Unidade portuguesa da Amkor, que fatura 55 milhões e emprega 800 pessoas, instala máquinas “topo de gama” para embalagem de chips. Agenda Microeletrónica do PRR já executou 28 milhões (42% do total).
A gigante americana Amkor Technology está a expandir a fábrica de Vila do Conde com novos equipamentos para aumentar a capacidade de produção, no âmbito de um plano que prevê a introdução de novas linhas para packaging avançado de chips e a integração de sensores de última geração e módulos de potência baseados em novos materiais. Em 2022, a subsidiária portuguesa (ATEP), que exporta 100% da produção, registou um volume de negócios de 54,6 milhões de euros, 30% acima do ano anterior.
Segundo avançou ao ECO o diretor técnico e membro do conselho executivo da Agenda Microeletrónica do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), Pedro Almeida, estas primeiras máquinas “topo de gama” já começaram a ser instaladas na unidade industrial onde trabalham atualmente perto de 800 pessoas. O grupo sediado no Arizona, presente em 11 países, há seis anos comprou à Nanium, a empresa que nasceu da falência da Qimonda e era detida pelo Estado (18%, através da AICEP), pelo BCP (41%) e pelo Novobanco (41%).
A aquisição destes equipamentos que são “o último modelo disponível e trabalham com as tecnologias mais recentes para esta área da microeletrónica e dos semicondutores” faz parte da componente de inovação produtiva que absorve “o grande volume” de investimento de um dos megaprojetos da “bazuca” portuguesa. Isto é, cerca de 40 milhões dos 68 milhões de euros contratualizados no final do primeiro trimestre de 2023, mais de um ano após arrancar no terreno este programa com ações também na área do design, reciclagem e investigação e desenvolvimento (I&D) de soluções tecnológicas.
Especializada em packaging, montagem e teste de semicondutores, a fábrica da ATEP – Amkor Technology Portugal dispõe de “tecnologia praticamente única na Europa, o que mostra a importância destes investimentos para continuar na vanguarda do ponto de vista dos equipamentos”, frisa Pedro Almeida. A empresa do distrito do Porto, que tem Paulo Queiroz na presidência do conselho de administração, lidera um consórcio constituído por um total de 17 entidades que visa “dar resposta às fragilidades do mercado global de semicondutores e mobilizar o crescimento deste setor em Portugal”.
A unidade industrial da Amkor em Vila do Conde tem tecnologia praticamente única na Europa, o que mostra a importância destes investimentos para continuar na vanguarda do ponto de vista dos equipamentos.
O prazo contratualizado para esta Agenda termina no final de 2024. De acordo com a informação prestada ao ECO, a taxa de execução do investimento é de 42%, o que equivale a 28 milhões de euros já aplicados. Estão também previstos 25 novos produtos, processos ou serviços (PPS), sendo que neste domínio o progresso baixa para 37%: há 20 em desenvolvimento e três “já concluídos e no mercado”, da responsabilidade da Amkor. Estes resultados vão ser apresentados esta terça-feira à tarde durante a conferência “Micro.electronics: Portugal as a Global Player in the Semiconductor Market”, no Teatro Aveirense.
Além da Amkor Technology, o consórcio integra pequenas e médias empresas industriais de capital português, como a HFA – Henrique, Fernando & Alves (assemblagem e teste de equipamento eletrónico e de telecomunicações) ou a Exatronic (serviços de inovação, investigação, engenharia e fabricação no setor da eletrónica).
Especializada no design, desenvolvimento e encapsulamento de chip ótico, a PICadvanced, instalada em Ílhavo, é uma das protagonistas de outra aposta forte deste projeto, ligada às redes de acesso de alto débito (telecomunicações) e que envolve “mais uma vertente de Investigação e Desenvolvimento (I&D) para se desenharem novos chips que incorporam também tecnologia da fotónica”.
Por fim, além de um capítulo sobre a capacitação das fábricas e a Indústria 4.0 ligada a esta área dos semicondutores e da microeletrónica, Pedro Almeida destaca o tema da reciclagem dos resíduos eletrónicos, como os telemóveis ou os computadores.
“A quantidade de artigos que são produzidos e vendidos vs. a capacidade que existe no terreno para tratar este tipo de resíduos no fim do ciclo de vida está muito desproporcionada. Temos alguns pacotes de trabalho dedicados a esta área, incluindo novos processos e métodos para reduzir a pegada ecológica destes dispositivos. Este problema ainda não está totalmente na agenda do dia nem abre telejornais, mas é cada vez mais premente”, completa.
