Governo e PS tentam aproximar posições sobre o Orçamento do Estado para 2025
Governo diz que "a bola está do lado do PS", que deverá remeter até ao final da semana as propostas que quer ver vertidas no OE. Socialistas garantem estar disponíveis para continuar as negociações.
O Governo e o PS estão disponíveis para tentar aproximar posições e continuar a negociar o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), pelo que os socialistas deverão enviar, até ao final da semana, as medidas que querem ver incluídas no documento, designadamente contrapropostas à descida do IRC e IRS Jovem do Executivo. A par do cenário orçamental, avançado pelo Governo aos partidos políticos com assento parlamentar, foi esta a principal novidade que saiu das reuniões de terça-feira.
Após terem endurecido o discurso na antecâmara das negociações foi com um tom mais moderado que ambos os lados saíram do encontro. “Ficamos disponíveis para continuar as negociações com o Governo”, afirmou a líder do grupo parlamentar socialista, Alexandra Leitão, depois de o Executivo ter disponibilizado a informação solicitada pelo partido, nomeadamente o cenário macroeconómico subjacente ao OE2025.
Com estes dados em mãos, o PS pediu, de acordo com o Governo, “mais 48 horas/36 horas” para apresentar as medidas que quer ver incluídas no Orçamento, adiantou o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte. O próximo contacto será, assim, até ao final desta semana.
Alexandra Leitão anunciou que o PS “irá analisar” os dados que os socialistas tinham pedido, mostrando disponibilidade para reunir com o Governo “nos moldes e formato que o Governo entender”. A deputada escusou-se a adiantar que contrapropostas o PS vai apresentar para a redução do IRS Jovem e do IRC, que o Governo quer cabimentar no Orçamento do Estado para 2025, e que são linhas vermelhas para os socialistas viabilizarem a proposta orçamental.
“O que o Governo nos apresentou são previsões de excedente, este ano e no próximo, e isso dá uma ideia da margem que temos analisar, porque o equilíbrio orçamental é fundamental para o PS. E ficámos com dúvidas sobre a trajetória de despesa plurianual”, indicou a socialista. Questionada sobre que propostas alternativas à descida do IRC e IRS Jovem o PS iria apresentar, Leitão insistiu que primeiro o partido precisa de analisar a informação disponibilizada para depois poder tomar “um conjunto de propostas”. “Tudo aquilo que tivermos de conversar com o Governo será dito em primeiro lugar ao Governo”, afirmou.
A redução do IRC e do IRS Jovem deram entrada no Parlamento sob a forma de pedidos de autorização legislativa, à margem do plano orçamental. Contudo, como o seu impacto acaba por estar explanado nas previsões de receita, o PS tem-se mostrado reticente. Ainda assim, e neste encontro, o partido não “perguntou se o Governo cedia ou não” nestas propostas, segundo Alexandra Leitão, antiga ministra no governo de António Costa.
Do lado do Governo, o ministro dos Assuntos Parlamentares, no final das reuniões com todos os partidos, considerou que “o balanço do dia é bastante positivo”. O governante garantiu que o Executivo está “aberto ao diálogo” com os partidos. “Nesta altura a bola está do lado do PS. Acertamos que haverá um contacto da nossa parte até ao final da semana e, a partir daí, percebermos como é que vai continuar este processo negocial, que continuamos a desejar que chegue a bom porto”, afirmou, ao lado do ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e do ministro da Presidência, António Leitão Amaro.
As atenções estavam sobretudo direcionadas para o encontro com o PS, uma vez que, com o Chega a autoexcluir-se das negociações (embora reúna com o Executivo esta quarta-feira de manhã), o Governo precisa que os socialistas se abstenham para a viabilização do Orçamento. Há, contudo, pressões da direita, que Pedro Duarte considerou fazerem parte “do jogo partidário”.
À saída do encontro com o Governo, o deputado e vice-presidente da IL, Bernardo Blanco, avisou que o partido não está disposto a votar a favor do Orçamento se o Governo ceder na totalidade ao PS e deixar cair as propostas do IRS Jovem e do IRC. Questionado sobre se mantém a posição, no caso do Executivo modelar a proposta inicialmente apresentada, o liberal reconsiderou e indicou que o partido terá de analisar.
À esquerda do PS, Bloco de Esquerda e PCP afirmaram não estar surpreendidos com o conteúdo das reuniões, mantendo total oposição à proposta do OE2025 que o Governo venha a apresentar, ainda que o documento não seja conhecido. PAN e Livre esperam abertura para que algumas das suas propostas sejam acolhidas.
Crescimento de 2% e excedente de 500 milhões de euros
No cenário macroeconómico que o Governo apresentou aos partidos, é projetado um crescimento da economia de 2% para este ano e para o próximo e um excedente orçamental de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2024, e de 0,2%, em 2025. As estimativas ficam em linha com o que tem sido adiantado pelo ministro das Finanças ao longo dos últimos meses.
A previsão do Governo para o saldo orçamental corresponde a cerca de 500 milhões de euros, já contando com o efeito de perda de receita decorrente das medidas aprovadas pelo Parlamento, à revelia do Executivo, como a redução do IVA da luz ou o fim das portagens nas antigas SCUT.
Já o saldo orçamental estrutural para 2025, isto é, aquele que Portugal tem de negociar com Bruxelas, deverá ficar na linha de água, em 0%. Este indicador, corrigido dos efeitos cíclicos e líquido de medidas extraordinárias e temporárias, é determinante, no âmbito das regras orçamentais europeias, uma vez que permite compreender a capacidade do Estado fazer face à despesa permanente.
Neste momento, o Executivo está a preparar o novo plano orçamental estrutural de médio prazo que vai substituir o Programa de Estabilidade e que deverá ser entregue em Bruxelas no início de outubro, o qual deverá cumprir com os tetos de despesa definidos pela Comissão Europeia e terá de incluir este indicador, o saldo estrutural.
Nas contas do Governo, a despesa primária vai subir 5% este ano e 4% em 2025 e a receita fiscal deverá aumentar entre 4% e 4,5% em cada ano. No que diz respeito à variação do índice de preços junto do consumidor, o Governo estima fechar este ano com uma inflação ligeiramente acima de 2%.
A trajetória de descida do rácio da dívida pública é para manter. O Governo conta com uma redução em 3,1 pontos percentuais (pp.), de 99,1%, em 2023, para 96% do PIB em 2024. Este indicador deverá baixar mais ainda, ficando entre 92% e 91%, em 2025. Quanto à despesa com os juros da dívida, este ano o Governo terá de desembolsar mais 500 milhões de euros face a 2023. Em 2025, terá de pagar mais 300 milhões de euros em comparação com 2024.
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