ECO da Campanha: AD nega “alarmismos” num dia em que Chega faz manchetes lá fora
Num dia em que Montenegro volta a fazer controlo de danos por declarações polémicas proferidas por membros da AD, o FT escreve sobre a evolução do Chega no país, sobretudo entre os jovens.
Os partidos fecham a primeira semana de campanha eleitoral nas ruas depois de várias arruadas, visitas e comícios pelo Norte e Sul do país. E até na imprensa internacional se fala das eleições, sobretudo do crescimento do Chega.
Ao sexto dia de campanha, a Aliança Democrática, coligação que junta PSD, CDS e PP, volta estar no centro dos discursos dos partidos, tanto à esquerda como à direita, desta vez por declarações negacionistas proferidas pelo cabeça de lista da coligação por Santarém.
Num dia em que Durão Barroso lançou críticas à governação do PS e à esquerda, a AD convidou o antigo líder do PSD e ex-presidente da Comissão Europeia a discursar esta noite, num jantar-comício em Santa Maria da Feira, em Aveiro.
Tema quente
Montenegro volta a esclarecer declarações polémicas da AD
A Aliança Democrática (AD) voltou a ditar a narrativa no sexto dia da campanha eleitoral. Depois de Pedro Passos Coelho alegar que a imigração está a alimentar uma “sensação de insegurança”, num comício da AD no Algarve, e de Paulo Núncio ter defendido um novo referendo sobre o aborto, o cabeça de lista da AD por Santarém, Eduardo Oliveira e Sousa, afirmou que Portugal tem perdido investimento por “falsas razões climáticas”.
Num jantar-comício em Ourém, esta quinta-feira, o antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) defendeu que “sempre existiram fenómenos extremos”, e avisou que agricultores já falam em organizar milícias armadas perante “os roubos nos campos”.
Luís Montenegro foi confrontado com as declarações esta quinta-feira, garantindo que a AD está “comprometida com o clima”, sendo, no entanto, necessário “conciliar” a luta contra as alterações climáticas com “a vida real do país”, nomeadamente, o turismo ou a agricultura.
O presidente do PSD e líder da AD desvalorizou os alertas de Oliveira e Sousa face à possibilidade da criação de milícias para evitar os roubos que têm acontecido no mundo rural, sublinhando que “alertar” para os roubos “não é criar alarmismo, é falar de uma realidade com que se confrontam algumas pessoas”. “[Os agricultores] estão um pouco a perder a paciência com a repetição deste fenómeno“, disse durante um arruada na Guarda.
Questionado sobre estar pela terceira vez a justificar as declarações proferidas por membros da AD, Luís Montenegro argumenta ser “evidente” que numa campanha organizada por uma coligação de três partidos que isso “atraia pessoas que não pensam 100% da mesma forma“, sendo por isso, expectável, que haja “diferenças de opinião”.
Ainda assim, deixou claro que esses discursos não refletem a missão da coligação e que “a base da proposta da campanha da AD cabe a mim, e só a mim, definir”.
A figura
André Ventura
O Chega foi tema central de dois artigos no jornal britânico Financial Times, publicados esta sexta-feira.
Numa reportagem durante um desfile no Porto, o FT descreveu André Ventura como um “ex-padre estagiário” – remetendo para o ano que passou num seminário católico, quando tinha 16 anos – e “especialista de futebol” –, recordando o cargo de comentador (ou de “adepto fanático do Benfica”) que desempenhou na CMTV, até 2020.
Face à evolução das sondagens, que sugerem que o Chega poderá cimentar a sua posição enquanto terceira força política nas próximas eleições, a publicação salienta que André Ventura não só tem conquistado votos entre o eleitorado mais velho, como também entre os votantes dos 18 aos 35 anos, que se dizem preocupados com o futuro do país e que olham para o Chega como uma oportunidade de “mudança”.
“Portugal vai eleger um novo primeiro-ministro a 10 de março e a preocupação com a “fuga de cérebros” das gerações mais jovens está no centro da campanha eleitoral“, descreve o FT num artigo, esta sexta-feira.
A frase
"[Eduardo Oliveira Sousa] quer voltar ao tempo em que ainda não havia alterações climáticas. Quase ao tempo dos dinossauros.”
A surpresa
Durão Barroso
Depois de Pedro Passos Coelho, Carlos Moedas e Assunção Cristas, esta noite, num jantar comício em Santa Maria da Feira, em Aveiro, a AD convidou Durão Barroso a discursar. A participação do antigo líder do PSD e ex-presidente da Comissão Europeia acontece num dia em que publicou um artigo de opinião no jornal Sol no qual não faltaram críticas à esquerda.
