Uma desistência à Casa Branca em cinco atos

Biden desiste após debate desastroso, pressão do partido e sondagens negativas. Os democratas olham agora para Kamala Harris como opção para se manterem na Casa Branca.

O que se tornava cada vez mais evidente é agora oficial, com o anúncio da desistência de Joe Biden à recandidatura para a presidência dos EUA. A decisão surge na sequência de uma série de eventos que minaram a confiança do Partido Democrata na capacidade do atual presidente para vencer as eleições de novembro. O ponto de viragem ocorreu no debate presidencial de 27 de junho, onde Biden, de 81 anos, teve um desempenho considerado desastroso face ao seu rival republicano, Donald Trump.

A performance hesitante e confusa do atual presidente dos EUA levantou sérias dúvidas sobre a sua aptidão físicas e até mentais para liderar o país por mais quatro anos. Durante o debate, Biden tropeçou nas palavras e perdeu o fio do raciocínio várias vezes, permitindo que Trump (apenas três anos mais novo que Biden) dominasse o palco com a sua tradicional retórica inflamada. A equipa de Biden tentou justificar a fraca prestação alegando que o presidente estava constipado, mas o estrago já estava feito.

Nos dias que se seguiram, cresceu a pressão dentro do Partido Democrata para que Biden reconsiderasse a sua candidatura. Figuras proeminentes como Nancy Pelosi e Jim Clyburn começaram a questionar publicamente se Biden seria a melhor opção para enfrentar Trump nas urnas.

A situação agravou-se quando dezenas de congressistas democratas apelaram abertamente para que Biden se retirasse da corrida, com 36 legisladores democratas e um independente a pedirem publicamente que Biden saísse da lista de candidatos à Casa Branca nos 24 dias que se seguiram ao debate.

Biden ainda tentou seguir em frente, mas as sondagens mostravam que o atual presidente dos EUA estava a perder terreno em Estados-chave, aumentando o receio de uma derrota em novembro.

Biden desfez-se em algumas entrevistas para afastar os receios criados em redor da sua fragilidade. Deu inclusive uma conferência de imprensa — que acabou por não correu bem, ao confundir os nomes da sua vice-presidente Harris e do seu rival republicano Trump — e fez discursos bastante energéticos na campanha eleitoral.

Mas na última cimeira da NATO voltou a “cair em desgraça”, ao trocar os nomes do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy e do presidente russo Vladimir Putin.

No entanto, o golpe final veio com um atentado durante um comício de Trump. O ex-presidente foi alvo de uma tentativa de assassinato, à qual escapou por milímetros. Embora Trump tenha saído ileso, o episódio galvanizou o apoio republicano, deixando os democratas ainda mais apreensivos quanto às suas hipóteses eleitorais e, nesse momento, escreveu-se até que a bala que não tinha acertado em Trump acabou por ferir politicamente o Presidente Biden.

Isolado nos últimos dias no Estado de Delaware devido a um teste positivo para COVID-19, Biden teve tempo para refletir sobre o seu futuro político. A decisão de abandonar a corrida presidencial tornava-se cada vez mais provável, e é vista por muitos como um ato de pragmatismo político face às circunstâncias adversas.

Esta reviravolta na política americana abre agora caminho para uma corrida à nomeação democrata, com a vice-presidente Kamala Harris a surgir como uma possível sucessora, tendo inclusive Biden já anunciado o seu apoio a Harris, no comunicado que escreveu a dar nota do seu abandono da corrida à Casa Branca.

O Partido Democrata enfrenta agora o desafio de encontrar rapidamente um candidato capaz de unir o partido e enfrentar Trump nas urnas. Para já, Biden anunciou o apoio à nomeação da vice-presidente Kamala Harris, mas terá ainda de passar pela convenção democrata.

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