Igualdade e privilégios
A lei da paridade sexual ou das “quotas” não é mais do que a legalização da atribuição de privilégios através de lugares cativos para pessoas escolhidas por quem os atribui.
Os socialistas veneram a igualdade, elevando-a ao pináculo da civilização, a essência da vida humana e a condição essencial para o todo que nos rodeia. A igualdade é realmente importante, mas não na forma de igualitarismo que os socialistas defendem.
Em termos práticos, o igualitarismo socialista nos resultados requer que haja uma recusa da igualdade de meios para que seja alcançado. A possibilidade de se obterem os mesmos resultados para todos na sociedade, a “igualdade” socialista, só é possível se houver a atribuição de privilégios. Ou seja, a “igualdade” que os socialistas pretendem obter nos resultados requer o exclusivismo para uns e a proibição para outros, sendo por isso a negação da própria igualdade. Esta contradição intrínseca à própria procura de igualdade pelos socialistas não é mais do que a incoerência da sua própria ideologia, demonstrada vezes sem conta nos países de todo o Mundo que a abraçaram no último século.
Todos os governantes socialistas atribuíram privilégios e benesses: aos militares pela força que representam e na qual assentam os regimes socialistas, aos artistas para o seu divertimento, à ‘nomenklatura’ pelo apoio necessário para aprovar decisões e à restante burocracia pela dependência na implementação dessas mesmas decisões.
Os socialistas nunca tiveram problemas de consciência com a atribuição de privilégios. A razão principal é que a atribuição de benesses, e especialmente dos privilégios que estão associados à sua “igualdade”, são uma demonstração prática do seu poder, o fim último da sua ideologia.
Um dos exemplos actuais desta atribuição de privilégios é a lei da paridade sexual ou das “quotas”, que se aplica a cargos de gestão em entidades públicas e privadas. A lei não é mais do que a legalização da atribuição de privilégios através de lugares cativos para pessoas escolhidas por quem os atribui. A própria ideologia valida esta negociata de privilégios para alguns – a que os outros não têm acesso – como forma de afirmação do poder socialista.
Razões válidas para recusar a paridade sexual
A lei usa o sexo como critério para obrigar à integração de pessoas na gestão de qualquer entidade. Esta regra desrespeita a liberdade da sociedade ao impor uma vontade que não faz sentido em termos de racionalidade da gestão dessas entidades. Para além disso, dá benesses a uns à custa do prejuízo de outros, não beneficiando em nada a sociedade.
Não havendo racionalidade prática, a paridade sexual obrigatória é apenas a concretização de um fundamentalismo ideológico pela atribuição de privilégios. Por três razões principais:
1 – A primeira porque é uma injustiça atribuir privilégios sem qualquer fundamentação baseada em benefícios para a sociedade e, ao mesmo tempo, prejudicar todos os restantes a quem é vedada, de facto, uma possibilidade de acesso. Reservar lugares públicos para uns e impedir que outros a eles possam ter acesso é uma evidente injustiça. É a exclusividade dos destinatários que torna a paridade uma atribuição de privilégios e, por isso, uma lei injusta.
Esta injustiça torna-se mais evidente quando é defendida por um socialismo que fala permanentemente em “igualdade de oportunidades”, mas que não tem pruridos em reduzir as oportunidades de alguns para beneficiar outros, confirmando a ideia de que o que lhe interessa é a ideologia, ou seja, alcançar o poder a qualquer custo.
2 – A segunda porque ignora o mérito e a competência que são essenciais para melhorar as sociedades. A atribuição discricionária de privilégios validada pela lei da paridade sexual anula o mérito e a competência e, por esse motivo, as benesses que são dadas em nome da igualdade são, em 99% dos casos, prejudiciais para a sociedade.
Uma feminista justifica a paridade sexual com a falibilidade do mérito, que por esse motivo não é válido para impedir a igualdade militante. A própria feminista reconhece ser difícil encontrar elementos do sexo feminino para preencher os lugares cativos que lhe estão reservados na gestão, valorizando implicitamente a competência que tinha acabado de desvalorizar. E defende que a gestão composta por homens e mulheres é mais produtiva. Mas não há qualquer evidência que uma entidade se torne mais produtiva pelo sexo dos gestores, nem é o sexo que determina a produtividade. A produtividade depende de todos os trabalhadores. O facto de haver mais homens ou mulheres na gestão é irrelevante.
3 – A terceira razão para recusar a paridade sexual pela atribuição de privilégios é a sua aplicação discricionária a alguns casos e a sua negação em outros. O que é obrigatório para a gestão não o é para as famílias, por exemplo. Nas famílias dispensa-se a paridade sexual, apesar de não haver filhos sem a participação de um homem e de uma mulher.
Esta dispensa existe apesar de estar há muito demonstrado que uma criança com Pai e Mãe tem uma probabilidade muito maior de ter uma vida equilibrada, estudar até mais tarde, ter menos problemas com a justiça, ter um emprego estável e não cair em situações prolongadas de desemprego que dificultam o seu regresso ao mercado de trabalho. Mais ainda, aumenta muito a probabilidade de criar filhos que vão ter as mesmas condições de vida.
O benefício para a sociedade de haver um Pai e uma Mãe é evidente. Mas a lei opta pela obrigatoriedade da paridade na gestão e recusa-a na família, incentivando práticas em que as crianças ignoram a sua mãe verdadeira, como a contratação de filhos a ”barrigas de aluguer”.
Esta incongruência tão nefasta mostra que leis como a da paridade não têm qualquer fundamento empírico e são essencialmente questões promovidas por uma ideologia que tem como objectivo final o poder pelo poder. Justiça, mérito e bem estar são questões secundárias para a ideologia socialista quando o que está em causa é o poder a qualquer custo.
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