Quase 750 detidos nos protestos contra reeleição de Maduro na Venezuela

  • Lusa
  • 30 Julho 2024

A maioria foi acusada de "resistência à autoridade" e "em casos mais graves, de terrorismo". Pelo menos três pessoas morreram e dezenas ficaram feridas nos protestos.

Cerca de 750 pessoas foram detidas na Venezuela nos protestos contra a reeleição do Presidente Nicolás Maduro, anunciou esta terça-feira o procurador-geral, que afirmou que “o número pode aumentar”.

“Um número preliminar de 749 delinquentes detidos”, disse Tarek William Saab em declarações à imprensa, acrescentando que a maioria foi acusada de “resistência à autoridade” e “em casos mais graves, de terrorismo”. Pelo menos três pessoas morreram e dezenas ficaram feridas nos protestos em várias cidades da Venezuela, segundo as autoridades.

O candidato da oposição venezuelana, Edmundo Gonzalez Urrutia, apelou ao Exército para não “reprimir o povo”, na sequência dos protestos contra os resultados eleitorais. “Senhores do Exército (…) não há razão para reprimir o povo da Venezuela, não há razão para perseguir tanto”, realçou durante um comício com a presença de milhares de pessoas e na sequência dos distúrbios que se registam desde segunda-feira no país contra a reeleição do Presidente Nicolás Maduro, considerada fraudulenta pela oposição.

A líder anti-chavista Maria Corina Machado, que não pôde ser candidata por ter sido declarada inelegível, também insistiu no mesmo apelo: “Os cidadãos militares viram com os seus próprios olhos o triunfo de um país sobre a tirania e vamos enviar esta mensagem: o seu dever é defender soberania popular e proteger o povo venezuelano”. Dirigindo-se à multidão a partir de um camião, Machado acrescentou que não aceitava “a chantagem” daqueles que estão no poder, que acreditam que “defender a verdade é violência”.

O ministro da Defesa venezuelano, general Vladimir Padrino, reafirmou de manhã a “lealdade absoluta” das Forças Armadas a Nicolás Maduro. Especificou ainda que o Exército agiria “com força” para “preservar a ordem interna”.

O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) concedeu a vitória ao Presidente Maduro com pouco mais de 51% dos votos, à frente do principal candidato da oposição, Edmundo González, que terá obtido 44% dos votos. A oposição e parte da comunidade internacional duvidam destes resultados e exigem mais transparência e uma análise das atas eleitorais.

As forças de segurança do Governo venezuelano detiveram nas últimas horas pelos menos quatro elementos da oposição, três deles figuras de destaque e um cuja identidade não foi revelada, segundo a imprensa local. Vários canais de televisão, entre eles a VPI TV, transmitiram através do Youtube os momentos das detenções, mostrando alegados funcionários das forças de segurança, vestidos de preto e sem identificação visível, a intercetarem e prenderem os opositores, depois levados em viaturas.

Um dos detidos foi, em Caracas, o dirigente do partido Vontade Popular e coordenador do movimento opositor Com a Venezuela, Freddy Superlano. Ainda na capital venezuelana, foi também detido o coordenador juvenil do partido Causa R, Rafael Sivira, e uma outra pessoa da oposição cuja identidade não foi revelada. Na ilha venezuelana de Margarita, foi detido o ex-presidente da Câmara Municipal de Marcano, José Ramón Díaz, quando chegava à sua residência na cidade de Juan Griego.

A detenção de Díaz teve lugar depois de uma noite de protestos com participação de um número expressivo de pessoas, segundo vídeos partilhados nas redes sociais, tendo o político sido levado para a sede local do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (CICPC, antiga Polícia Técnica Judiciária). Não há informação oficial sobre os motivos das detenções destas pessoas.

Esta segunda-feira, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou a reeleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato (2025-2031) consecutivo, com 51,2% dos votos. O principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, obteve 44,2%, de acordo com os dados oficiais divulgados pelo CNE.

A oposição venezuelana reivindica a vitória nas presidenciais de domingo, com 70% dos votos para González Urrutia, afirmou a líder opositora María Corina Machado, recusando reconhecer os resultados proclamados pelo CNE. Esta terça, a oposição prevê realizar uma manifestação de protesto nas principais cidades do país, no mesmo dia em que, em Caracas, as forças que apoiam o Presidente Nicolás Maduro, vão sair às ruas da capital em defesa dos resultados divulgados pelo CNE.

Vários países já felicitaram Maduro pela vitória, como Rússia, Nicarágua, Cuba, China e Irão, mas outros Estados da comunidade internacional, reconhecidos como democráticos, demonstraram grande preocupação com a transparência das eleições na Venezuela, caso de Portugal, Espanha ou Estados Unidos.

Nove países latino-americanos – Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai – pediram uma “revisão completa” dos resultados eleitorais na Venezuela, país que conta com uma significativa comunidade de portugueses e de lusodescendentes.

(Notícia atualizada às 20h49 com mais informação)

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