Carlos Tavares sob pressão após resultados desapontantes da Stellantis
Resultados do primeiro semestre foram mal recebidos pelos investidores, com opções erradas nos EUA a penalizarem as contas. "A descida está a começar e Tavares está encostado à parede", diz analista.
Carlos Tavares tornou-se um dos CEO mais admirados — e bem pagos — do mundo pela forma como tornou o grupo Stellantis, dono de marcas como a Peugeot, Fiat, Citroën, Opel, Jeep ou Maserati, num dos maiores construtores automóveis do mundo, com resultados invejados pela concorrência. Esse bom desempenho foi interrompido este semestre, com o gigante europeu a anunciar uma queda para quase metade dos lucros no primeiro semestre. O resultado, a par das dificuldades no mercado americano, deixam o português sobre alta pressão.
O grupo Stellantis viu as receitas caírem 14% para 85 mil milhões de euros, enquanto o resultado operacional caiu 40% para 8.463 mil milhões, com a respetiva margem a baixar 4,4 pontos percentuais para os 10%. Os lucros cifraram-se em 5,7 mil milhões de euros, menos 48% que no mesmo período de 2023.
Os resultados foram particularmente negativos nos EUA, onde o grupo tem as marcas Chrysler, Dodge, Jeep e Ram. A oferta desajustada de modelos e preços mais elevados levaram a uma quebra de 16% nas vendas e perda de quota de mercado.
Os números foram mal recebidos pelos investidores. As ações caíram 8,7% após a divulgação dos resultados na quinta-feira, tombando mais 3% no dia seguinte. Quedas que reforçaram a tendência que se vem a verificar desde março, com a cotação a desvalorizar 40,5% desde o recorde verificado nesse mês.
Os analistas também não pouparam nas críticas. “Eis-nos numa situação em que a Stellantis fez todas as coisas erradas num trimestre“, afirmou Daniel Roeska, analista sénior da Bernstein, à Yahoo! Finance.
“Eles aumentaram os stocks no ano passado. Tiveram que colocar descontos novamente. Baixaram os preços. Gastaram demasiado em fusões e aquisições. Gastaram demasiado em investimentos e basicamente não tinham fluxos de caixa libertos… Esta é realmente a primeira vez nos últimos três anos que a Stellantis estragou tudo”, acrescentou.
“A descida está a começar e Tavares está encostado à parede”, afirmou Pierre-Olivier Essig, analista de ações da AIR Capital, em Londres, em declarações à Bloomberg. “O corte de custos está esgotado e não há inovação suficiente.”
Face aos resultados apresentados, algumas casas de investimento vieram rever em baixa a avaliação das ações. Foi o caso da JP Morgan, que baixou o preço-alvo de 23 para 20 euros e da Stifel, que cortou de 27 para 23 euros.
O gestor de 65 anos, que há três meses viu os acionistas aprovarem o maior pacote remuneratório de um fabricante de automóveis tradicional (o de Elon Musk, na Tesla, é imbatíbel), no valor de 36,5 milhões de dólares, assumiu erros.
Neste momento não podemos ter marcas que não ganhem dinheiro. Se não forem capazes de monetizar o valor que representam, terá de haver decisões.
“O desempenho da empresa no primeiro semestre de 2024 não correspondeu às nossas expectativas, refletindo um contexto industrial desafiante e os nossos próprios problemas operacionais”, afirmou Carlos Tavares após a divulgação dos resultados. O CEO da Stellantis reconhecer “erros arrogantes” na gestão dos stocks nos Estados Unidos.
Face à evolução dos resultados, o grupo poderá vir a abrir mão de uma ou mais das suas 14 marcas. “Neste momento não podemos ter marcas que não ganhem dinheiro“, afirmou, acrescentando que “não há qualquer tabu” sobre esta questão. “Se não forem capazes de monetizar o valor que representam, terá de haver decisões”, insistiu.
O CEO da Stellantis reafirmou a intenção de manter uma margem operacional ajustada de dois dígitos e distribuir 7,7 mil milhões aos investidores em dividendos e a recompra de ações. Objetivos que pretende concretizar com a ajuda do lançamento de 20 novos modelos este ano.
A Stellantis não foi a única a ter um trimestre difícil. A Tesla registou uma quebra de 7% nas vendas e também viu as margens encolher, face ao abrandamento dos gastos dos consumidores em bens duradouros e a concorrência crescentes dos fabricantes chineses nos carros elétricos.
Carlos Tavares fez questão de assinalar o contexto difícil. “A transição porque estamos a passar vai ser imensamente desafiante. Isto é um solavanco. Haverá outros. Isto irá durar alguns anos — não é uma turbulência de curto prazo — e os mais resilientes, os mais focados, os mais centrados no consumidor irão sobreviver“, referiu, citado pela Bloomberg.
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