O “efeito borboleta” das taxas de juro pela mão do BCE e da Fed
A divergência da política monetária do BCE e da Fed confere complexidade ao ambiente económico atual. Prudência e gradualidade são essenciais na gestão das taxas de juro, destacam economistas.
O cenário atual da política monetária global é marcado por uma divergência notável entre o Banco Central Europeu (BCE) e a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed). Enquanto o BCE realizou recentemente o primeiro corte nas taxas diretoras em quase cinco anos, a Fed mantém uma postura mais cautelosa, adiando qualquer redução nas Fed Funds.
Esta dinâmica reflete a complexidade crescente do ambiente económico global, um tema central no recente trabalho de investigação dos economistas Kristin Forbes, Jongrim Ha e M. Ayhan Kose, que será apresentado no próximo Fórum do BCE, que decorrerá em Sintra entre 1 e 3 de julho.
Para os autores deste paper, o futuro da política monetária promovida pelos principais bancos centrais será marcado por uma crescente influência de fatores globais, exigindo uma abordagem cautelosa e gradual por parte dos bancos centrais.
Os choques globais têm desempenhado um papel cada vez mais significativo na explicação das flutuações das taxas de juro nacionais, destacam os economistas Kristin Forbes, Jongrim Ha e M. Ayhan Kose.
“Qualquer recalibração das taxas de juro daqui para a frente deve ser gradual, tendo em conta as interações entre fatores globais cada vez mais importantes e circunstâncias domésticas“, lê-se no documento, que foi publicado esta quinta-feira. Esta observação ganha relevância especial no contexto atual, onde vemos o BCE iniciando um ciclo de flexibilização monetária, enquanto a Fed mantém uma postura mais hawkish.A
A análise de Forbes, Ha e Kose agrega um histórico de 55 anos de dados de 24 economias desenvolvidas e revela uma tendência clara: os choques globais têm desempenhado um papel cada vez mais significativo na explicação das flutuações das taxas de juro nacionais.
Os economistas sublinham que, entre 2020 e 2024, “os choques globais explicaram 64% da variação nas taxas de juro”, notando que “esta é a primeira vez na amostra que os choques globais desempenharam, em média, um papel maior do que os choques domésticos”.
Esta crescente sincronização global coloca novos desafios aos bancos centrais. A decisão do BCE de cortar as taxas, por exemplo, deve ser vista não apenas no contexto da economia europeia, mas também considerando as pressões inflacionárias globais e as decisões de outros bancos centrais, como a Fed.
Cautela e prudência nunca foram tão essenciais
Olhando para o futuro, os especialistas sugerem que os bancos centrais devem estar atentos à incerteza sobre se os ciclos das taxas de juro “reverterão para padrões pré-2008”. Esta dúvida reforça a necessidade de uma abordagem cautelosa na gestão das taxas de juro, algo que se pode observar na relutância da Fed em iniciar cortes das taxas de juro, apesar das expectativas do mercado apontarem para isso.
O paper dos três economistas destaca ainda que, em média, “a inflação e o crescimento do PIB e do emprego regressaram, em grande medida, às normas históricas para esta fase de um ciclo de aperto monetário”. No entanto, ressalvam que existem diferenças importantes entre países individuais, o que pode explicar as diferentes abordagens do BCE e da Fed.
O estudo também enfatiza a importância de distinguir entre diferentes tipos de choques globais. “Os bancos centrais precisarão de priorizar a diferenciação precisa entre choques globais de oferta e de procura”, lê-se no documento. Esta distinção será crucial para o BCE e a Fed, à medida que navegam no ambiente pós-pandemia, onde os choques da procura e da oferta se têm entrelaçado de maneiras complexas.
O futuro da política monetária, conforme delineado por Forbes, Ha e Kose, promete ser marcado por uma complexidade crescente, com os fatores globais desempenhando um papel cada vez mais preponderante.
Neste contexto, a prudência e a gradualidade serão palavras de ordem para os bancos centrais, sobretudo para o BCE e para a Fed, à medida que navegam num ambiente económico cada vez mais interligado globalmente.
A divergência atual entre as abordagens do BCE e da Fed pode ser vista como um reflexo dessa complexidade, sublinhando a necessidade de uma calibração cuidadosa das políticas monetárias em resposta a um cenário económico global em constante evolução.
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