Regulador aceita OPA da Bondalti sobre Ercros e espera decisão de Sánchez
O regulador tem agora um prazo de 20 dias para decidir se autoriza a oferta da química portuguesa sobre a Ercros. Antes da decisão da CNMV, o Governo terá que se pronunciar sobre a OPA.
O regulador do mercado espanhol, a Comisión Nacional del Mercado de Valores (CNMV), aprovou o início de avaliação da oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela portuguesa Bondalti sobre a gigante espanhola Ercros, um negócio de 329 milhões de euros. O regulador tem agora 20 dias para decidir se autoriza a oferta. Para que a operação possa avançar, o Governo espanhol terá também de pronunciar-se, podendo recorrer ou não ao chamado “escudo anti-OPA”.
Está dado o primeiro passo na OPA da Bondalti sobre a Ercros. O regulador do mercado de capitais espanhol aceitou a oferta, na qual a empresa do Grupo José de Mello oferece 3,26 euros por cada ação da empresa espanhola, considerando que a química portuguesa cumpriu todos os formalismos legais. Com este registo, a CNMV fica agora a aguardar a decisão do Executivo espanhol, liderado por Pedro Sánchez, sem a qual não poderá produzir uma decisão final sobre a oferta.
Em causa está o chamado “escudo anti-OPA”. Trata-se de um mecanismo aprovado por altura da pandemia para evitar que investidores estrangeiros tomassem posições relevantes em empresas estratégicas espanholas, aproveitando as baixas cotações bolsistas, na sequência da correção dos mercados na covid-19. Para que a oferta possa avançar, a OPA terá que ser aprovada em Conselho de Ministros, no país vizinho.
Apenas após este desbloqueio é que o regulador poderá pronunciar-se. A CNMV dispõe de um prazo de 20 dias para dizer se aceita a OPA, após dar início ao registo. Mas poderá prolongar este prazo quantas vezes entender. É habitual o regulador demorar cerca de meio ano a autorizar as ofertas.
Também o Governo dispõe de um prazo de três meses para aprovar a operação, mas Sanchéz também pode estender este prazo.
Para evitar a oposição do Executivo espanhol, a empresa portuguesa lançou a oferta através da sua filial espanhola, a Bondalti Ibérica, com sede em Barcelona, comprometendo-se ainda a manter a sede da empresa em Espanha, assim como os postos de trabalho. Sublinhou ainda, no anúncio da OPA, que tem “plena confiança no trabalho da equipa de gestão” liderada por Antonio Zabalza e que tem sido criticado pelo novo maior acionista do grupo espanhol.
A Autoridade da Concorrência (AdC), após ter sido notificada a 8 de março sobre a OPA, lançou o respetivo Aviso, que dá um prazo de dez dias úteis para que os interessados possam expor as suas objeções.
A oferta terá ainda que receber luz verde da Comisión Nacional de los Mercados y la Competencia (CNMC), a congénere espanhola da AdC. Por fim, embora a empresa portuguesa confie que isso não venha a ser necessário, poderá ainda haver lugar a um pronunciamento por parte da Comissão Europeia.
Apenas uma vez obtidas todas estas autorizações e dada a luz verde por parte da CNMV, a OPA poderá arrancar, dando um prazo de 30 dias aos acionistas para decidir se vendem as suas ações à Bondalti.
Poder na mão dos pequenos investidores
O sucesso da Oferta será decidido pelos pequenos investidores. Menos de 21% das ações correspondem a participações superiores a 3% do capital. O maior acionista da Ercros é, desde o passado dia 11 de março, o advogado Víctor Manuel Rodríguez Martín, que liderou importantes revoltas de pequenos investidores à frente da Ercros.
Víctor Rodríguez Martín reforçou a sua participação na Ercros de 5,52% para 6,092%. Com este aumento da posição, o advogado ultrapassou os 6,015% detidos pelo empresário Joan Casas Galofré. O advogado adquiriu 0,572% do capital da gigante espanhola, num investimento de 1,79 milhões de euros, elevando o valor total da sua posição para 18,9 milhões de euros.
Apesar de o advogado ser o maior investidor individual, o casal Joan Casas Galofré e Montserrat García Pruns (6,015%+3,61%) controla junto perto de 10% do capital, surgindo como os principais beneficiários da oferta, caso decidam aceitar os termos propostos pela empresa lusa. Se venderem na OPA encaixam 31 milhões de euros. Já o fundo norte-americano Dimensional Fund, participado pelo ex-ator e governador Arnold Schwarzenegger, detém 4,99%.
Este movimento mostra que Víctor Rodríguez Martín estará a preparar a sua oposição à OPA de 329 milhões de euros lançada pela empresa detida pelo Grupo José de Mello sobre a química espanhola. A contrapartida de 3,6 euros oferecida pela Bondalti implica um prémio de 40,6% face à cotação de fecho registada na véspera do anúncio da OPA (2,56 euros). Mas este valor está cerca de 20% abaixo do máximo de 4,80 euros fixado há menos de um ano, em abril de 2023.
Segundo o Expansión, o advogado considera que a oferta da Bondalti “é baixa e aproveita a debilidade da empresa”, criticando a gestão de Antonio Zabalza no último ano. Ainda segundo o jornal espanhol, Víctor Rodríguez Martín estará convicto que a “Bondalti não alcançará 75% da OPA, mas ficará na estrutura acionista controlando a empresa”.
Também a administração da empresa emitiu um primeiro comunicado em reação à OPA, adiantando que a oferta da Bondalti é “não solicitada” e “não acordada”.
(Notícia atualizada às 12:10)
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