Como a Zurich já está a usar Inteligência Artificial em Portugal
Rosário Lima, Chief Claims Officer da Zurich Portugal, explica como a seguradora já está a usar a IA em gestão e prevenção de sinistros.
As ferramentas de inteligência artificial (IA) continuam a estar na mira do setor segurador. A Zurich não é exceção – terminou agora o piloto “e provavelmente” vai implementar uma ferramenta de leitura ótica e automática com recurso à inteligência artificial.
Este mecanismo permite registar automaticamente, “rapidamente e de forma mais célere” as participações de declarações amigáveis. “A leitura dos nomes é quase impercetível para o ser humano e a máquina consegue lê-los na perfeição”, disse Rosário Lima, Chief Claims Officer da Zurich Portugal em entrevista ao ECOseguros.
A responsável refere que “aquilo que um conjunto de pessoas poderia demorar um dia, no futuro vamos demorar umas horas”, e também a ferramenta oferece a possibilidade de alcançar “rapidamente” os clientes.
Além disso, já recorre a IA para gerir sinistros através da extração de dados que permitem, entre outras funções, averiguar quem são os bons condutores que usufruem do seu seguro automóvel, para os quais “há um conjunto de bónus que estão associados à tipologia do contrato”, afirmou Rosário Lima.
Esta ferramenta consegue extrair dados automaticamente de relatórios de peritagem, a partir dos quais se averigua se os custos com os sinistros nas diferentes áreas de cobertura estão mais caros e as respetivas razões. O que também permite a empresa entender quais os riscos que não interessam cobrir, explica a responsável.
Além da aposta nesta tecnológica, a Zurich tem “cada vez mais incorporado” no seu “portefólio especialistas na área de inteligência artificial”. Também apostam em data scientists para o apoio na gestão das atividades diárias da seguradora e no serviço que prestam ao cliente.
Aumento de velocípedes acidentados
A carteira da Zurich tem registado maior gravidade nos sinistros rodoviários, principalmente devido ao aumento “nos sinistros que envolvem viaturas como velocípedes, motociclos e também peões“. Uma vez que, acidentes que envolvem velocípedes (como bicicletas e trotinetes) e motociclos, como motas, “tendem a ser mais gravosos ao nível de danos corporais graves, lesões incapacitantes neurológicas, lesões que provocam paraplegia e tetraplégica”, explica Rosário Lima.
As afirmações da responsável espelham-se com os dados divulgados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) que dá conta em 2023 observaram-se mais acidentes (6,7%), mais cinco vítimas mortais (1,1%), mais 194 feridos graves (8,6%) e mais 2.602 feridos leves (6,8%) face a 2022.
A autoridade notou um aumento significativo de motociclos (mais 25,8% face a 2019 e +16,4% comparando com 2022) e nos velocípedes (+38,2% e +8,1%, nos mesmos anos) envolvidos em acidentes rodoviários. Nesse sentido, a especialista considera também provável existir uma relação entre o maior número de acidentes e a maior utilização de velocípedes.
Além disso, “nós sentimos que não há proteção. Grande parte dos acidentes com velocípedes acidentados não utilizam capacete de proteção ou joelheiras ou outro tipo de proteções que possam ajudar em caso de queda ou embate”, refere. “Nestes casos, a proteção é o corpo, não há outra forma de se dizer” reitera.
Colisões frontais de motociclos e atropelamentos são a maioria de acidentes mortais
Certo é que a experiência da Zurich nota que a maioria dos acidentes mortais registados na sua carteira “são de uma tipologia de acidentes violenta, no sentido que são embates frontais que envolvem, normalmente, viaturas motociclos e também os casos dos atropelamentos”, referiu a responsável.
A especialista dá conta ainda não existem resultados conclusivos que reúnam todos os responsáveis pelo aumento dos acidentes no ano passado face a 2022 em Portugal, e também na carteira da Zurich. No entanto, refere que, além do aumento do uso de velocípedes e motociclos, a “velocidade excessiva e maior distração” são alguns dos fatores em causa.
Além disso, ainda há muitas pessoas que não têm literacia a propósitos das regras do Código da Estrada (como a regra da prioridade e o funcionamento dos cruzamentos de veículos) levando ao desrespeito, voluntário ou involuntário, das regras gerais.
Para inibir o comportamento irresponsável, Rosário Lima considera que se deve rever a forma como se lida judicialmente com as condutas de condução “que são criminosas”. Por condutas criminosas entende-se a condução com taxas superiores a 3,5 de álcool, indivíduos que tomam medicação que os deixa incapazes de conduzir em segurança, por exemplo, que “resultem ofensas corporais graves ou mesmo morte relativamente aos acidentados”, refere. Que, ainda que sejam “criminalmente puníveis de acordo com o nosso código penal”, considera que “há um certo branqueamento de determinado tipo de comportamentos” e “depois o enquadramento penal é só a multa, a contraordenação, a suspensão de conduzir por um ou dois anos e fica por aqui”, remata.
A responsável considera que esta é um tópico de deve ser olhado “Não estou a fazer esta apologia. Estou a dizer é que é possível e é preciso dar relevância a determinado tipo de comportamentos que são criminalmente puníveis porque já são de acordo com o nosso Código Penal”, afirmou a Chief Claims Officer da Zurich Portugal.
Aliás, há países onde se aplica pena efetiva para este tipo de comportamento. Ainda que não disponha de dados globais da carteira da Zurich quanto à sinistralidade nos países mais rigorosos na aplicação da lei, não deixa de alertar que “Portugal é dos países com índice de sinistralidade mais elevado, comparativamente com outros países da comunidade. Portanto, naturalmente que nós temos níveis de mortalidade superiores”.
Rosário Lima não deixa de reconhecer que tem existido um caminho e tentativas com sucesso para prevenção de acidentes, como é o caso dos radares que são “dissuasores de velocidade”.
Seguradora duplica capital de indemnização caso vítima mortal tenha usado cinto
Uma das formas que a Zurich optou para sensibilizar os segurados a adotar medidas de segurança está relacionado com o capital que o beneficiário do seguro automóvel recebe em caso de morte do segurado – se o cliente estiver a utilizar cinto de segurança “duplicamos o capital” – “é obrigatório (o uso do cinto), mas assim há um incentivo à sua utilização”.
Rosário Lima afirma que o aumento da sinistralidade, juntamente com inflação, severidade, risco, frequência e tipologia de acidente torna necessário o ajustar do prémio para atingir “equilíbrio financeiro” entre as receitas e despesas. “E não podemos ter obviamente desequilíbrios financeiros que nos podem causar situações que não são sustentáveis durante muito tempo, sabendo nós que às vezes nem sempre fazemos repercutir nos nossos segurados os exatos termos em que há o aumento”, acrescenta.
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