Nem tudo é Economia
Um dos principais problemas da Economia é a falta de interesse em comunicar com não-economistas. Infelizmente, esta falta de interesse parece ser mútua.
A Economia (ortodoxa) tem um longo historial de críticas. Por exemplo, Pierre-Joseph Proudhon, em “O que é a propriedade?”, um livro publicado em 1840 que ficou famoso pelo hit “Propriedade é roubo”, dizia que a “arrogância e o vazio da escrita dos economistas, o orgulho impertinente e os seus erros injustificados” o enojavam e que “quem, conhecendo-os, os perdoa, pode lê-los”. John Ruskin escreveu, em 1860, em “Unto This Last” que a Economia era uma espécie de “delírio coletivo”. Karl Marx não suportava nem Proudhon nem Ruskin, mas dedicou grande parte da sua carreira a criticar a Economia, dos “métodos quasi-religiosos e ahistóricos” à “ideologia escondida”.
Nos últimos séculos, a Economia mudou mas as críticas continuaram. De clássica passou para neoclássica e depois para a síntese neo-Keynesiana (para os críticos, “neoliberal”). Tornou-se demasiado matemática e teórica (“pseudo-científica”), antes de voltar a ser mais empírica com a revolução da credibilidade (“presunçosa e ignorante das outras ciências sociais”).
Nestes textos semanais, tenho tentado mostrar como a Economia moderna nos pode ajudar a perceber questões importantes nas nossas vidas. Claro que a Economia não é perfeita. Um dos grandes problemas é a ausência de críticos melhores. Por exemplo, Yanis Varoufakis, para mencionar um crítico famoso recente, escreveu um texto a criticar noções básicas de Economia sem sequer as perceber (neste caso, equivoca-se sobre o critério de Pareto). Muitas das reiterações das críticas de Marx e abordagens heterodoxas evitam usar metodologias científicas recentes. Como tal, são facilmente ignoradas por economistas porque “nem sequer estão erradas” (a soberba é real).
No entanto, a economia é muito mais aberta do que alguns dos seus críticos reconhecem. Como não depende de financiamento como as ciências naturais, é relativamente fácil publicar artigos contrários ao pensamento dominante (desde que sejam bem feitos). A cultura de apresentações em seminários e conferências proporciona um ambiente de contraditório constante que seleciona as melhores ideias e as melhores técnicas. Há algumas regras simples. Normalmente é preciso uma teoria para criticar outra teoria e são precisos dados e estratégias empíricas convincentes para mostrar que uma teoria está errada ou fazer argumentos quantitativos.
Deixo as críticas para os especialistas, mas um dos principais problemas é a falta de interesse em comunicar com não-economistas. Infelizmente, esta falta de interesse parece ser mútua. Há algumas exceções importantes, mas o espaço mediático da Economia continua a ser dominado por discussões de política. “Economistas” nem sempre usam os métodos da economia no seu trabalho. Estudos sobre “impacto económico” de políticas públicas, como por exemplo o conjunto de notas que está a passar por estudo de impacto económico das Jornadas Mundiais da Juventude, nem sempre usam as ferramentas básicas da economia. Os recursos disponíveis são gastos noutras coisas.
Este problema de comunicação é uma questão existencial para a Economia. À medida que fica mais complexa e mais obscura, é cada vez mais crucial fazer a ponte entre a Economia, o debate público e a vida das pessoas. Não faço ideia de como conseguir isto, mas vale a pena pensar noutras formas. Concluo assim a minha escrita no ECO. Um ano depois do primeiro texto. Cinquenta textos depois. Obrigado a quem perdoou (e leu).
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