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BRANDS' ECO Podcast Heróis PME: Internacionalização

  • BRANDS' ECO
  • 19 Março 2024

O primeiro episódio do podcast Heróis PME tem como tema a internacionalização. Esta é uma iniciativa da Yunit Consulting, que visa divulgar as histórias de vida de empresários e das suas empresas.

O podcast “Heróis PME” é uma iniciativa da Yunit Consulting, que visa receber empresários para partilharem os seus exemplos de força, coragem e visão que geram emprego e riqueza para o país.

Ao longo de vários episódios, serão conhecidos vários casos de sucesso de PME portuguesas, que venceram o prémio Heróis PME, em diferentes categorias, desde 2017.

O primeiro episódio, que teve como tema a “Internacionalização”, contou com a presença de Bernardo Maciel, CEO da YunitConsulting, e de dois vencedores do prémio Heróis PME, nas categorias de Internacionalização e de Startup Inovação, respetivamente: Paulo Ribeiro, CEO da Linkare TI; e Tim Vieira, fundador e CEO da Brave Generation Academy (BGA).

“O sucesso do prémio Heróis PME deve-se, sobretudo, ao facto de realmente termos heróis nas nossas empresas. A iniciativa foi uma tentativa de trazer à ribalta e dar destaque a empresas que, muitas vezes, ficam fora dos meios, quer pela sua dimensão, mas também pelo seu foco que, normalmente, não está centrado na comunicação, mas sim na operação. Muitas vezes, estas empresas não se apercebem do percurso que fizeram e do exemplo que podem ser para outras empresas. São histórias sempre muito interessantes, histórias que passaram as suas dificuldades, mas essas são as mais ricas e as que podem ensinar muito mais”, começou por dizer Bernardo Maciel.

O prémio, que começou a ser atribuído em 2017, tem, de acordo com o CEO da Yunit Consulting, recebido cada vez mais candidaturas: “Temos notado maior adesão. Inicialmente, tínhamos só um prémio principal do grande vencedor dos Heróis PME. Mais tarde, criamos várias categorias para poder dar destaque a um conjunto de particularidades que, para nós, continua a ser interessante dar valor, tais como a internacionalização, as startups, a transformação digital, a sustentabilidade e, este ano, dividimos em subcategorias o prémio principal em micro, pequenas e médias empresas, não por uma questão de nomenclatura formal, mas por uma questão de equidade na comparação daquilo que é o projeto empresarial quando temos de tomar uma decisão sobre os vencedores“.

Na última edição dos Heróis PME, a Linkare TI foi uma das PME vencedoras na categoria de internacionalização. Paulo Ribeiro, CEO da empresa, revelou que começaram o processo de internacionalização em 2010 e que este tem sido “um dos elementos que nos dá grande satisfação e que tem contribuído muito para aquilo que hoje é a Linkare como empresa, bem como para as pessoas que conseguimos reunir e manter connosco, porque nos tem permitido participar em projetos e trabalhar com clientes muito desafiantes, muito exigentes, e isso tem sido particularmente interessante”.

Aquilo que nos levou a procurar a internacionalização não foi a necessidade, foi a vontade e a ambição. Nós acreditávamos em nós, na nossa capacidade de competir, então foi uma forma de demonstrarmos a nós próprios que éramos capazes. E por isso é que decidimos internacionalizar a Linkare para alguns dos mercados mais competitivos e mais exigentes. Um segundo fator para internacionalizar foi a vontade de aprender, de melhorar com o conhecimento que obtemos nesses mercados”, acrescentou.

A mesma opinião foi partilhada por Tim Vieira, CEO da BGA, que venceu o prémio Heróis PME na categoria de Startup Revelação, na última edição: “O risco é não fazer, não acreditar. Se conseguimos vender um produto em Portugal, é quase certo que vamos conseguir vender lá fora, porque aqui é competitivo. Às vezes, quando vamos lá para fora, até percebemos que é muito mais fácil. Gostam muito dos portugueses. Até a forma como os portugueses trabalham vai valer muito porque somos muito humanos, temos muitas skills, conseguimos falar e desbloquear desafios porque é a nossa escola, então vamos ter muitas vantagens“.

Ser empresário em Portugal é ser herói

Tim Vieira garantiu, ainda, que pretende que a sua empresa continue a ser uma startup por muito tempo pelo mindset empreendedor que esta categoria traz: “Eu gosto mais quando estamos a tentar crescer e a ultrapassar, temos que estar sempre a lutar”. Nesse sentido, considera que receber o prémio Heróis PME foi muito gratificante, não só para a equipa, mas para todos os que fazem parte dela. “O prémio, para nós, foi mesmo um prémio para todos – para os nossos alunos, que escolheram a BGA; para os pais, que tiveram de ser muito brave para virem; e para as nossas pessoas da equipa, que inicialmente nem sabiam o que estavam a fazer. Ninguém sabia o que era um learning coach, como é que fazíamos… Mas é aí que uma startup começa“, contou o CEO da BGA.

Por sua vez, Paulo Ribeiro revelou que a distinção com o prémio Heróis PME se desenvolveu “em vários setores”: “Primeiro, vou dizer interno porque foi o reconhecimento do trabalho feito por uma equipa que contribuiu para este caminho. Depois, também, o reconhecimento externo junto de clientes, junto de parceiros, isso também foi interessante. E até contribuiu para gerar algumas novas oportunidades de negócio“.