Prova dos 9
"Portugal é hoje o país mais pobre da Europa ocidental e, a continuar a presente trajetória, será também em breve o mais pobre de toda a União Europeia, incluindo países da Europa Central e do Leste, tais como a Roménia a Bulgária.”
O ex-primeiro-ministro Durão Barroso, que se vai juntar hoje à campanha, escreveu um artigo de opinião onde deixa várias críticas à governação socialista, afirmando que Portugal poderá ser superado por países como a Roménia e a Bulgária, países que têm sido referenciados várias vezes pela direita como ponto de comparação.
O que mostram os dados? Bom, se tivermos em conta o indicador que costuma ser utilizado para comparar a riqueza entre os vários países europeus, os dados mais recentes indicam que o PIB per capita medido em paridades de poder de compra de Portugal era de apenas 78,7% da média da União Europeia, em 2022.
Significa que, em média, o rendimento médio por português é 21,3% inferior à média dos 28 países que constituem a União Europeia, colocando Portugal como o 20.º país com o PIB per capita mais baixo da União Europeia e o 16.º país com o nível de rendimentos por habitante mais baixo entre os 19 países da Zona Euro.
A parte inicial da afirmação de Durão Barroso confirma-se então, sendo que entre os países da Europa Ocidental, Portugal tem o PIB per capita mais baixo (excluindo a Grécia, que pode ser considerada Europa do Sul). Quanto à ultrapassagem por parte dos países da Europa Central e do Leste, tal vai depender da evolução económica nos vários Estados. Mas já nos últimos dois anos, as previsões da Comissão Europeia apontavam que a Roménia poderia ultrapassar Portugal em termos do PIB per capita já este ano.
Nas previsões de primavera de 2023, as que incluem projeções para este indicador, Bruxelas estimava que o PIB per capita romeno deveria crescer de 77,1% para 79,2% da média europeia, enquanto o português passava de 77,2% para 78,6%. No entanto, é ainda incerto qual foi a evolução, já que a economia da Roménia deverá ter crescido menos do que o previsto no ano passado. Ainda assim, tem-se verificado uma trajetória de aproximação entre os países neste indicador.
Quanto à trajetória que Portugal está a seguir, é verdade que o indicador tem oscilado nos últimos anos mas o rendimento médio por português chegou a crescer em 2022.
Conclusão: Mais ou menos
Norte-Sul
O sexto dia de campanha colocou a maioria dos líderes políticos no centro do país. Luís Montenegro começou o dia na Guarda, seguindo depois para o distrito de Aveiro onde terminará com um comício em Santa Maria da Feira, que contará com a presença de Durão Barroso. Por seu turno, Pedro Nuno Santos concentrou os seus esforços no distrito de Castelo Branco, onde começou por um comício na cidade e outro em Guarda.
O Chega de André Ventura teve os habituais dois comícios diários do partido, um em Lamego, ao início da tarde, e o segundo já em Vouzela, à hora do jantar para um comício, enquanto o jantar dos liberais, a convite de Rui Rocha, acontece em Braga depois de uma visita à Bolsa de Turismo de Lisboa.
Já Paulo Raimundo, da CDU, passou grande parte do dia no Alentejo, em contactos com os trabalhadores da empresa Aernnova, ligada à aeronáutica, seguindo-se um jantar da coligação em Arraiolos. Por seu turno, o Bloco de Esquerda trocou a caravana por uma viagem de comboio entre a Covilhã e a Guarda e, em Coimbra, a coordenadora do partido Mariana Mortágua realiza uma arruada e um comício.
Inês de Sousa Real do, PAN, esteve por Mafra para uma visita a uma associação de proteção animal, seguindo-se uma campanha na estação de comboios de Entrecampos. Também por Lisboa, esteve Rui Tavares do Livre, onde visitou uma creche.
O sétimo dia de campanha concentra-se no Porto. Pedro Nuno Santos do PS estará em campanha entre Bragança e o Porto, distrito onde Luís Montenegro, líder da AD, terminará o dia de campanha depois de passar por Braga. Pelo distrito do Porto, mas na segunda metade do dia, estará também Rui Rocha, vindo de Viana do Castelo, e Inês Sousa Real do PAN.
Mariana Mortágua também estará pelas ruas do Porto em campanha com o Bloco de Esquerda, estando previsto terminar o dia em Castelo Branco.
André Ventura, que até então fez maior parte da campanha no Norte, desce para Coimbra com o resto da comitiva do Chega, enquanto a CDU, de Paulo Raimundo, fará campanha por Beja e Santarém. Já o Livre, de Rui Tavares, mantém-se em campanha por Lisboa.
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