BRANDS' ECO Ciclo de Conversas #10 – Soluções de base natural
A última sessão do "Ciclo de Conversas - Rumo à Neutralidade Carbónica 2030", organizada pela CM Porto, teve como tema "Soluções de base natural". O evento decorreu no Porto Innovation Hub.
O “Ciclo de Conversas – Rumo à Neutralidade Carbónica 2030” é uma iniciativa organizada pela Câmara Municipal do Porto que conta com 10 sessões de esclarecimento e debate relacionadas com os temas da sustentabilidade, descarbonização e transição climática no contexto da neutralidade carbónica das cidades. A décima sessão aconteceu na passada quinta-feira, dia 19 de julho, no Porto Innovation Hub, e teve como tema “Soluções de base natural”.
Pedro Pombeiro, Diretor do Departamento de Planeamento e Gestão Ambiental da Câmara Municipal do Porto, foi o moderador do evento, que contou com a presença de Nuno Oliveira, CEO & Managing Partner da NBI – Natural Business Intelligence; Cristina Calheiros, Vice-Presidente da Associação Nacional de Coberturas Verdes; e José Lameiras, Professor Auxiliar na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Cada um dos oradores teve direito a uma intervenção, seguida de um espaço de debate e de esclarecimento com o público presente.
“As soluções de base natural são uma das ferramentas mais promissoras para enfrentar alguns desafios. Um pouco por toda a Europa, elas estão a expandir-se. Além de permitirem regenerar ecossistemas, estas soluções também promovem uma maior adaptação dos territórios às alterações climáticas e também geram receita“, começou por dizer Pedro Pombeiro, Diretor do Departamento de Planeamento e Gestão Ambiental da Câmara Municipal do Porto.
Cidades podem ser uma oportunidade em vez de um problema
Cristina Calheiros, Vice-Presidente da Associação Nacional de Coberturas Verdes, na sua intervenção, explicou que, ao contrário do que se costuma pensar, as cidades poderão ser uma oportunidade e não um problema: “Muitas vezes atribuímos só problemas às cidades e, na verdade, há aqui uma potencialidade enorme para aproveitar, liderando pelo exemplo, promovendo a colaboração entre entidades, empresas, associações e implementando uma estratégia e uma visão alinhada“.
“A nível das soluções baseadas na natureza, temos que ter por base a parte ambiental, social e económica, providenciar a resiliência dos territórios e também a promoção dos serviços dos ecossistemas. Nós temos uma riqueza enorme de património, temos de aproveitá-la, aproveitar a infraestrutura cinzenta existente e descentralizar. Portanto, aproveitando a infraestrutura cinzenta que existe e complementando-a com a infraestrutura verde“, continuou.
De acordo com a vice-presidente da ANCV, é também necessário sustentar estas soluções, para que estas funcionem e sejam realmente eficazes. “Há muitos mecanismos que podem ser utilizados e devem ser equacionados por cada município porque cada um terá a sua realidade e o seu contexto, e isto é muito importante para conseguirmos cativar as empresas e as pessoas a aderirem estas soluções“, referiu.
Tornar as cidades mais permeáveis
Por sua vez, José Lameiras, Professor Auxiliar na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, destacou a importância de tornar as cidades mais permeáveis: “Primeiro, todos devíamos trabalhar no sentido de tornar as cidades mais permeáveis. E, em segundo, todos devíamos trabalhar para promover a biodiversidade urbana, sobretudo ao nível da plantação das árvores, isto porque as árvores são as grandes fábricas fixadoras de carbono, são elas que tiram o carbono da atmosfera e colocam o carbono no solo”, começou por dizer.
O professor referiu, por isso, os parques-esponja que a cidade do Porto já tem e que têm sido um “forte contributo para a mitigação dos graves problemas das alterações climáticas“, já que pretendem distribuir a água por uma área maior, nomeadamente por uma rede de espaços verdes de pequena, média e grande dimensões, “que têm a capacidade de funcionar como esponja e infiltrar água no solo”.
“Temos os dois parques na Asprela [Parque da Quinta de Lamas e Parque Central da Asprela], que foram desenhados para serem os dois grandes parques-esponja, mas também parques pioneiros numa forma de se fazer e de se desenhar o espaço público para mitigar os efeitos negativos das alterações climáticas. No primeiro parque [Parque da Quinta de Lamas], entre a Faculdade de Engenharia e a Faculdade de Economia, fizemos a recuperação de uma linha de água que estava entubada, e o canal de água foi desenhado, calculado e dimensionado para acolher grandes volumes de água em situações torrenciais. O outro parque [Parque Central da Asprela] foi todo ele desenhado com uma reflexão ao nível da tipografia e dos sistemas hidráulicos para que, numa situação extrema, ele acomode um grande volume de água. Está na zona do campus universitário da Asprela, uma zona muito grande e muito impermeável, o que faz com que quando chove a água escorra à superfície. Então temos aqui uma solução que está desenhada para que quando há uma situação de chuva extrema, ele fique completamente submerso de água“, explicou.
Já o Parque da Alameda de Cartes começou a obra há começou a obra há cerca de três semanas e foi desenhado para ser uma grande estrutura verde esponja: “Fica na zona mais desfavorecida, mas também a zona de investimento estratégico da cidade do Porto. Aqui a ideia é também promover estratégias de plantação em clusters de vegetação, ou seja, nós promovemos núcleos de vegetação multiespécies, em que o efeito sistémico destas plantações é muito superior ao mesmo número de árvores plantadas isoladamente ou nos clássicos alinhamentos”.
Como usar as soluções de base natural de forma estruturada?
Na última intervenção desta sessão, Nuno Oliveira, CEO & Managing Partner da NBI – Natural Business Intelligence, apresentou alguns dados do Relatório do Fórum Económico Global, que revela que, nos próximos dois anos, os maiores riscos a enfrentar estarão relacionados com desastres naturais, incapacidade de adaptação às alterações climáticas e incidentes de grande escala. “A biodiversidade e os ecossistemas não estão lá fora, estão connosco, nas atitudes que temos, no que comemos, no que vestimos e no nosso mindset“, afirmou.
Por outro lado, o CEO da NBI também explicou a importância de haver um foco nas novas oportunidades e na economia que, “enquanto ciência do progresso, precisa de trazer a questão do desenvolvimento, da inovação e do inconformismo”: “Claramente, o sistema financeiro percebeu a dimensão económica da natureza e está a tentar integrá-la. Agora é nosso trabalho tentar que isto seja feito de uma forma equilibrada, lógica e bem integrada”.
Nesse sentido, o responsável pela NBI destacou um projeto que estão a desenvolver e outras ideias para futuros projetos. “Estamos a desenvolver um parque que se melhora cada vez que houver uma cheia. As cheias tornarão o habitat mais rico. E a ideia é integrar todo o projeto de recuperação de um centro periférico à área urbana para conseguir que aquela área seja, simultaneamente, uma área de importância social e ao mesmo tempo uma salvaguarda da biodiversidade daquela região”, explicou.
“Pensar em soluções naturais não é tornar a natureza num negócio, mas sim perceber que todas as áreas de negócio dependem da natureza. A natureza não devia ser uma guerra ideológica. Isto que temos pela frente para restaurar a natureza é um exercício de capitalismo”, concluiu.
Pode, ainda, ouvir em conferência em podcast:
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