O que esperar dos 10 principais mercados para onde Portugal exporta
A seguradora de crédito Coface revelou as suas previsões para 160 países. Veja o que vaticina para Portugal e para os 10 principais destinos das exportações nacionais de bens e serviços.
Os dez principais mercados de exportação de Portugal vão sofrer um abrandamento significativo em 2024, revela o Guide Coface des Risques Pays & Sectoriels 2024, que sintetiza as grandes tendências macroeconómicas de 160 países e 13 setores de atividade.
A Coface é uma das maiores seguradoras de crédito a nível mundial, e faz coberturas para a falta de pagamentos de faturas pelos clientes dos seus 50 mil clientes, o que significa atualmente cerca de 700 mil milhões de euros de faturas emitidas. A sua análise macroeconómica resulta de um gabinete de estudos próprio. Para além de monitorização de milhares de empresas, tem economistas a estudar permanentemente todas as informações oficiais publicadas a nível mundial e local.
Daí resulta uma análise e atribuição de ratings a cada país e ao seu ambiente de negócios. Em análise conjunta, Xavier Durand, diretor-geral da Coface, lembra que há eleições gerais em 70 países do mundo este ano mobilizando 4 mil milhões de votantes. Face ao crescimento da economia mundial de 2,5% em 2023, Durand aponta este ano para 2,2%. Face à instabilidade geopolítica instalada, avisa que previsões hoje em dia já são quase realizadas ao dia.
Os ratings atribuídos pela Coface, quer para o país quer para o ambiente de negócios desse país, são divididos entre A1 (apenas Dinamarca, Noruega e Suíça) e A4 para os com melhores perspetivas para se fazerem negócios com empresas locais. Os ratings de B a D — classe que inclui Haiti, Iraque, Irão, Líbia, Venezuela e Zimbabwe, — são os países com inúmeros problemas em que as empresas locais terão sempre grandes dificuldades. Portugal tem A3 de rating.
Veja aqui o que a Coface prevê para os 10 países melhores clientes de Portugal e que significam 70% das vendas externas do país de bens e serviços. E, no fim, o que a seguradora diz ao mundo sobre o país.
Espanha: Fundos europeus salvam, governabilidade difícil
Sendo destino de 23% das exportações portuguesas, o crescimento económico de Espanha vai abrandar, mas manter-se-á acima da média europeia, e o consumo das famílias deverá estabilizar devido à baixa da pressão inflacionista e à subida contínua dos salários. A atividade será travada por um ambiente externo lento e pelas altas taxas de juro, mas os fundos europeus continuarão a sustentar o investimento público. A coligação multipartidária encontrada pelo primeiro-ministro Pedro Sánchez poderá levar a uma governabilidade difícil e aumenta o risco de instabilidade política.
França: Famílias vão sofrer, segundo semestre será melhor
Com o recurso significativo a compromissos com taxa de juro variável, as famílias vão sofrer e os juros vão afetar o consumo em 2024. A inflação em baixa começará a sustentar a procura interna na segunda metade do ano. O mercado da habitação vai ter a procura a abrandar devido ao nível das taxas de juro. Uma baixa nos juros ajudará o setor. O governo atual prevê limitar sempre o défice orçamental. Trata-se de cortar despesas públicas, aumentar impostos e de implementar reformas, mas no curto prazo, trará uma subida na dívida pública em percentagem do PIB.
Alemanha: Aumento de salários leva a retoma moderada
Aumentos de salários sustentarão o consumo privado, o que associado a um aumento ligeiro da procura externa deverá conduzir a uma retoma económica moderada. O nível elevado de taxas de juro continuará a travar o investimento e o setor da construção. As ajudas de Estado serão reduzidas para manter baixo o défice orçamental. A coligação entre sociais-democratas, liberais e ecologistas vai manter os seus compromissos para se manter no poder e evitar novas eleições com ganhos prováveis da direita política.
EUA: Polarização é um problema
A atividade económica vai abrandar, devido ao impacto tardio das taxas de juro nas famílias e nas empresas. Uma inflação moderada permitirá ao banco central (Fed) começar a baixar juros. Com um congresso dividido em ano eleitoral, a despesa pública continuará a ser contida, contribuindo para minorar o défice orçamental. O serviço de redução da dívida e a execução dos programas de investimento vão manter-se em níveis elevados. As eleições de novembro entre Biden e Trump vão confirmar a polarização política. O Congresso vai arrancar dividido, retardando a elaboração de políticas públicas.
Países Baixos: Retorno lento do comércio exterior
Depois de uma ligeira recessão em 2023, as adaptações salariais deverão estimular de novo o consumo privado, o que conjugado com um retorno lento do comércio externo poderá levar a uma retoma moderada da economia. Com a vitória do partido de extrema-direita (PVV), as negociações para formar governo avançam, com várias combinações possíveis. É possível uma coligação entre os conservadores do VVD e o novo partido democrata-cristão NSC, ou uma coligação alargada sem a participação do PVV, mas é certo que a procura de uma coligação estável será difícil e vai demorar.
