As 5 evidências que os fogos exibiram
Vivem tempos também muito complicados as redacções, mas convém que os jornalistas não construam a sua própria sepultura reputacional.
Tempos de sofrimento o que diversas populações passaram nos últimos dias pelos fogos florestais que assolaram diversos pontos do País, com enfoque pela catástrofe de vidas perdidas em Pedrógão Grande. Tempos de agonia e de dúvida também para todos os portugueses que nada podiam fazer face à violência das imagens. Durante esta grave crise, 5 evidências ficaram expostas.
- A força da natureza e incapacidade para a combater – a mãe natureza tem os seus caprichos e por vezes gosta de arrasar mostrando a sua força. Nunca a compreenderemos, é uma ciência que nunca será completamente decifrada. Porém, se não houver coordenação, meios suficientes, ela ainda se pode tornar mais predadora de bens e vidas humanas. Julgo que temos meios, profissionais competentes na protecção civil, nos bombeiros e em outras autoridades que devem garantir a segurança das populações. Porém, cito as três perguntas que o próprio António Costa colocou: «Porque não foi encerrada ao trânsito a EN 2364?»; «Confirma-se que houve uma interrupção do funcionamento da rede SIRESP, porquê, durante quanto tempo?»; «se houve no local circunstâncias meteorológicas e dinâmicas geofísicas invulgares?». São 3 perguntas muito importantes que devem servir como base da análise do sucedido e como ponto de partida no melhoramento de problemas futuros.
- Os heróis bombeiros e a generosidade da comunidade – toda a comunidade tem de estar grata a verdadeiros heróis, voluntários ou que por salários modestos põem a sua vida em jogo na defesa das pessoas. Por muito que seja interessante a nossa vida, sentir-nos-emos sempre pequenos ao pé da força dos bombeiros que muitas vezes extenuados têm um papel que devia ser mais reconhecido por todos. E, por outro lado, bonito de ver como toda a sociedade – com mais ou menos posses – se envolveu para ajudar com bens e dinheiro os que combatiam uma tragédia. Nos momentos difíceis, os portugueses dizem sempre presente.
- António Costa é o melhor gestor de crises de comunicação política – tenho esta ideia há muitos anos. O Primeiro-Ministro é o melhor político português em comunicação política. Podemos dizer que sempre teve o carinho do universo mediático, e isso é uma verdade insofismável, mas sabe ler os movimentos do momento, sabe proteger os protagonistas mais débeis, envolver a máquina do Governo, que é poderosa e ainda contou com a preciosa colaboração do Presidente da República, criando uma malha comunicacional que praticamente o blinda a contestações. Depois de várias boas notícias, teve a sua maior gestão de crise em Pedrógão Grande e está a sair-se bem junto da opinião pública que é a que conta e não a opinião publicada.
- O ridículo que mata alguns comentadores – Por quererem aparecer à força na televisão, muitos comentadores nem noção têm da figura de idiotas e ignorantes que fazem. Nesta crise dos incêndios, foram várias as criaturas que brilharam pela idiotice. Houve um na RTP3 que até disse: “eu não percebo nada de Protecção Civil, mas…” e continuou olimpicamente na senda da medalha de ouro da estupidez. É tempo de se separar o trigo do joio e haver critérios rigorosos na selecção de gente com currículo que saiba o que está a dizer.
- O bom e o mau jornalismo – Eu sou um defensor da importância do jornalismo. Uma profissão nobre, de enorme relevância para uma sociedade transparente, livre e democrática. Durante estes dias vi inúmeros exemplos de bom jornalismo, deixo uma palavra, que não é de injustiça para os outros mas que serve como bandeira para eles, para um jornalista muito trabalhador, que não frequenta a Corte de Lisboa e por isso não tem os holofotes da fama, que é da TVI há anos e anos, um mouro de reportagens e sempre com trabalhos rigorosos: o Amílcar Matos. Mas também vi muito mau jornalismo que ensombra a credibilidade que a profissão merece. Vivem tempos também muito complicados as redacções, mas convém que os jornalistas não construam a sua própria sepultura reputacional.
Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico
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