disse.

Nesse sentido, o banco criou, ainda, três linhas BPI: uma linha de crédito que pretende apoiar as empresas na transição para a sustentabilidade, financiando PME que privilegiem fatores ESG na sua estratégia e/ou nos seus investimentos; uma linha de crédito tendo em vista o financiamento de projetos de eficiência energética realizados em território nacional por empresas residentes e a operar em Portugal e uma outra linha que destina-se ao financiamento de PME, Small Mid-Cap e Pequenas Empresas do Setor Público, com viabilidade económica a longo prazo, que necessitem de apoio financeiro para a realização de investimentos focados na transição sustentável, na digitalização e inovação e no apoio aos setores cultural e criativo.

“Todas estas linhas têm como objetivo financiar os investimentos ou apoiar empresas que se querem comprometer em atingir determinados rácios de sustentabilidade“, concluiu.

Pode, ainda, ouvir em conferência em podcast:

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