A região Centro à procura da sua afirmação económica
No 70º encontro Fora da Caixa, promovido pelo banco público, a discussão foi sobre a região centro. Juntou empresários e gestores para avaliar as oportunidades económicas da região.
Os Encontros Fora da Caixa, organizados pela Caixa Geral de Depósitos, percorreram o país ao longo dos últimos anos para debater o presente e o futuro da economia local e nacional. Desta vez, foi no Carregal do Sal, mais uma edição do evento que, desta feita, foi dedicado às oportunidades e desafios para as empresas da região Centro, responsável por 15% a 20% do PIB português. “São 70 edições a percorrer o país e a discutir com os empresários de cada região o que é a realidade empresarial, social e económica”, contextualizou António Costa, diretor do ECO. Sendo esta uma zona do país marcada pelo dinamismo económico, com negócios de forte propensão exportadora, o papel dos fundos comunitários para apoiar o crescimento é crucial num país que se quer aproximar dos melhores da Europa.
“Estamos mesmo a terminar a execução do Portugal 2020 e a arrancar com o Portugal 2030. Neste momento, está em boa velocidade”, confirmou Luís Filipe, vogal executivo da Comissão Diretiva do Centro 2030. O responsável, que participou na gravação do podcast do ECO ‘Walk the Talk’, acrescentou ainda que a expectativa é, até ao final deste ano, “executar na região Centro 100 milhões de euros e até ao final de 2025 ter 350 milhões executados”.
Os empresários que pretendam candidatar-se a programas cofinanciados pela União Europeia (UE) devem, porém, ter em conta que é hoje necessário cumprir pelo menos um dos seis critérios associados ao caminho para a neutralidade carbónica, a saber: diminuição de emissões, adaptação climática, economia circular e redução de resíduos, eficiência hídrica, melhoria dos ecossistemas ou diminuição da poluição. “Só financiaremos investimento empresarial se a empresa cumprir pelo menos uma destas seis vertentes e não pode incumprir nenhuma das seis”, avisa Luís Filipe.
Franco Caruso, membro do secretariado-executivo do BCSD e diretor de sustentabilidade da Brisa, não tem dúvidas de que as empresas estão hoje mais atentas à importância dos critérios ESG. “As lideranças estão bastante sensibilizadas para estes temas. 86% dos respondentes a este inquérito [realizado pelo BCSD] dizem que já têm alinhada a sua visão em termos de sustentabilidade”, aponta.
Assegurar a competitividade futura
Além dos fundos comunitários, também a banca já aplica critérios de avaliação associados ao desempenho de governança, social e ambiental para a concessão de crédito ou, pelo menos, para as condições em que esse financiamento é atribuído. “Hoje já fazemos stress tests às empresas em termos de risco climático. Se as empresas não fizerem a transição, vão ser aplicadas taxas de carbono – que hoje já são algumas e que vão ser mais fortes. Ou seja, as empresas vão aumentar os custos”, partilhou João Tudela Martins. O administrador executivo da CGD, responsável pela área de risco e sustentabilidade, lembrou que o banco público já tem um rating ESG aplicado aos seus clientes empresariais. “Oferecemos aos nossos clientes, está disponível no CaixaDireta, e todos podem ver como os estamos a classificar. Acho que isto ajuda as empresas a traçar o seu caminho”, afirmou. Aliás, sobre este mecanismo de avaliação do desempenho na sustentabilidade, o administrador executivo da CGD Francisco Cary considera que “tudo o que estamos a fazer vai no sentido de ajudar as empresas por via da discriminação positiva”.
Tudela Martins traçou ainda outros desafios que prometem marcar o futuro breve da economia e a que os gestores devem estar atentos, sob pena de verem prejudicada a sua competitividade. “As empresas devem criar frameworks de análise do risco de taxa de juros e outros riscos que tenham”, avisou, lembrando que, com a queda das taxas, esta é uma boa altura para “pensar em novos investimentos produtivos”.