Centro de competências de 50 milhões avança em Aveiro
Outra resposta que este consórcio vai ter de encontrar – e que o porta-voz admite que não consegue dar – é a caracterização desta indústria: quantas empresas existem, qual o volume de negócios, quantas pessoas empregam e são especialistas nesta área, qual a capacidade instalada ou quanto é que o país exporta e importa neste domínio. Aliás, um dos PPS é precisamente a criação do Observatório da Microeletrónica em Portugal para conseguir ter uma radiografia do setor e que possa também ser disponibilizada a empresas estrangeiras “interessadas em investir”.
À margem desta Agenda do PRR, mas impulsionado por entidades ligadas a ela, adianta Pedro Almeida, que é também diretor do Parque de Ciência e Inovação (PCI) de Aveiro, vai ser criado um centro de competências para a área da microeletrónica e da fotónica, com um investimento estimado na ordem dos 50 milhões de euros.
“Vai nascer aqui no PCI, prevê a construção de uma sala limpa e vai permitir fazer a prototipagem de dispositivos. Não será uma unidade produtiva, mas um centro de I&D para acelerar o desenvolvimento destas tecnologias. Porque os equipamentos são muito caros; uma ‘reles’ impressora 3D nesta área custa um milhão de euros”, detalha.
E no final deste projeto de investimento, que posição é que Portugal pode ter neste mercado dos semicondutores e da microeletrónica? “Temos de ser realistas. É muito difícil ou praticamente impossível Portugal competir com a Alemanha ou com a França, que é onde está o grosso de investimento neste setor”, responde o especialista, comparando que o PRR espanhol prevê um pacote de 11 mil milhões de euros para ser investido nesta área.
Fora da equação é também onde coloca a hipótese de o país conseguir atrair uma fábrica da Intel ou da TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company), que são as maiores empresas mundiais nesta área.
“Onde Portugal tem capacidade de crescer e de ter um papel importante na Europa é com este reforço da capacidade produtiva na unidade da Amkor em Vila do Conde e na vertente dos recursos técnicos e da engenharia. Toda a parte de massa cinzenta para o desenho dos chips e de sistemas de fotónica, a criação de novos dispositivos, porque as nossas escolas de formação e os técnicos que temos em Portugal são muito bons – e já hoje trabalham para grandes multinacionais da microeletrónica”, contrapõe.
Em abril, durante a visita oficial à Coreia do Sul, o primeiro-ministro, António Costa, foi conhecer uma das fábricas da SK, que é a terceira maior produtora mundial, e apontou como objetivo atrair investimento de multinacionais sul-coreanas para a produção de semicondutores na Europa.
Na ocasião, o chefe do Executivo socialista reclamou que Portugal tem nesta área “recursos humanos muito qualificados” para o design e recordou que a unidade vila-condense da Amkor é “a maior fábrica europeia” para fazer a embalagem final dos chips. Pedro Almeida diz ao ECO que o país pode ter “capacidade de resposta” para captar um centro de desenvolvimento de uma dessas gigantes mundiais, mas não uma unidade produtiva.
“Para ter noção, quando se fala em avançar com uma nova unidade industrial nestas áreas dos semicondutores, são investimentos logo na ordem dos mil milhões de euros, e que obrigam a que haja todo um conjunto de recursos muito grande – até pessoas para trabalhar. Um investidor desses teria de trazer equipas de outras geografias para trabalhar cá”, resume o especialista. Notando que, até numa lógica de proximidade em termos de cadeia de abastecimento, esses grupos olharão preferencialmente para geografias na Europa Central para realizar esses grandes investimentos.
Uma nova unidade industrial nesta área dos semicondutores são investimentos na ordem dos mil milhões de euros e que obrigam a um conjunto de recursos muito grande – até pessoas para trabalhar. Um investidor desses teria de trazer equipas de outras geografias para trabalhar em Portugal.
É na Coreia do Sul e em Taiwan que estão os grandes tubarões desta área. E embora todos os setores precisam de semicondutores, sendo a Europa “muito forte” na indústria automóvel, Pedro Almeida diz que é particularmente “crítico” para o Velho Continente assegurar que, neste ramo de atividade, o grau de independência face a essas origens extracomunitárias seja “o menor possível”.
“Não é possível montar tudo na Europa e dar resposta completa às necessidades, mas assegurá-lo, pelo menos, para as áreas económicas críticas da Europa, que precisam de ter estes chips para poderem ter os seus produtos. É importantíssimo que a Europa, como um todo, possa ser soberana”, conclui.
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Antiga Qimonda expande fábrica de semicondutores em Vila do Conde
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