BRANDS' ECO “Precisamos de nos tornar mais tolerantes à diferença”

  • BRAND'S CAPITAL VERDE
  • 26 Junho 2024

Rita Nabeiro, CEO Adega Mayor, partilha, em entrevista ao ECO, a sua opinião sobre a importância de incluir a diversidade e a inclusão nas políticas internas das empresas.

No próximo dia 3 de julho, a Cordoaria Nacional, em Lisboa, será palco da Conferência BCSD Portugal 2024, organizada pelo BCSD Portugal. O evento, que terá como tema “Empresas com futuro: Como navegar para uma economia sustentável e justa?”, contará com a participação de diversos líderes empresariais e especialistas.

Entre os tópicos em discussão estarão a interação entre os fatores de sustentabilidade internos e externos e a economia regenerativa. A conferência também irá analisar como a diversidade nas empresas pode contribuir para uma economia mais competitiva. Outros pontos de debate incluirão os desafios que se avizinham para as empresas e para o planeta, bem como as estratégias para desbloquear financiamento e alavancar o poder das alianças com o objetivo de atingir as metas propostas.

Em entrevista ao ECO, Rita Nabeiro, CEO Adega Mayor, explica a importância da diversidade e da inclusão em contexto empresarial e dá o exemplo da própria empresa para demonstrar como usam estes fatores na sua política interna.

Que benefícios podem a diversidade e a inclusão trazer às empresas?

A diversidade e a inclusão têm impactos significativos nas organizações. Equipas diversas aportam mais perspetivas, o que estimula e potencia a troca de ideias, o debate e a criatividade, que são aspetos essenciais para o desenvolvimento organizacional. Acredito também que a diversidade de opiniões leva a tomada de decisões mais fundamentadas e conscientes, contribuindo para um crescimento mais sólido. Equipas heterogéneas estimulam ainda o desenvolvimento de um ambiente mais favorável e colaborativo, o que permite uma maior atração e a retenção de talento.

A diversidade deve ser tão abrangente quanto possível, considerando fatores como o género, a idade, etnia, orientação sexual, religião, contexto social, deficiências, entre outros. Quando as empresas apoiam e promovem um ambiente inclusivo, os benefícios superam quase sempre as expectativas.

O estudo da McKinsey & Company de 2020, “Diversity wins: How inclusion matters”, evidencia uma correlação direta entre melhores resultados financeiros e a diversidade nos cargos de liderança.

E como se promove essa diversidade e inclusão?

Criar uma cultura inclusiva é um compromisso contínuo que requer que as organizações adaptem práticas e políticas de forma evolutiva. A liderança inclusiva deve promover o respeito e a igualdade, assim como incentivar a participação de todos.

Desde a sua fundação que no Grupo Nabeiro existe uma preocupação para a existência de uma comunicação transparente e aberta, permitindo que todos se sintam confortáveis a expressar opiniões.

Além da criação de um espaço seguro, é importante usar métricas para saber onde estamos e definir objetivos de melhoria ambiciosos. É ainda fundamental ouvir a organização e as nossas pessoas para corrigir aspetos menos positivos e implementar mudanças.

Adicionalmente, garantimos que as nossas políticas e práticas são inclusivas e promovem igualdade de oportunidades, implementando processos de recrutamento e promoção justos, onde exista uma maior consciência dos nossos enviesamentos culturais inconscientes. A formação sobre estes aspetos é fundamental e contamos com o apoio de associações como a APPDI ou o BCSD Portugal, entre outros, na discussão e partilha das melhores práticas.

Promovemos também a flexibilidade no ambiente de trabalho para equilibrar a vida profissional e pessoal dos nossos colaboradores, valorizando a diversidade de competências e experiências que cada um traz para a empresa. Estimulamos ainda a que exista um feedback construtivo, onde se celebra a diversidade e se reconhecem essas diferenças como elementos que enriquecem a nossa organização.

Quais são os maiores desafios na promoção da inclusão nas empresas?

Um dos principais desafios são os preconceitos, a intolerância, os enviesamentos culturais, mas também as barreiras estruturais e a falta de acessibilidades para pessoas com deficiência. Na medida em que muitos espaços não estão preparados para acolher pessoas com deficiência, isso requer investimentos adicionais às empresas, sendo um fator de resistência.

No Grupo Nabeiro, temos uma grande diversidade de pessoas, geografias e culturas. Enfrentamos estes desafios através da promoção da comunicação aberta, evitando assim a falta de compreensão mútua e possíveis conflitos.

Para ultrapassar estes desafios, é essencial identificar os pontos de melhoria, adotar uma liderança inclusiva, investir na capacitação e na melhoria de espaços, na formação e educação para uma cultura que valoriza a diversidade e o respeito pelas diferenças.

