Portugal merece mais
Ninguém pode negar o progresso enorme educacional, social e económico desde o 25 de Abril. O que se questiona, é como é que aceitamos ter vidas tão difíceis depois de 50 anos de democracia.
O nosso país tem tudo para ser um país onde as pessoas têm uma “vida boa”. Não há razão para assim não ser. Somos um país relativamente pequeno, com uma população relativamente homogénea, integrado num grande mercado de países mais ricos que o nosso que gostam de vir cá de férias e até podem comprar os nossos produtos. Temos uma democracia que funciona, o que compara bem com a maioria dos países do mundo. Temos liberdade, o que deve ser lembrado e valorizado.
Porém, dentro do nosso grupo de países, somos pobres. Somos relativamente ricos à escala global, mas pobres na Europa. E cada vez mais os mais pobres – ou para lá caminhamos. Isso deixa-nos angustiados: é como estar na primeira liga, mas ser dos últimos, em vez de, por exemplo, ser campeão da liga abaixo. É deprimente. E é desnecessário.
Os portugueses habituaram-se, claro. Os mais jovens e muitos dos mais dinâmicos saem em enormes quantidades e buscam melhores condições e oportunidades. Os que ficam resignam-se, matam-se a trabalhar e tentam sobreviver e sonhar, talvez com uma vida minimamente digna e eventualmente melhor para as gerações seguintes… fora de Portugal, claro.
Ninguém pode negar o progresso enorme educacional, social e económico desde o 25 de Abril. A questão não é o que se deixou de alcançar em décadas, ou mesmo séculos, de más opções na Monarquia e na Ditadura. O que se questiona, o que se deve questionar, é como é que aceitamos ter vidas tão difíceis depois de 50 anos de democracia e quase 40 de União Europeia. Tanto tempo e tanto dinheiro já deviam ter dado para mais.
A população portuguesa tem pouca ambição. Não é um defeito genético: é uma consequência de décadas ou séculos sem esperança. É a consequência de verem, que por muito esforço que façam, não conseguem pagar as contas nem poupar para a reforma. Já era assim antes, no tempo dos pais e dos avós, e continua a ser.
As pessoas, portanto, perderam a ambição porque não acreditam que seja possível melhor. Só querem sobreviver. Por isso mesmo, também não exigem muito dos Governos, dos partidos, dos “líderes”. É mais fácil chamar-lhes corruptos a todos, encolher os ombros e seguir em frente no dia-a-dia da luta pelos poucos euros que restam até ao fim do mês.
Também é mais fácil não mudar, não arriscar em novas soluções políticas, porque as coisas ainda podem piorar – aliás, pioram quase sempre. Mais vale, por isso, ficar na mesma e proteger a côdea que resta do que experimentar mudar para outras soluções e outros partidos. Até isso se perdeu, a vontade da revolta. Os partidos e os governos, sabendo disso, jogam este jogo, particularmente os que estão no poder e o querem manter.
E os portugueses obedecem. A continuarmos assim, não vamos longe. Um dia já nem a côdea restará.
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