Contudo, apesar do reconhecimento, os vencedores concordam que as dificuldades são realmente muitas para alguém ser empreendedor e ter a sua própria empresa em Portugal. “As PME são empresas muito importantes porque são as que pagam muitas taxas e empregam muitas pessoas. Mas, às vezes, eu sinto que se elas querem criar riqueza quase que são castigadas e parece que os que não querem fazer nada é que são bons. Acho que temos de mudar essa ideia. Para o país todo crescer, temos de ter mais startups. Muitas vão morrer, mas não faz mal, são experiências, é aí que há networking, é aí que há um ecossistema, aí é que coisas boas acontecem”, referiu Tim Vieira.

Bernardo Maciel acrescentou que uma PME também que há um conjunto de desafios que não deveriam estar na mesa quando se é empresário de uma PME, mas há também um olhar para trás e ver o caminho notável que foi feito nos últimos 40 ou 50 anos: “Nós vimos de um país, nos anos 70, no qual a economia estava completamente virada para dentro, salvo algumas exceções. A educação era muito parca na generalidade da população. Entramos, depois, nos anos 70 e 80, nos quais fizemos este caminho de nos abrirmos para o mundo, obrigatoriamente, com mais formação, mais capacidade de conhecer as coisas e de investir e, hoje, estamos a começar a sentir as dores de quem é consciente do caminho que está a fazer“.

Hoje o empresário português já conhece os riscos. O empresário português dos anos 70 e 80 não conhecia os riscos, se calhar por isso é que foram tendo sucesso porque era um aventureirismo quase à descoberta, sem a noção do impacto que as coisas teriam, mas hoje há essa noção e isso é um sinal de maturidade das nossas empresas. A nossa maior dificuldade é a nossa dimensão física, não a psicológica e mental. Nós temos a limitação física por sermos um país pequeno, então temos esta ambição de correr riscos conscientes ou inconscientes, onde o sucesso não é óbvio. Tem de haver estímulo para ganharmos mais escala porque temos capacidade inventiva e de receber bem quem traz capital e know-how, temos capacidade de relação e comercial, mas temos muito caminho a fazer”, continuou.

Impostos são entrave ao crescimento

Esse caminho implica, naturalmente, pessoas com talento e com ambição para alavancar negócios. Contudo, a atração de talento tem sido outra grande dificuldade com a qual as PME se debatem e Paulo Ribeiro justifica este problema com a incapacidade que as empresas portuguesas têm, face a empresas estrangeiras, de oferecer a mesma qualidade de vida aos seus funcionários.

“Exemplo: uma empresa portuguesa em competição com uma empresa irlandesa pela contratação de um profissional qualificado. Se eu quiser contratar alguém a quem vou pagar 3500 euros por mês, para que essa pessoa receba o mesmo valor líquido que uma empresa irlandesa pode oferecer, a Linkare teria um custo superior em 40% ao custo da empresa irlandesa por causa dos impostos e por causa das contribuições sociais. Ou seja, essa pessoa tem, na Irlanda, com os mesmos 50 mil euros anuais, um rendimento líquido muito maior e a empresa irlandesa tem um custo muito menor que o meu. Portanto, para eu oferecer a essa pessoa o mesmo valor líquido, tenho de oferecer mais de 60 mil euros de ordenado e tenho um custo que é 40% superior ao da empresa irlandesa. Como é que eu consigo competir?“, questionou o CEO da Linkare TI.

Nesse sentido, Tim Vieira destacou a importância de se começar a mudar esta tendência em Portugal, até para manter os portugueses no seu país: “As empresas portuguesas querem pagar mais e as pessoas querem ficar cá. Mas sempre que as empresas querem pagar mais, pagam mais ao Estado e não à pessoa. A pessoa fica com um bocadinho. E eu acho que é isso que temos de começar a mudar. Temos de ter uma legislação que nos ajude a dar um crescimento de salário, sem mais nenhum custo para a empresa nem para a pessoa”.

Outra questão, apontada por Paulo Ribeiro, foi a pouca flexibilidade do regime de IVA em Portugal. “Face àquilo que são os padrões de prazos de pagamento na economia nacional, o regime de IVA é muito pouco flexível e obriga as empresas a terem a capacidade de antecipar o pagamento de impostos face a receberem o correspondente dos seus clientes“, disse.

Bernardo Maciel explicou mais detalhadamente esta situação: “Nós não temos legislação prática para resolver o tema das cobranças. Ou seja, há uma fatura enviada, a lei diz que há cinco dias para devolver. Na legislação anglo-saxónica, uma fatura que não é devolvida, passa a um título executivo ao fim de duas ou três semanas. Aqui, se não te pagarem, são anos em tribunal para te resolverem o assunto, e tens de pagar o IVA na mesma. A legislação é muito complexa para resolver assuntos e isso estagna as empresas“.

“Este país tem que perceber que não podemos andar à deriva. Muitas vezes corre bem porque os empreendedores fazem uma força espetacular. Mas temos de perceber qual é a visão de Portugal. Não é só dizer que somos uma startup nation, temos que começar mesmo a fazer as coisas acontecerem. Todos nós queremos isso, até porque a motivação não é dinheiro, a motivação é fazer crescer este país, termos os nossos filhos e os nossos netos a ficarem cá. Por isso, precisamos destas empresas e destes casos de sucesso“, concluiu Tim Vieira.

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