Garantir que todos se sentem ouvidos é fundamental, assim como assegurar que as políticas de recrutamento e promoção sejam justas e proporcionem igualdade de oportunidades. No entanto, a implementação de práticas e programas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) pode ser desafiadora, uma vez que pode implicar mudanças culturais complexas e lentas.

Segundo o Estudo de 2023 “Diversidade, Equidade e Inclusão no meio empresarial português”, desenvolvido pelo BCSD Portugal, em parceria com a EY, que envolveu 73 empresas e 96.757 colaboradores, 23,9% ainda não implementaram práticas ou programas DEI. 10,4% enfrentam dificuldades na implementação e 26,9% realizam eventos sem um plano estratégico. As boas notícias são que 32,9% das empresas já integram essas práticas numa estratégia definida, enquanto apenas 6% estão num estado de maturidade avançado com práticas disruptivas.

Rita Nabeiro, CEO Adega Mayor.
Atualmente, consideram que as empresas têm feito caminho neste sentido?

Cada vez mais organizações reconhecem os benefícios de ter equipas diversificadas e têm vindo a adotar medidas para fomentar um ambiente de trabalho mais inclusivo. Estudos recentes confirmam e indicam que 76% das empresas portuguesas da amostra indicaram estar a abordar o tema DEI (Jornada 2030 – “Maturidade das empresas em Sustentabilidade”). Além disso, 65% afirmam que DEI é uma prioridade estratégica nas suas empresas (Harvard Business Review, 2021). Alguns exemplos que merecem destaque passam pela implementação de programas de recrutamento diversificados, para atrair e contratar talentos de diversas origens e experiências, o estabelecimento de políticas salariais justas e benefícios equitativos para garantir imparcialidade dentro da organização. Assim como a preocupação em oferecer formação sobre o tema e sensibilizar os colaboradores.

O desenvolvimento de políticas antidiscriminação e canais de denúncia para lidar com possíveis casos de discriminação no ambiente de trabalho é, também, essencial. Nesse sentido o Grupo Nabeiro criou recentemente um canal de denúncia que pode ser utilizado para esse efeito. Destaco ainda o programa recente “Talento Sénior Delta Cafés”, que visa fomentar a troca de conhecimento e experiências entre as gerações mais velhas e as mais jovens.

Embora ainda existam desafios a superar, é encorajador ver muitas empresas empenhadas em promover a diversidade e a inclusão e a adotar medidas concretas para criar ambientes mais seguros e equitativos para todos os colaboradores.

O que é que ainda pode ser feito?

Para melhorar a diversidade e inclusão, é essencial adotar uma abordagem estratégica, ambiciosa e transparente. É necessário que exista um compromisso genuíno da liderança, incentivando de forma clara a incorporação desses valores em todas as decisões e práticas da empresa.

É fundamental desenvolver políticas claras e procedimentos que promovam a equidade e a diversidade em todos os níveis da organização e implementar práticas de recrutamento e seleção que garantam a igualdade de oportunidades para todos os candidatos, independentemente da sua origem, identidade ou idade. É importante reforçar a formação sobre sensibilidade cultural, preconceito inconsciente e diversidade para todos os colaboradores. Intensificar programas de mentoria e apoio para grupos sub-representados na organização, proporcionando oportunidades de desenvolvimento e crescimento profissional.

Tudo isto contribui para a criação de um ambiente inclusivo, promovendo a celebração da diversidade, incentivando a colaboração e respeitando as diferentes perspetivas e experiências dos colaboradores.

Por fim, é importante avaliar a eficácia das iniciativas de DEI de forma regular, recolhendo dados demográficos e acompanhando o progresso em direção a metas de diversidade e inclusão.

Acreditam num futuro onde a diversidade e a inclusão sejam uma realidade em todos os locais de trabalho?

Não só acredito como acho fundamental. A promoção da diversidade e inclusão nos locais de trabalho é um processo contínuo e em constante evolução. Apesar dos avanços e retrocessos a nível político e social, em relação a determinados grupos, continuamos a assistir a um movimento crescente em direção a ambientes de trabalho mais diversos e inclusivos. Com os esforços contínuos das empresas, governos, organizações e sociedade civil, é possível imaginar um futuro onde a diversidade e a inclusão sejam uma realidade em todas as empresas.

À medida que a consciencialização cresce e que as práticas e políticas são aperfeiçoadas, a diversidade não só é valorizada, como se torna um imperativo ético, reconhecida como um fator crítico para o sucesso e sustentabilidade das organizações.

Na declaração Universal sobre a Diversidade Cultural da Unesco podemos ler que “A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade manifesta se na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o género humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o património comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações presentes e futuras”.

Com esforços contínuos e reforço positivo, é possível que a DEI se torne uma realidade generalizada e duradoura, mas precisamos de nos tornar mais tolerantes à diferença, ao outro, tornando-nos melhores seres humanos e, consequentemente, melhores líderes.

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