Inflação preocupa mais que eleições nos EUA, diz JPMorgan AM

As presidenciais de novembro nos EUA não estão no topo das preocupações da gestora de ativos do JPMorgan, aconselhando os investidores a não perderem muito tempo a pensar nisso.

Os Estados Unidos, a maior economia do mundo, vão escolher o seu próximo presidente no próximo mês de novembro. Apesar das eleições apenas se realizarem dentro de oito meses, a possível reeleição do ex-presidente Donald Trump tem causado alguma ansiedade entre os investidores. Um receio que, na opinião do JPMorgan Asset Management, é, neste momento, injustificado. O tema, avisa, é a inflação.

“Ainda falta muito para as eleições dos Estados Unidos. Muita coisa pode acontecer até lá”, realça Karen Ward, a responsável pela estratégia de investimento para a EMEA da JPMorgan AM, numa apresentação no International Media Day da gestora, em Londres. Para a especialista, os investidores não devem tomar decisões de investimento baseadas neste tema agora. Ward defende que mais importante que as eleições norte-americanas é confirmar que a desaceleração da inflação é sustentada.

A inflação já passou? Foco-me mais nisto do que nas eleições.

Karen Ward

Chief Market Strategist para a EMEA do JPMorgan AM

Ward refere que “o que os políticos dizem que vão fazer e o que fazem são coisas muito diferentes“, sobretudo se não controlarem o Congresso, ou o Parlamento, por isso não perde muito tempo a pensar no que poderão ser os resultados deste ato eleitoral. “Devemos focar-nos em outras coisas: a inflação já passou? Foco-me mais nisto do que nas eleições“, rematou.

“As pressões inflacionistas abrandaram de forma significativa, mas estamos longe de onde estávamos”, refere a gestora, referindo que se a inflação permanecer algures entre 2% e 3%, isso “é bom o suficiente” para a economia e para os mercados.

Depois de um longo período sem nos preocuparmos com a inflação, esta será a principal preocupação nos próximos 15 ou 20 anos. “Vamos ter mais 2022″ [o ano em que a taxa de inflação disparou para máximos de várias décadas] e a questão é “como construímos um portefólio à prova destes choques“.

Quanto à política monetária, Karen Ward não tem dúvidas que os bancos centrais, tanto nos Estados Unidos, como na Europa, vão cumprir a sua palavra e cortar juros em 2024. “Será muito surpreendente se não começarem a cortar juros”, aponta, referindo, contudo, que os juros zero terminaram e as taxas “vão permanecer bastante acima dos níveis em que estavam na pandemia”.

Este movimento de descida de juros, associado a um reforço do investimento por parte dos Governos deverá permitir à economia retomar uma trajetória de crescimento.

A recessão não se materizalizou porque os governos estão novamente a investir. A política orçamental é muito mais importante a promover o crescimento do que a política monetária”, explicou.

Numa comparação com os Estados Unidos, Karen Ward refere que enquanto do outro lado do Atlântico têm existido programas de investimento, na Europa, “temos sido muito relutantes em gastar o dinheiro” do Fundo de Recuperação, que deveria estar a ser investido em projetos, mas não o está.

Olhando para 2024, a estratega prevê que este investimento comece a acelerar, assim como o consumo, que na região se manteve muito contido. Ao contrário dos norte-americanos que começaram a gastar as poupanças acumuladas na pandemia, na Europa isso não aconteceu. O que, para a especialista, se justifica. “Quantos de vocês não ficaram aterrorizados quando a fatura de energia quadruplicou? Eu fiquei“, atira.

Mas, com a inflação a recuar para níveis mais próximos das metas do banco central e os rendimentos a subirem, há maior confiança dos consumidores. “Vai ser muito interessante se a recuperação na Europa começar a surpreender positivamente, se o BCE começar a cortar juros”, sintetiza.

A “tentação” de ficar sentado em liquidez

As ações são, na opinião da estratega da gestora do banco norte-americano, o ativo que oferece melhores oportunidades. Contudo, reconhece que hoje há a “tentação” de ficar investido em liquidez, com taxas de 4 a 5%. Algo que não recomenda. “Há muito tempo que não havia estas taxas, mas a longo prazo a liquidez nunca é uma boa escolha”, explica.

Já quando o tema são as obrigações, a história é diferente. “Agora há obrigações de elevada qualidade que pagam 4 ou 5%”, o que considera um bom rendimento. “As obrigações voltaram a desempenhar o papel que devem, ser chatas e funcionar como proteção contra grandes choques”, remata.

Com um papel histórico de mal amadas, as ações europeias podem surpreender em 2024, acredita Karen Ward. “A Europa está a negociar altamente a desconto“, contudo reconhece que “o milagre das tecnológicas” nos EUA tem fundamento. As chamadas sete magníficas têm, realmente, apresentado resultados “magníficos”.

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