O grande desafio do próximo presidente do FC Porto
A gestão de um passivo de mais de 500 milhões de euros será central na estratégia de Jorge Pinto da Costa ou de André Villas-Boas na liderança do Dragão. Eleições decorrem hoje.
Às vésperas de uma eleição crucial para a presidência do Futebol Clube do Porto (FC Porto) e, por extensão, da sua Sociedade Anónima Desportiva (SAD) — que é detida em 74,5% pelo clube –, são muitos os desafios que o Dragão enfrenta pela frente e que moldarão o futuro, independentemente do resultado das eleições entre os dois principais concorrentes à vitória: Jorge Nuno Pinto da Costa, que lidera o clube há 42 anos, e o ex-treinador de futebol André Villas-Boas, que na época 2010/2011 levou o FC Porto à conquista de uma Supertaça Cândido de Oliveira, um Campeonato Nacional, uma Liga Europa e uma Taça de Portugal. No centro da estratégia do próximo líder do FC Porto estará uma gestão desportiva eficaz com uma estratégia financeira que permita equilibrar a ambição dentro das quatro linhas com a sustentabilidade económica do clube.
Se no futebol a época está longe das glórias do passado, com o clube já arredado matematicamente da luta pelo primeiro lugar do Campeonato, no campo financeiro os números permanecem bicudos há vários anos seguidos, como resultado de um passivo demasiado elevado para os ativos que o clube apresenta e que desde 2016 colocam a SAD azul e branca num nível de falência técnica.
Apesar da melhoria dos capitais próprios e de um resultado líquido consolidado positivo de 35 milhões de euros no primeiro semestre da atual época desportiva, os números da SAD azul e branca evidenciam um passivo superior a 512 milhões de euros que persiste, apesar das recentes valorizações e esforços de reestruturação da dívida.
É isso que voltaram a mostrar as contas anuais do último relatório e contas publicado na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), com a SAD portista a registar capitais próprios negativos de 211 milhões de euros até junho de 2023. Esta situação reflete as dificuldades prolongadas na gestão financeira do clube e da SAD, que foram agravadas pelos desafios da pandemia e que impactaram significativamente as receitas do clube, particularmente no que diz respeito à bilheteira e aos eventos.
No entanto, no primeiro semestre da época 2023/2024 (terminado a 31 de dezembro de 2023), a SAD liderada por Pinto da Costa promoveu uma operação contabilística associada à reavaliação do seu estádio, que resultou num incremento dos ativos fixos tangíveis e uma reserva de reavaliação, que beneficiou os capitais próprios da empresa em mais de 167 milhões de euros.
Essa operação fez com que a FC Porto SAD encerrasse as suas contas no final do ano passado com capitais próprios negativos de “apenas” 8,5 milhões de euros – que com o registo dos 9,6 milhões de euros do acesso aos oitavos de final da UEFA Champions League pela equipa principal de futebol, levaria os capitais próprios da SAD a ficarem positivos em 1,1 milhões de euros.
A equipa de Villas-Boas pretende manter o atual modelo de propriedade do clube e da SAD. A prioridade da sua gestão passará pela redução do passivo através, essencialmente, de uma avaliação, negociação e renegociação da dívida.
Apesar da melhoria dos capitais próprios e de um resultado líquido consolidado de 35 milhões de euros no primeiro semestre da atual época desportiva, os números da SAD azul e branca evidenciam um passivo superior a 512 milhões de euros que persiste, apesar das recentes valorizações e esforços de reestruturação da dívida, aos mesmo tempo que se depara com uma dívida financeira nominal de 311 milhões de euros, que apresenta uma taxa de juro média anual de 6,46%.
Para a atual direção liderada por Pinto da Costa, a “reformulação da dívida” e do passivo da SAD passará pela injeção de 65 milhões de euros da sociedade de investimento Ithaka numa nova empresa do grupo do FC Porto que irá explorar as receitas do Estádio do Dragão nos próximos 25 anos, e pela contratação de um financiamento (que ainda não está fechado) de 250 milhões de euros com custos mais baixos.
Já para a equipa de Villas-Boas, que pretende manter o atual modelo de propriedade do clube e da SAD, a prioridade passará pela redução do passivo através, essencialmente, de uma avaliação, negociação e renegociação da dívida, refere o programa eleitoral da sua candidatura. “Iremos realizar uma revisão completa das obrigações de dívida existentes no clube, incluindo taxas de juros, prazos de pagamento e passivo geral”, que será acompanhado por “negociações construtivas com credores para explorar oportunidades de reestruturação da dívida.”
Aliás, Villas-Boas revelou há dias que os bancos de investimento JP Morgan, Morgan Stanley e Goldman Sachs estão interessados em renegociar a dívida do FC Porto. “Sentámo-nos com três dos principais bancos do mundo e todos mostraram interesse em trabalhar com o FC Porto para a renegociação da dívida”, referiu à Lusa o candidato da lista B à presidência do FC Porto nas eleições do clube.
Apesar dos recentes progressos na melhoria da situação financeira da SAD portista, os desafios permanecem, principalmente no que se refere à gestão de dívida e à dependência de receitas variáveis. A estratégia de longo prazo da SAD, especialmente em relação a parcerias estratégicas e investimentos em infraestruturas, revela-se crucial para estabilizar e melhorar a saúde financeira do clube que soma 130 anos de vida.
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