Sem surpresas, Reserva Federal mantém taxas de juro inalteradas
Pressionada pela inflação, a Fed manteve as taxas de juro em 5,25%-5,50%. "Não estão garantidos novos progressos na redução [da inflação] e o caminho a seguir é incerto", vincou Jerome Powell.
A Reserva Federal norte-americana (Fed) esta quarta-feira manteve inalteradas as taxas de juro, prolongando assim um ciclo de pausa que começou em setembro de 2023 após uma longa sequência de subidas para combater a inflação.
A decisão do Federal Open Market Committee (comité de política monetária) de manter as Fed Funds Rates no intervalo entre 5,25% e 5,50% era amplamente esperada pelos analistas e reflete a resposta da Fed aos resilientes níveis inflacionistas que se têm verificado no país.
“Indicadores recentes sugerem que a atividade económica continuou a expandir-se a um ritmo sólido”, explicou a Fed, em comunicado, adiantando que os ganhos de emprego mantiveram-se fortes e a taxa de desemprego manteve-se baixa.
O banco central reiteirou que a inflação abrandou no último ano, embora continue elevada, mas acrescentou uma frase que não constava da comunicado da reunião anterior, em março: “Nos últimos meses, não se registaram novos progressos no sentido do objetivo de inflação de 2% do comité“.
“O comité procura alcançar um nível máximo de emprego e uma taxa de inflação de 2% a longo prazo”, explicou a Fed, comunicado, adiantando que considera que os riscos para atingir os seus objetivos de emprego e de inflação se tornaram mais equilibrados ao longo do último ano, que as perspetivas económicas são incertas e que o Comité continua muito atento aos riscos de inflação.
“Para apoiar os seus objetivos, o comité decidiu manter o intervalo de objetivo para a taxa dos fundos federais em 5,25% a 5,50%”, referiu, sublinhando que “ao considerar quaisquer ajustamentos ao intervalo do objetivo para a para a taxa dos fundos federais, o Comité avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspetivas e o equilíbrio dos riscos”.
A Fed vincou ainda que o comité “não espera que seja apropriado reduzir o intervalo do objetivo até ter adquirido maior confiança de que a inflação está a evoluir de forma sustentável para 2%”.
Os dados mais recentes do Departamento de Estatísticas dos EUA mostraram que, em março, o índice de preços ao consumidor (IPC) surpreendeu o mercado, ao apresentar um crescimento em cadeia de 0,4% (face a uma previsão de 0,3%) e um crescimento homólogo de 3,5% (eram esperados 3,4%). A tendência foi semelhante para a inflação subjacente, que registou um aumento homólogo de 3,8% (eram estimado 3,7%).
A Fed acrescentou que o comité continuará a reduzir o nível que detém de Treasuries (dívida soberana) e de títulos de dívida de agências e títulos garantidos por hipotecas de agências.
No entanto a partir de junho, o Comité irá abrandar o ritmo dessa redução, cortando o limite de resgate mensal de Treasuries de 60 mil milhões de dólares para 25 mil milhões.
A decisão da Fed manter as taxas pela sexta vez consecutiva poderá ser vista não apenas como um sinal de estabilidade, mas como uma declaração de confiança de que a economia dos EUA ainda tem o que é necessário para combater a inflação sem recorrer a medidas drásticas.
Porém, por outro lado, os mercados começam também a mostrar alguma impaciência, dado que não há muito tempo o mercado de futuros descontava cortes acumulados de 150 pontos base das Fed Funds ao longo de 2024, com a primeira redução a surgir em março.
“Não sei quando vai acontecer”, diz Powell
Em conferência de imprensa, Jerome Powell, presidente da Fed reiterou que a inflação continua a ser demasiado elevada. “Não estão garantidos novos progressos na sua redução. E o caminho a seguir é incerto“, frisou.
Nesse contexto, Powell foi questionado sobre as condições poderiam levar a um aumento das taxas. “Penso que é pouco provável que a próxima alteração da taxa diretora seja uma subida, eu diria que é pouco provável”, disse. “O nosso foco político é quanto tempo manter a política restritiva. Perguntam o que é que seria necessário? Precisamos de ver provas persuasivas de que a nossa orientação não é suficientemente restritiva para fazer descer a inflação para 2%”.
“Não é isso que penso que estamos a ver, como já referimos”, sublinhou. “Analisamos a totalidade dos dados para responder a essa pergunta, isso inclui a inflação as expectativas de inflação e todos os outros dados também”.
Por outro lado, questionado se, dado que já estamos em maio, a Fed ainda terá tempo para fazer três cortes nas taxas de juro ainda este ano, Powell respondeu que vai demorar mais do que o banco central esperava em atingir o ponto de confiança sobre a redução da inflação.
“Não estou a pensar nisso dessa forma. O que dissemos foi que precisamos de ser mais confiantes e dissemos – os meus colegas e eu próprio dissemos hoje que não registámos progressos no primeiro trimestre”, afirmou. “E eu disse que, nessa altura, parece que vai demorar mais tempo até atingirmos esse ponto de confiança“.
“Não sei quanto tempo vai demorar. Posso apenas dizer que, quando tivermos essa confiança, as reduções de taxas serão possíveis e não sei exatamente quando é que isso vai acontecer“, adiantou.
Respondendo aos jornalistas com bastante cautela, o presidente da Fed disse que não lida em probabilidades. “Há caminhos que a economia pode seguir e que implicam cortes e há caminhos que não. Não tenho grande confiança em qual desses caminhos [irá acontecer]”.
“Diria que a minha previsão pessoal é que começaremos a ver mais progressos na inflação este ano“, sublinhou. “Não sei se serão suficientes, se serão suficientes, também não sei se não será, teremos de deixar que os dados nos orientem nesse sentido”.
Questionado sobre se a realização de eleições presidenciais em novembro deste ano poderá ter influência na decisão da Fed sobre as taxas de juro, Powell reiterou a independência do banco central.
“Vamos sempre fazer o que pensamos ser a coisa certa para a economia quando chegarmos a essa opinião consensual de que é a coisa certa a fazer para a economia, é esse o nosso historial, é isso que fazemos e não estamos a olhar para mais nada”, referiu, adiantando que “já é suficientemente difícil acertar na economia“.
“Estas coisas são difíceis e se tivéssemos de considerar todo um outro conjunto de factores e utilizá-lo como um novo filtro, isso reduziria a probabilidade de conseguirmos realmente acertar na economia”, explicou. “Por isso, não me canso de o dizer. Não vamos por esse caminho. Se formos por esse caminho, onde é que paramos?”
(Notícia atualizada pela última vez às 20h06)
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