Grandes empresas injetam fundos próprios no empreendedorismo

Empresas já consolidadas – algumas centenárias – têm fundos próprios para investir no ecossistema de empreendedorismo. Os projetos estão na rua e a ajudar a transformar o negócio.

O panorama do corporate venture capital (CVC) em Portugal revela-se dinâmico e claramente em crescimento, com empresas como a EDP, NOS, CTT ou Sogrape a liderarem investimentos estratégicos que não só impulsionam a inovação das suas operações, como fortalecem o ecossistema. Só estas empresas têm, em conjunto, 173 milhões de euros — em parte já investido — neste tipo de ferramentas para dar músculo financeiro ao empreendedorismo nacional, e não só.

Com um “mandato de investimento global”, a EDP Ventures procura soluções que ajudem a empresa mãe no seu processo de transição energética. O CVC arrancou em 2008 com 150 milhões de euros. “Temos já 73 milhões de euros investidos e atualmente 40 empresas ativas no portefólio, distribuídas pelas diferentes áreas de foco e por diferentes países”, descreve Frederico Gonçalves, administrador da EDP Ventures. O fundo tem participadas em 12 países — espalhados pelos EUA, Europa, Israel, LatAm, Ásia e Austrália —, tendo já realizado “exits (parciais e totais) em 10 empresas que permitiram um encaixe financeiro relevante de cerca de 40 milhões de euros”.

Frederico Gonçalves destaca o “valor estratégico” retirado do portefólio investido. “Temos mais de 115 milhões de contratos fechados entre as startups do portefólio e a EDP”, adianta. “Falamos de contratos comerciais, porque o piloto é só uma primeira fase da relação comercial; provando a solução, o objetivo é sempre fazer o roll-out comercial e, se aplicável, alargar às várias unidades de negócio ou geografias da EDP”, continua. A ChemiTek — que fornece uma solução de limpeza de painéis solares à EDP Espanha e EDP Comercial —; a Enging (já alienada) — a trabalhar com a E-REDES na monitorização de transformadores de potência — a Arquiled — que fornece luminárias LED à E-REDES para melhorar eficiência e reduzir custos com iluminação pública —; a Probely — a ser usada para “identificar e solucionar potenciais fragilidades de cibersegurança em aplicações e sites da EDP” — são soluções de participadas nacionais já aplicadas na operação da elétrica nacional.

Para ajudar a dar um boost à transição para a quinta geração móvel, a NOS apostou 10 milhões no Fundo NOS 5G para investir em startups portuguesas cujas soluções possam ser potenciadas com esta tecnologia. Já “investiu em seis startups portuguesas de elevado potencial”: a Reckon (retalho); a Knok (saúde); a Kit-AR (indústria); a DareData (IA); a Didimo (que cria avatares para utilização em setores diversos); e a Mediaprober (cuja solução mede “respostas fisiológicas de espetadores a conteúdos multimédia, com aplicações em setores como o marketing”), descreve Pedro Abrantes. “Encontramo-nos numa fase avançada de execução do fundo, mas ainda com capacidade disponível para investir em novas oportunidades”, adianta o diretor de estratégia e desenvolvimento da NOS.

Hubs temáticos e programas de aceleração

Os mecanismos de ligação das empresas ao mundo do empreendedorismo não se ficam pelos CVC. A telecom liderada por Miguel Almeida — a que mais investiu no leilão do 5G: cerca de 165 milhões de um total de 566,8 milhões que o concurso rendeu ao Estado — criou ainda o NOS Hub 5G para testar soluções com base nesta tecnologia e lançou, com a Amazon e Startup Lisboa, o programa Acelerador 5G, cujo vencedor foi a Kit-AR, depois financiada pelo fundo. Esta startup viu, aliás, a sua plataforma — que recorre à realidade aumentada e à IA para reduzir perdas no chão de fábrica — atrair também a atenção dos CTT. É uma das oito onde o grupo centenário já investiu através do 1520 Innovation Fund.

O fundo de inovação dos Correios arrancou há três anos, integralmente financiado pelos CTT com a gestão em parceria com a Iberis Capital, com 4 milhões de euros. “Atualmente, tem uma dotação de 8 milhões de euros, tendo sido reforçado desde a sua criação”, adianta Nuno Matos. Sensefinity, Habitat, Fraudio, Paynest, Ubirider, Neuralshift e GoFact são as startups investidas. “Já temos projetos de coinovação em curso com praticamente todas as startups em que investimos”, revela o diretor de digital, novos canais e inovação dos CTT. Com a Neuralshift, por exemplo, o operador postal está a usar a IA para melhorar a eficiência das operações. Os clientes que recebem encomendas através dos CTT, recebem um SMS informando que a entrega será realizada numa janela temporal de poucas horas, enquanto antes era o dia inteiro. “Isto veio aumentar significativamente a conveniência para os clientes e, portanto, a satisfação com a empresa”, exemplifica.

Só a EDP tem mais de 115 milhões em contratos fechados com as startups que fazem parte do seu portefólio de investimento.

À semelhança da NOS e do seu programa de aceleração ou da EDP — com o Free Electrons ou o Energy Starter que, desde 2016, já realizaram 130 pilotos convertidos em 42 roll-outs “que representam mais de 50 milhões de contratos comerciais” — os CTT têm outros mecanismos de interação com o empreendedorismo: através do 1520 Startup Program têm hoje “22 projetos em curso — sete em parcerias comerciais e 15 em projetos de cocriação”.

Com menos de um ano, e cinco milhões para investir, o Sogrape Ventures, com gestão da Beta Capital, também tem já números para mostrar. “Tivemos mais de 80 candidaturas ao fundo, estamos agora a concretizar o primeiro investimento. É um processo que tem sido muito interessante e tem aproximado muito a Sogrape do ecossistema em apenas meio ano”, adianta André Campos, diretor de estratégia, inovação e transformação da Sogrape. “Falamos de projetos de startups interessantes. Muitas podem não se concretizar em investimentos, mas em pilotos e parcerias. Já temos mais do que uma. Vamos anunciar muito brevemente um piloto com uma ferramenta analítica que nos vai ajudar a servir melhor o canal on trade, da restauração, para vermos os stocks”, explica.

E sintetiza o que, na prática, levou esta aposta da dona do Mateus Rosé num fundo. “Estamos com startups, e muito através do fundo, a ver tecnologias muito disruptivas que nunca nasceriam organicamente da Sogrape.”

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