Alunos portugueses pioram desempenho nos testes internacionais de Matemática e Leitura
Alunos portugueses obtiveram 472 pontos a Matemática nas provas do ano passado, menos 20,6 pontos do que em 2018. Veja os principais resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA).
Os alunos portugueses de 15 anos pioraram os seus desempenhos nos testes internacionais de Matemática e Leitura do PISA de 2022, invertendo a tendência de melhoria que se vinha registando na última década.
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) voltou a analisar os conhecimentos a Matemática, Leitura e Ciência de alunos de todo o mundo – em 2022 participaram cerca de 690 mil alunos de 81 países e economias – e o retrato do desempenho dos estudantes releva “uma quebra sem precedentes”, em que Portugal não foi exceção.
Os quase sete mil alunos de 224 escolas portuguesas que realizaram as provas de 2022 obtiveram piores resultados do que os seus colegas em 2018, colocando Portugal entre os países que mais baixaram de pontuação a Matemática, refere o relatório da OCDE divulgado esta terça-feira.
“Em comparação com 2018, o desempenho médio caiu dez pontos de pontuação em Leitura e quase 15 pontos de pontuação em Matemática, o que equivale a três quartos de um ano de aprendizagem”, sublinha Mathias Cornmann, secretário-geral da OCDE, no texto introdutório do relatório.
Em Portugal, os resultados dos alunos foram ainda mais graves: Os estudantes obtiveram 472 pontos a Matemática, ou seja, menos 20,6 pontos do que nas provas realizadas em 2018. Já em comparação com os resultados nas provas de 2012, desceram 14,6 pontos.
Portugal surge assim na lista dos 19 países que baixaram mais de 20 pontos a Matemática, sendo que as notas desceram entre os alunos mais carenciados, mas também entre os mais privilegiados. Três em cada dez alunos não conseguiram demonstrar ter conhecimentos mínimos a Matemática, ou seja, não atingiram o nível dois numa escala de seis valores.
Apenas 7% dos estudantes portugueses se destacaram, atingindo os níveis de proficiência mais elevados (5 e 6) a Matemática, uma disciplina que voltou a ser dominada por seis países asiáticos.
A condição socioeconómica é um dos fatores que mais influencia os resultados académicos e, em Portugal, os estudantes portugueses de famílias mais privilegiadas tiveram uma pontuação média de 522 pontos, ou seja, 101 pontos acima da média dos alunos mais carenciados.
Em Portugal, cerca de 9% dos estudantes desfavorecidos conseguiram estar entre os melhores alunos a Matemática, sendo a média da OCDE de 10%.
Apesar de o PISA de 2022 estar mais focado no retrato dos conhecimentos a Matemática, também foi feita uma prova de Leitura e, mais uma vez, os resultados médios pioraram: Os estudantes portugueses obtiveram 477 pontos, o que representa uma descida de 15,2 pontos em relação a 2018 e de 12,8 pontos face a 2012.
Apesar da descida, 77% dos alunos portugueses conseguiram atingir, pelo menos, o nível dois, ficando acima da média da OCDE (74%). Este resultado significa que estes jovens conseguem, pelo menos, identificar as ideias principais num texto de extensão moderada, encontrar informação e refletir sobre o propósito e a forma de um texto.
Apenas 5% dos portugueses conseguiram obter um nível 5 ou 6 em Leitura (7% é a média da OCDE), um nível que já implica ser capaz de compreender textos bastante longos, lidar bem com conceitos abstratos e conseguir estabelecer distinções entre um facto e uma opinião.
Um em cada dez alunos portugueses sente-se sozinho na escola
Um em cada dez alunos portugueses sente-se sozinho na escola, mas a grande maioria diz fazer amigos com facilidade, revela um estudo internacional que mostra que os portugueses são mais felizes do que a média da OCDE.
Em 2022, 76% dos estudantes portugueses disseram que faziam amigos com facilidade na escola, mantendo-se em linha com a média da OCDE (76%), mas foram muito mais os portugueses que disseram ter um sentimento de pertença à comunidade escolar (82% portugueses contra 75% na OCDE).
Por outro lado, um em cada dez alunos de 15 anos em Portugal revelou que se sentia sozinho e outros 11% admitiram que eram postos de lado, revela o estudo da OCDE divulgado esta terça-feira.