Itália: Economia vai continuar próxima da estagnação
O crescimento económico vai permanecer próximo da estagnação, com fraca procura externa por parte dos parceiros europeus. Um mercado trabalho resiliente vai compensar a baixa na poupança e dará estabilidade ao consumo. O investimento continuará sem fôlego mas os fundos europeus continuarão a sustentar o investimento público. O suporte do Banco Central Europeu (BCE) e da União Europeia (UE) vai atenuar o risco soberano, desde que se mantenham boas as relações entre o governo italiano e a UE. A coligação de direita liderada por Giorgia Meloni está consolidada e capaz de sustentar um governo duradouro, melhorando assim a estabilidade política no país.
Reino Unido: Aumento de salários vai melhorar consumo
O consumo vai melhorar em 2024, haverá aumento dos salários reais devido a incrementos elevados e forte subida do salário mínimo. O mercado de trabalho está mais débil e a inflação continua elevada, como consequência dessa dinâmica salarial, o que tornará mais difícil ao Banco de Inglaterra reduzir juros. Os incumprimentos nos créditos bancários vão continuar este ano, tornando difícil o acesso a financiamento por parte das empresas. São esperadas eleições em 2024 e o Partido Trabalhista está à frente nas sondagens, enquanto o governo não tem grande ajuda sofrendo com as lutas intestinas no Partido Conservador.
Bélgica: Indexação automática de salários mantém poder de compra
A economia belga é muito resistente – diz a Coface – a indexação automática dos salários a uma taxa de inflação elevada manteve estável o poder de compra das famílias. Este ano, o consumo privado deverá manter-se como o motor do crescimento económico. O défice público continuará elevado devido à adaptação dos salários dos funcionários públicos e das prestações sociais. Depois das eleições de junho de 2024, a formação de uma coligação governamental deverá demorar muito tempo e provavelmente será de novo uma alargada “coligação Vivaldi” de sete partidos, com o objetivo de manter os partidos extremistas fora do poder.
Suíça: Tudo volta ao normal
A economia deve ter um crescimento moderado devido a uma retoma da procura externa e à recuperação do setor da construção. A pressão inflacionista deverá continuar a baixar, mantendo o poder de compra das famílias e o consumo privado. Os conservadores nacionais (SVP) ganharam as eleições de outubro de 2023 com 28% dos votos, à frente do Partido Socialista (18%), dos Liberais Democratas (14%), e dos Democratas-Cristãos (14%). Como todos estes partidos já participavam no Governo, nada mudou.
Angola: Tudo continua a depender do preço do petróleo
A atividade económica vai acelerar modestamente em 2024 refletindo um aumento marginal da produção de petróleo. O crescimento resultará sobretudo da construção – com destaque para o corredor ferroviário do Lobito em conjunto com a Zâmbia e Congo Kinshasa (RDC) – e do setor agrícola. O consumo privado continuará fraco em consequência de uma retoma da inflação e da eliminação gradual dos subsídios aos preços dos combustíveis, traduzindo uma política monetária restritiva com uma taxa diretora de 17%. A redução das despesas sociais combinada com a manutenção das receitas do Estado em resultado de elevados preços do petróleo poderá manter o saldo orçamental excedentário.
Portugal: O regresso do crédito malparado
Sobre Portugal, a informação da Coface para o mundo é de que a atividade vai abrandar em 2024, devido a uma menor contribuição do turismo, após uma retoma excecional em 2023. A atividade doméstica será também impactada por uma política monetária restritiva. Com 83% dos empréstimos das empresas a serem fixados em taxas variáveis ou mistas, o crédito malparado deverá aumentar em 2024.
As eleições legislativas de 10 de março são de resultado incerto. As sondagens indicam que o PS e o PSD estão taco-a-taco, pelo que uma coligação será necessária para governar. Esta poderá incluir o Chega (extrema-direita), dado como o terceiro maior partido, em forte subida.
Em relação aos pontos fortes do país, a Coface aponta o potencial em energias renováveis, hidroelétrica, eólica e fotovoltaica. Também a capacidade de absorver fundos europeus é superior à média. Outro ponto forte é o baixo custo da mão-de-obra e o nascimento de uma indústria de produtos alimentares e eletrónica. Crescente atração de talentos estrangeiros e uma indústria turística dinâmica completam as vantagens de Portugal
Como pontos negativos é apontado um setor industrial subdesenvolvido com baixo ou médio valor acrescentado. Um sistema jurídico lento. Má qualidade da carteira de créditos bancários, levando a uma taxa elevada de créditos mal parados. Por último, a Coface indica como ponto negativo o crescimento insuficiente de infraestruturas.
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