Talkdesk negoceia saída de cerca de 200 trabalhadores em Portugal

Em Portugal, a tecnológica terá cerca de 800 colaboradores. É a terceira ronda de cortes de pessoal na unicórnio em pouco mais de um ano.

O despedimento em curso na Talkdesk deverá afetar cerca de 200 pessoas em Portugal, de um total de 800 que prestam serviços para a companhia no país. A unicórnio nacional avançou com uma proposta de rescisão por mútuo acordo “mais benéfica para as partes do que seguir um procedimento de despedimento coletivo”, segundo informação enviada aos trabalhadores afetados pela empresa a que o ECO teve acesso. É o terceiro corte de pessoal na tecnológica em pouco mais de um ano. O Bloco de Esquerda (BE) já inquiriu a ministra do Trabalho e fala em “dezenas” de queixas na Autoridade das Condições do Trabalho (ACT).

O número certo dos trabalhadores afetados não é conhecido. A empresa fala em “reduções limitadas no número de trabalhadores”, mas ao ECO os trabalhadores apontam um número na ordem das duas centenas. No grupo do WhatsApp, entretanto criado há, pelo menos, 150-180 pessoas contactadas pelos RH da companhia com uma proposta para a sua saída. Isto de um total de cerca de 800 em Portugal, na sua grande maioria na área de R&D e com um modelo de trabalho full remote.

Depois de mais de dois anos na empresa, Filipa (nome fictício) começou o dia de trabalho na semana passada com uma Zoom call. “Tinha regressado de férias e fui contactada pelo meu manager a dar conta de que a estratégia da empresa tinha mudado, os meus serviços não eram requeridos e os RH iriam contactar-me”, conta ao ECO. O contacto com os RH nos Estados Unidos surgiu ao final do dia e de madrugada chegou a proposta de rescisão por mútuo acordo. O corte à plataforma e ferramentas de trabalho foi feito de seguida.

“Neste momento está dispensado de prestar serviços sem que isso afete o seu direito a ser pago. Esta medida visa proteger os interesses da Talkdesk e dos seus trabalhadores”, explica a empresa na comunicação escrita enviada aos trabalhadores a que o ECO teve acesso.

A empresa propõe uma indemnização de 21 dias por cada ano de trabalho — lembrando a empresa que o Código de Trabalho determina uma “compensação de 12 dias por cada ano de trabalho até maio e, 14 dias por cada ano de trabalho a partir de maio até ao fim do contrato, em ambos os casos sobre o salário base”, pode ler-se na proposta — e, entre outros, os proporcionais de subsídio de férias, Natal, folgas não gozadas, seguro de saúde até final do ano, equipamento de trabalho (como computador usado), etc.

Aos trabalhadores que terão já manifestado interesse em chegar a acordo, a empresa estará a avançar com 15 dias adicionais de salário no pacote compensatório, de acordo com a informação prestada pelos trabalhadores ouvidos pelo ECO.

Um relato, em praticamente tudo, igual a Francisco (nome fictício). Com 41 anos, há cerca de 9 meses de regresso à Talkdesk onde tinha uma função sénior na área de engenharia foi igualmente confrontado no início da jornada de trabalho com um pedido de reunião da sua chefia direta. “Referiram-me que porque a área de sales (vendas, sobretudo nos Estados Unidos) tinha já sofrido uma grande redução, havia que ter menos pessoas na área de engenharia” e que a empresa estava “grande demais”, conta ao ECO. Liderava uma equipa de 11 pessoas, cerca de metade foi abrangida pela reestruturação.

Tem até quarta-feira, 4 de outubro, para responder à segunda proposta de rescisão enviada pela empresa. “Não vou aceitar, depois logo vejo o que vai acontecer”, diz. “Um acordo que não me permite ter acesso sequer ao subsídio de desemprego dificilmente irei aceitar. Tenho apenas 9 meses na empresa, o pacote de indemnização [de 21 dias] nem se aplica”, lembra.

Uma proposta que Maria (nome fictício) pensa igualmente rejeitar, já que a proposta de um acordo de rescisão por mútuo acordo impossibilita o acesso ao subsídio de desemprego, justifica. Maria já apresentou queixa online junto da ACT.

O tema já chegou ao Parlamento, com o Bloco de Esquerda a falar de “dezenas de queixas junto da Autoridade para as Condições de Trabalho” numa pergunta à Ministra do Trabalho. O ECO questionou a ACT sobre se tinha recebido queixas e qual o teor das mesmas, mas até ao fecho deste artigo não foi possível obter uma resposta.

Denunciando o que considera ser uma pressão ilegítima sobre os trabalhadores para “aceitar propostas de revogação por mútuo acordo com a ameaça de despedimento”, o grupo Parlamentar do Bloco questiona ainda sobre as medidas que “estão a ser tomadas ou serão tomadas pela Autoridade para as Condições do Trabalho para travar esta conduta inaceitável e proteger de imediato os trabalhadores afetados, perante a denúncia das práticas de pressão ilegítima e assédio desenvolvidas pela empresa”.

A pergunta, colocada pelo deputado José Soeiro, questiona ainda de que “forma irá o Governo assegurar que, após estes despedimentos, fica a empresa efetivamente impedida de recorrer ao outsourcing para satisfação daquelas necessidades”.

Até ao fecho deste artigo também não foi possível obter uma reação da Talkdesk.

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