Apesar de os números revelarem uma realidade preocupante, ficam muito abaixo da média das escolas da OCDE: 16% dos jovens de 15 anos sentem-se sozinhos e 17% dizem que são deixados à parte.
Dedicação de famílias e docentes é essencial no sucesso
Um estudo internacional que analisou sistemas de ensino de 81 países apontou a dedicação de professores e pais como uma das chaves do sucesso dos alunos, lembrando que por vezes “basta um jantar de família”.
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2022 é o primeiro estudo em grande escala a recolher dados sobre o desempenho, o bem-estar e a equidade dos alunos antes e após as perturbações provocadas pela pandemia de covid-19.
O relatório divulgado esta terça-feira defende que o declínio nos resultados “só pode ser parcialmente atribuído à pandemia”, uma vez que em muitos países já se registava uma descida nos resultados. Por exemplo, em Portugal, os diretores escolares apontam a falta de professores e a menor qualificação dos docentes como principais causas para as falhas na qualidade de ensino.
Em 2022, 62% dos alunos em Portugal frequentavam escolas cujos diretores relataram que a qualidade do ensino estava a ser afetada pela falta de professores e 27% apontaram a baixa qualificação do pessoal docente.
No PISA anterior, de 2018, a percentagem de diretores que tinha referido esses problemas era muito inferior: Apenas 32% falou na falta de professores e 23% na qualificação dos docentes, segundo um estudo internacional que sublinha a importância do empenho dos docentes e famílias no sucesso académico.
“A disponibilidade dos docentes da OCDE para ajudar os alunos mais necessitados teve um impacto mais forte na Matemática, em comparação com outras experiências ligadas à covid-19 e ao encerramento das escolas”, lê-se no relatório, que mostra que os resultados a Matemática foram, em média, 15 pontos mais elevados nas escolas em que os alunos concordaram que tinham bons professores.
Também o envolvimento dos pais se mostrou importante, em especial entre os mais desfavorecidos. “O nível de apoio ativo que os pais oferecem aos seus filhos pode ter um efeito decisivo”, refere o relatório, acrescentando que, por vezes, bastam “atividades aparentemente inocentes, como partilhar uma refeição em família ou simplesmente conversar” para se notar um melhor desempenho e bem-estar dos alunos.
Os pais ou alguém da família perguntar ao aluno o que tinha feito na escola naquele dia também é mencionado, sendo que Portugal surge como um dos países onde pelo menos 80% dos jovens disse que a sua família tinha essa preocupação.
Entre os quase sete mil alunos de 224 escolas portuguesas que participaram no PISA, muitos reconheceram a importância dos professores. Três em cada quatro jovens portugueses reconheceram o apoio extra dado pelos professores de Matemática, tendo apontado outros problemas no processo de aprendizagem.
Mais de 8% dos alunos de 15 anos na OCDE falham refeições por falta de dinheiro
Milhares de jovens de 15 anos ficaram sem comer por falta de dinheiro para comprar comida, revela o estudo internacional PISA, que coloca Portugal como o país onde menos alunos são afetados pelo problema.
“Em média, nos países da OCDE, 8,2% dos estudantes afirmaram que não comeram pelo menos uma vez por semana nos últimos 30 dias porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida”, refere o relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2022, no qual participaram cerca de 690 mil alunos de 81 países e economias.
No relatório, Portugal surge ao lado da Finlândia e dos Países Baixos como um dos três países da OCDE que registam as percentagens mais baixas de alunos que ficam sem comer: Portugal apresenta uma taxa de 2,6%; a Finlândia de 2,7% e os Países Baixos de 2,8%.
Por oposição, há países da OCDE onde a proporção de estudantes em situação de insegurança alimentar é superior a 10%. Entre esses países estão o Reino Unido (10,5%), a Lituânia (11%), Estados Unidos (13%), Chile (13,1%), Colômbia (13,3%), Nova Zelândia (14,1%) e Turquia, onde quase um em cada cinco alunos ficou sem comer (19,3%).
Em 18 países e economias, mais de 20% dos estudantes declararam não comer pelo menos uma vez por semana devido à falta de dinheiro.
Os investigadores do PISA sublinham que os países em que, pelo menos, um quarto dos estudantes declararam não comer pelo menos uma vez por semana devido à falta de dinheiro foram os que tiveram piores desempenhos na prova de Matemática.
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