Os líderes populistas fazem mal à economia

Não sabemos qual será o tecto do Chega. Nem de votos nem de estupidez. Se fosse para o Governo, muito provavelmente resultaria num Portugal significativamente mais pobre.

As eleições de Março são o primeiro grande teste perante a ameaça do populismo político em Portugal. O populismo, um estilo político que é normalmente definido pela luta entre as pessoas comuns e as elites, tem crescido um pouco por todo o mundo. É provável que partidos populistas integrem o próximo governo português, seja à direita ou à esquerda. Ainda assim, Portugal certamente ficará atrás de outros países que tiveram ou têm neste momento líderes de governo populistas. Comparando com outros países, continuaremos a ser bastante moderados.

Embora existam dimensões mais importantes que a economia, uma questão interessante é: qual é a performance económica de países com líderes populistas? Este é o tópico do artigo “Populist Leaders and the Economy”, publicado na American Economic Review em 2023 por Manuel Funke, Moritz Schularick e Christoph Trebesch. Neste estudo, os autores identificam 51 governos liderados por populistas entre 1900 e 2020 e mostram que os líderes populistas reduzem o Produto Interno Bruto (PIB) real por pessoa em 10% depois de 15 anos. Este resultado é baseado em argumentos causais, comparando países com líderes populistas com os contrafactuais corretos, e não apenas uma correlação.

Para perceber melhor o argumento causal dos autores podemos usar o exemplo de Erdogan na Turquia em 2003, um dos líderes populistas identificados no estudo. Quantificar o efeito económico destes líderes é complicado. Não basta comparar um país antes e depois de um líder populista. É preciso comparar a performance de um país com o contrafactual relevante, neste caso, o mesmo país mas com um líder que não era populista. Infelizmente não existe um contrafactual perfeito, ou seja, não temos nenhum país igual à Turquia em 2003 em que um líder não populista ganhou as eleições de 2002.

A estratégia passa então por comparar com um país “sintético”, um país que é a média ponderada de diferentes países sem líderes populistas, com os pesos escolhidos para que a “Turquia sintética” se pareça o mais possível à Turquia até 2003. Neste país sintético, os países com maior peso são o Paraguai, o Uruguai e a Malásia. Assumindo que a “Turquia sintética” continuaria a evoluir como a Turquia caso esta não tivesse tido um líder populista, podemos identificar o efeito económico de Erdogan comparando a performance económica pós-2003 da Turquia com a ‘Turquia-sintética’ (o contrafactual relevante). Este exercício é feito para todos os países na amostra do estudo de forma a calcular o efeito médio dos líderes populistas na economia.

Os resultados são péssimos. Após 15 anos, o PIB per capita é em média 10% mais baixo comparado com um contrafactual não populista. Além do PIB, os líderes populistas causam uma diminuição da estabilidade macroeconómica, aumento da inflação, aumento da dívida pública em percentagem do PIB, mais protecionismo, e erosão da qualidade institucional no país. O efeito negativo nas instituições, por exemplo, a redução da independência das instituições judiciais, eleições menos livres e restrições à liberdade de imprensa, é particularmente importante uma vez que tem efeitos negativos também a longo prazo. Para ter uma ideia da magnitude: o efeito identificado pelos autores corresponde aproximadamente à diferença de qualidade institucional entre a Noruega e a Colômbia.

Portugal não faz parte da amostra deste estudo sobre governos populistas. Seguindo os critérios definidos pelos autores, provavelmente também não seria incluído em março de 2024 (apenas governos liderados por coligações populistas são considerados). Mas claro, as próximas eleições serão a continuação de um processo de crescimento de políticos populistas em Portugal que ainda não tem um fim claro.

A principal ameaça vem da direita. Não sabemos qual será o tecto do Chega. Nem de votos nem de estupidez. A julgar pelas propostas económicas que vão aparecendo, seria um governo ainda pior que a média de populistas de direita que temos visto mundo fora. E muito provavelmente, resultaria num Portugal significativamente mais pobre.

  • Professor de Economia Internacional na ESCP Business School

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