Madeira vai a eleições e prepara-se para voltar a pintar-se de laranja. “PSD está enraizado”

Depois da demissão em fevereiro, madeirenses devem revalidar o regresso de Albuquerque à Quinta Vigia, este domingo. Geringonça mantém-se no horizonte de Cafôfo.

A Madeira vai a votos este domingo pela terceira vez no espaço de um ano. As suspeitas de corrupção derrubaram Miguel Albuquerque da presidência, em fevereiro, mas as consequências podem ser de pouca dura. A região autónoma deverá manter-se fiel ao laranja e voltar a eleger o presidente demissionário. A razão é simples: “O PSD tem obra feita e está enraizado na Madeira. Os madeirenses sentem-se seguros“, diz Paulo Duarte, professor e investigador de Ciências Políticas na Universidade Lusófona ao ECO. E tanto a história como a única sondagem conduzida até agora apontam nesse sentido.

O inquérito realizado pelo Diário de Notícias Madeira e para TSF Madeira, divulgado na sexta-feira passada, indica que o PSD reúne 38,1% das intenções de votos, insuficiente para uma maioria absoluta na Assembleia Legislativa regional mas suficiente para Albuquerque regressar à Quinta Vigia. Para conseguir uma maioria, terá de se coligar com o Chega, que, de acordo com a mesma sondagem, poderá alcançar 10,8% dos eleitores, pouco para se tornar na terceira força política. Esse lugar deverá ser preenchido pelo Juntos Pelo Povo (JPP) que nesta sondagem acumula 16% das intenções de voto.

“Luís Montenegro disse “não é não” ao Chega, no continente, mas Albuquerque acredita que quanto mais se nega ao Chega mais forte ele fica“, acrescenta o politólogo da Lusófona. Terá sido por esta divergência governativa, que o primeiro-ministro e líder do PSD no continente se manteve afastado da campanha dos sociais-democratas na região.

Uma possível coligação colocaria o Chega em contradição uma vez que o combate à corrupção tem sido uma das bandeiras de André Ventura, que fez questão de estar ao lado de Miguel Castro no terreno e até protagonizar os cartazes do partido durante a campanha eleitoral na Madeira (ainda que o próprio não possa ser eleito na região).

Um acordo entre o PSD e o Chega colocaria [o partido de André Ventura] numa situação delicada a prazo. O Chega deixaria de poder dizer que é anti-sistema porque passaria a fazer parte dele. E se no futuro houver problemas [de corrupção] dentro do Governo, o Chega já faria parte deles“, aponta André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. “Pode não ser a melhor estreia governativa para o Chega“, diz.

O presidente do Chega, André Ventura, acompanhado do cabeça de lista do partido às eleições regionais, Miguel Castro, esta tarde durante uma ação de campanha no Funchal, Madeira,

 

Naquela região, diz o politólogo, existe uma perceção significativa de que a corrupção está enraizada e, por isso, as suspeitas sobre Miguel Albuquerque produzem “poucos efeitos negativos” sobre o eleitorado do PSD.

É possível que as próprias suspeitas não tenham sido uma novidade para o eleitorado. Podemos estar perante uma situação em que a investigação não acrescenta muito à perceção dos eleitores, uma vez que uma parte significativa reconhece que há problemas significativos de más práticas governativas na Madeira”, diz Azevedo Alves.

É perante esta realidade que o Chega exigiu como condição, para apoiar um possível governo de Albuquerque, a realização de uma auditoria às contas públicas da região, como um sinal de que não se vai colar ao PSD Madeira “sem mais nem menos”, diz Paulo Duarte.

Entre apoiar um candidato com suspeitas de corrupção da esquerda ou um da direita, para o Chega é mais aliciante ter alguém da direita”, simplifica Paulo Duarte. No entanto, ainda nada é certo. As investigações estão a decorrer. Em causa estão três inquéritos que incluem suspeitas de corrupção e outros crimes praticados por altos titulares de cargos públicos e políticos na Madeira, a começar pelo presidente do Governo Regional e líder do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, e o seu antigo vice e atual presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado.

Podemos estar perante uma situação em que a investigação não acrescenta muito à perceção dos eleitores, cuja uma parte significativa, reconhece que há problemas significativos de más práticas governativas na Madeira

André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.

Em sentido contrário, nem o PS deverá sair beneficiado destas eleições. Aos olhos do politólogo da Lusófona, Paulo Cafôfo não é um candidato forte o suficiente para concretizar uma viragem à esquerda. “Duvido que possa haver uma surpresa. A Madeira tem sido fiel ao PSD”, aponta o politólogo.

A sondagem do Diário de Notícias Madeira e TSF Madeira indica que os socialistas devem permanecer como o segundo partido mais votado (20,6%), nestas eleições. Desde 1976 que todos os líderes socialistas partilham o mesmo resultado: a derrota.

O PS continua a ser uma alternativa fraca e pouco credível na região“, aponta, por seu turno, o professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. Este cenário não agrada ao secretário-geral do PS Madeira que admitiu negociar com todos os partidos, no dia seguinte às eleições, para encontrar consensos. Para Cafôfo, as linhas vermelhas são traçadas apenas ao PSD e ao Chega.

“No que respeita a acordos, o PS tem as suas linhas vermelhas muito bem definidas. Jamais aceitaremos dialogar com o PSD, como é evidente, que é o grande responsável por este contexto de instabilidade em que vivemos e por 48 anos de desgoverno que deixaram a Região como está hoje, a mais pobre do país. E com o Chega, que é um partido extremista, anti-autonomista e aliado do PSD de Miguel Miguel Albuquerque”, diz fonte oficial do PS Madeira ao ECO, garantido ser “a única garantia de estabilidade” para a região.

JPP ou Chega?

Ao contrário das eleições nacionais, o Chega arrisca-se a perder o lugar de terceiro partido mais votado para o JPP, liderado por Élvio Sousa. Se a tendência da sondagem se confirmar, será o JPP a conquistar mais descontentes e, com isso, a crescer em número de deputados, passando de cinco para oito representantes na Assembleia regional.

O JPP é um fenómeno regional“, aponta Azevedo Alves. “E dependendo da fragmentação partidária, o JPP pode ter um papel importante no pós-eleitoral”, refere o politólogo, acrescentando que o partido pode ajudar à afirmação do PS enquanto alternativa graças à “conjugação de resultados das várias forças políticas”.

“Se o PS formar uma geringonça, será bastante alargada e não se ficará somente entre os partidos de esquerda”, diz, recordando que também a Iniciativa Liberal rejeitou apoiar um Executivo encabeçado por Albuquerque.

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