A Defesa é um investimento com triplo retorno
O investimento na Defesa insere-se na a criação de novas formas de melhorar as condições de vida ao longo da História: É um investimento no futuro com um triplo retorno, soberania, paz e prosperidade.
Uma argumentação muito habitual, e muito demagógica, sobre a Defesa é que o investimento nesta área apenas representa a aposta na guerra e o desperdício de recursos porque “onde devemos investir é em escolas, hospitais e estradas, é na paz e não na guerra!”. Os que estavam a soldo soviético na guerra fria usavam este argumento para impedir o investimento em Defesa no Ocidente. A argumentação é demagógica porque visa apenas impedir a discussão séria sobre temas essenciais em toda a História da humanidade como são a guerra e a paz.
Há duas coisas que a História nos ensina a esse respeito: a primeira é que a guerra esteve sempre presente e a segunda é que nada é perpétuo, nem uma vida, nem uma guerra, nem uma paz. Se pudermos resumir numa só palavra uma resposta inteligente a estes dois ensinamentos milenares, essa palavra é “Defesa”. A Defesa é a forma de estar preparado para algo que foi uma constante para o género humano, a guerra, e que tudo indica continuará a ser. Mas é também a forma de prevenir que uma guerra se perpetue ao longo do tempo ou, até, que se inicie, promovendo desta forma a paz.
A guerra fria é uma prova recente de que a paz se manteve na Europa por uma simples razão: a Defesa garantida pelo armamento nuclear. Sem esta Defesa não teria havido paz na Europa. Os que ainda hoje querem a destruição das armas nucleares são os que estão a soldo do inimigo – e durante a guerra fria houve muitos na Europa – ou os que preferem a ignorância em vez do conhecimento sobre a existência de armas (e sobre os ensinamentos da História) – são os que optam por enterrar a cabeça na areia em vez de aprender a lidar com as armas, vivendo a ilusão de que podem forçar todos os outros a fazer o mesmo.
Em Portugal, o menosprezo a que foi votado o investimento na Defesa nos últimos 50 anos foi um erro crasso. Como todos os erros, resultou de uma escolha entre conhecimento e ignorância. Portugal abandonou uma guerra civil em territórios ultramarinos, que continuou por muitos anos, e escolheu a ignorância de uma paz perpétua que não existe nem nunca existiu.
Hoje defrontamo-nos com guerras que estão cada vez mais próximas (Ucrânia, África) ou que surgem no horizonte (Sul da China). Na NATO, estamos aliados a países que fazem fronteira com a guerra e Portugal será chamado a defendê-los se o expansionismo russo se estender para novas direções. A população portuguesa não se apercebe desta ameaça real, mas a nossa proximidade crescente à guerra, quer geográfica quer porque o raio de alcance das armas é cada vez maior, torna obrigatório que estejamos preparados.
A lição é investir na Defesa
A lição que os portugueses devem tirar dos ensinamentos que a História nos dá é que o investimento em Defesa não é só uma questão de soberania e de independência, mas é também um investimento cujo retorno se traduz num futuro com paz, e só isso é mais do que suficiente para o justificar.
Mas há ainda um terceiro retorno que aumenta a valorização do investimento na Defesa: é um investimento num futuro mais próspero. A razão é muito simples. O duplo uso civil e militar que pode ser dado ao desenvolvimento e à aplicação de tecnologia potencia a criação de riqueza e a promoção do desenvolvimento.
Um exemplo é o que abrange os serviços de imagem e de dados proporcionados por satélites de alta resolução que orbitam o planeta Terra a altitudes mais baixas do que outros equipamentos espaciais. Estes serviços dependem de um conjunto de tecnologias que têm uma dupla aplicação civil e militar, pois podem em simultâneo ajudar a controlar colheitas agrícolas, a detectar incêndios florestais, a perseguir criminosos, a actualizar previsões meteorológicas, a localizar navios perdidos ou a identificar ameaças militares.
Este simples caso mostra como o investimento em Defesa é um investimento produtivo que pode ter benefícios muito positivos para a sociedade. As áreas de aplicação do duplo uso civil e militar são imensas e muitas estão ainda por explorar, nomeadamente em inúmeros sistemas e aplicações informáticas, diversos serviços de engenharia, equipamento de comunicações, sensores e fontes de energia, veículos de transporte e não tripulados, etc.
Mais importante ainda, a sua valorização e a sua difusão por diferentes tecnologias e por vários sectores, resultará em novo conhecimento, no aumento de inovação tecnológica, na maior presença em mercados e em cadeias de fornecimento com maior valor acrescentado, contribuindo para o crescimento do emprego muito qualificado. Todas estas condições proporcionam uma melhoria considerável do nível de vida da população portuguesa.
Todo o investimento feito na Defesa em tecnologia, equipamentos, em parcerias internacionais ou até na retenção e qualificação de recursos humanos, tende a ter um efeito económico multiplicador que aumenta os seus efeitos positivos na sociedade. Estes efeitos serão maiores com o desenvolvimento de produtos e serviços que, em simultâneo, respondam às necessidades de Defesa e Segurança, e contribuam para o desenvolvimento económico, para a proteção civil, para a saúde e para outras áreas.
Se pensarmos nos primórdios do género humano, vemos o quão impressionante foram o rasgo e a capacidade para desenvolver ideias e para a criação de novas formas de melhorar as condições de vida ao longo da História. O investimento na Defesa insere-se nessa evolução: É um investimento no futuro com um triplo retorno, soberania, paz e prosperidade.
Nota do autor: Por motivo de férias irei interromper os artigos durante o mês de Agosto. Boas férias a todos.
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