Investidores celebram vitória trabalhista com regresso de estabilidade política

A conquista da maioria absoluta por Keir Starmer nas eleições britânicas oferece uma perspetiva de estabilidade que tanto escasseou durante a liderança de Rishi Sunak.

As eleições legislativas no Reino Unido resultaram numa vitória esmagadora do Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, que conquistou 412 dos 606 lugares disponíveis no Parlamento britânico.

Este resultado marca uma mudança significativa no cenário político do país, que esteve sob domínio do Partido Conservador durante 14 anos. E isso foi imediatamente sentido nos mercados de capitais, em função da vitória alcançada por Starmer ter sido acompanhada com uma perspetiva de estabilidade política, algo que escasseou durante a liderança de Rishi Sunak.

Assim que a bolsa de Londres abriu na sexta-feira, na primeira reação às projeções que já apontavam para uma maioria absoluta dos trabalhistas, o índice acionista britânico FTSE 250 ensaiou uma valorização de 1,82%, chegando a negociar no valor mais elevado dos últimos 12 meses (20.986 pontos), para depois fechar a sessão com ganhos de 0,86%.

As reformas no sistema de planeamento poderão estimular a construção de habitações e a produtividade, enquanto os investimentos no setor público poderão elevar o potencial produtivo do país.

James Moberly e Sven Jari Stehn

Analistas do Goldman Sachs

No mesmo sentido seguiu a libra esterlina, que também reagiu positivamente à vitória absoluta do partido Trabalhista, chegando a acumular uma valorização de 0,4% contra o euro na sexta-feira, que surge no seguimento da maior sequência de ganhos em quatro anos da libra, como sinal uma resposta positiva dos mercados à nova liderança política, que era perspetivada por várias sondagens.

Keir Starmer também não demorou tempo a anunciar a sua equipa, aproveitando o momento para dar ainda maior ímpeto às expectativas que estão a ser criadas no seu Executivo.

O novo primeiro-ministro do Reino Unido anunciou David Lammy como ministro dos Negócios Estrangeiros e Yvette Cooper como ministra do Interior, ambos com a missão de fortalecer as relações internacionais e a segurança interna do país. Mas um dos nomes mais sonantes a ser anunciado por Starmer foi Rachel Reeves como a primeira mulher a ocupar o cargo de ministra das Finanças do governo britânico.

Na sua conta pessoal na rede social “X”, Reeves, uma economista formada pela London School of Economics e que será uma figura central na estratégia económica do governo, declarou estar pronta para promover mudanças na economia britânica. “Estou pronto para realizar a mudança de que a nossa economia necessita para melhorar a situação dos trabalhadores em todas as regiões do país.”

Efeitos na economia britânica

Ainda é cedo para antecipar os impactos reais da vitória dos Trabalhistas na economia britânica. No entanto, a perspetiva de uma estabilidade governativa que permitirá avançar com reformas e investimentos levanta uma onda de otimismo em redor do futuro da economia inglesa.

Todavia, os analistas do Goldman Sachs preferem colocar alguma água na fervura neste otimismo, considerando que as políticas apresentadas pelo Partido Trabalhista no manifesto eleitoral “implicam mudanças relativamente limitadas na política orçamental”.

Numa nota enviada esta sexta-feira aos clientes do banco de investimento, James Moberly e Sven Jari Stehn referem que o novo governo “planeia aumentar a despesa em 9,5 mil milhões de libras (0,3% do PIB) relativamente aos planos do atual governo, em grande parte financiados por um aumento de 8,6 mil milhões de libras por ano nas receitas fiscais”, antecipando assim um impulso modesto ao crescimento da procura a curto prazo, levando a um aumento de 0,1 pontos percentuais nas previsões de crescimento do PIB para 2025 e 2026.

“As reformas no sistema de planeamento poderão estimular a construção de habitações e a produtividade, enquanto os investimentos no setor público poderão elevar o potencial produtivo do país” destacam os analistas do Goldman Sachs.

Azad Zangana, economista sénior para a Europa da Schroders, salienta que a estabilidade política resultante da vitória trabalhista é benéfica para os investidores e empresas, que enfrentaram um período de incerteza e instabilidade nos últimos anos. “A mudança de governo, particularmente com uma maioria tão grande, deverá reduzir a instabilidade política e impulsionar o crescimento económico” observa o analista da Schroders.

No entanto, Zangana destaca que para uma recuperação da economia no curto prazo, depois da recessão registada no final do ano passado, “subsistem desafios estruturais, incluindo o envelhecimento da população e as tensões nas relações comerciais.”

Apesar do otimismo inicial, o novo governo britânico enfrenta desafios significativo, como a necessidade de aumentar os impostos a médio prazo e à necessidade de financiar investimentos públicos, alerta Azad Zangana, economista sénior da Schroders.

Simon Gergel, CIO do departamento de ações do Reino Unido da Allianz Global Investors, ressalva o excecional comportamento positivo dos mercados de capitais ao resultado da vitória dos trabalhistas, particularmente por Starmer ter adotado uma postura mais centrista nos seus discursos que tranquilizou os mercados.

Numa nota enviada aos seus clientes, Gergel destaca que a mudança de inquilino do n.º 10 de Downing Street irá gerar algumas oportunidades para os investidores, desde logo por antecipar uma flexibilização de uma série de regras e regulamentos relativos ao sistema de planeamento que, “combinado com os prováveis cortes nas taxas de juro nos próximos meses, deverá apresentar oportunidades para os construtores de casas do Reino Unido, um setor que os investidores têm evitado nos últimos tempos.”

Apesar do otimismo inicial, o novo governo britânico enfrenta desafios significativos. Zangana alerta para a necessidade de aumentar os impostos a médio prazo, devido à elevada carga orçamental herdada e à necessidade de financiar investimentos públicos. Já Gergel menciona a importância de manter uma prudência fiscal para evitar reações adversas dos mercados de obrigações, como as observadas durante o breve governo de Liz Truss.

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