Na análise às tendências macroeconómicas para 2024, Rui Martins, diretor de estratégia da CGD, considera que a economia norte-americana deverá abrandar o crescimento mais robusto face à Europa e que, na zona Euro, “é esperado que a economia europeia acelere” depois dos fracos resultados económicos em 2023. “Ligado à expectativa relativamente otimista sobre as Euribor, hoje, em função da expectativa mais realista, o que se estima é que as Euribor terminem 2024 ligeiramente acima dos 3%”, apontou.
Receita para o sucesso empresarial
O professor de estratégia na NOVA SBE e sócio fundador da Vibe Capital Partners, António Bernardo, marcou presença no Encontro Fora da Caixa em Carregal do Sal para deixar sete sugestões aos empresários da região Centro. Entre elas, apontou como grande oportunidade a internacionalização. “A situação atual [da região em exportações] é extremamente positiva, mas há espaço, especialmente agora com um retrocesso no processo de globalização e com tendência de reshoring, para regiões como esta terem uma vantagem competitiva”, afirmou.
Para o especialista, é ainda fundamental investir na digitalização, na sustentabilidade que “pode ser a forma como diferenciamos a nossa oferta” e nas parcerias estratégicas com outras empresas. “Podemos ter grandes planos, grandes ideias, mas sobretudo precisamos de execução de excelência e acredito que estou numa zona do país onde essa execução será de excelência”, rematou.
Entre as empresas da região, a Martifer é um exemplo de como é possível exportar a sua atividade a partir de Portugal e, em grande medida, a partir de Oliveira de Frades com a sua área de metalo-mecânica. Em Viana do Castelo, na componente naval, a empresa está a investir 24 milhões de euros na construção de uma nova doca seca para aumentar a capacidade de reparação de navios. “Estamos a falar de algo muito importante, porque é uma exportação dentro de casa. Mais de 80% dos barcos que vêm reparar são estrangeiros”, confirmou o vice-presidente Arnaldo Figueiredo.
Com Cristiano Ronaldo como novo investidor da Vista Alegre e da Bordalo Pinheiro desde há algumas semanas, o Grupo Visabeira, que continua a ter em Viseu a sua sede operacional, prevê gerar “dois mil milhões de euros em volume de negócios em 2024”. Nuno Marques, CEO, aponta a diversificação da atividade como uma das receitas para o sucesso, mas sugere ao Estado “fazer mais e falar menos” e apostar na discriminação fiscal positiva para negócios do interior, promoção do ensino e das acessibilidades na região.
A perspetiva é partilhada por Helena Costa, diretora financeira do Grupo FINSA Portugal, que já investiu na construção de um ramal ferroviário que liga a fábrica de Nelas à linha da Beira Alta, mas cuja entrada em funcionamento está suspensa porque “a linha mantém-se em requalificação” pelo Estado. Além de acelerar a exportação e facilitar a importação de matérias-primas, esta aposta permitirá tirar 60 camiões da circulação rodoviária e melhorar o desempenho ambiental do negócio. “As empresas para crescerem precisam de ter toda esta infraestrutura”, sublinha.
No encerramento do evento, Pedro Abrunhosa conversou brevemente com Fernando Daniel Campos Nunes, vogal do Conselho de Administração da Visabeira, sobre o percurso que o grupo de Viseu tem feito em termos de sustentabilidade. “Descarbonização é algo caro. É urgente fazê-lo, mas é caro. É importante haver uma valorização de produtos que são produzidos de forma sustentável, em que as empresas comprovem que fizeram investimentos na lógica de sustentabilidade”, defendeu. E insiste: “estamos a falar de um caminho coletivo para que todos temos de contribuir”.
A última sessão do Encontro Fora da Caixa – Carregal do Sal, que contou com o ECO como media partner, pode ser revista na íntegra neste vídeo:
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