BRANDS' ECO Inteligência artificial: uma revolução ao serviço da saúde

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  • 18 Setembro 2024

Do diagnóstico ao apoio à decisão, estas ferramentas estão a ser adotadas por prestadores de cuidados em Portugal e no mundo. O tema esteve em debate no Bio-Med AI Summer School, em Lisboa.

Ao longo de três dias, a Biblioteca Nacional, em Lisboa, acolheu o encontro internacional do Bio-Med AI Summer School para debater e refletir sobre o papel das ferramentas de inteligência artificial ao serviço da saúde. Das mais recentes inovações às aplicações na investigação científica (IA) e na prática clínica, o encontro organizado pelo whatnext.law (centro de investigação da Nova School of Law e da Vieira de Almeida) em parceria com a Fundação de Investigação Biomédica da Academia de Atenas terminou na sexta-feira.

“Este evento focado na inteligência artificial na área da saúde é um ótimo exemplo do propósito do WhatNext.Law (centro de Investigação que resulta da colaboração entre a Vieira de Almeida e da NOVA School of Law) que ambiciona, desde o seu início, explorar os tópicos jurídicos do futuro, antecipar tendências e propor soluções inovadoras através da interseção entre diferentes disciplinas”, refere Tiago Bessa, Sócio da Vieira de Almeida, e membro da Comissão Científica do WhatNext.Law.

Durante três dias, académicos, profissionais e estudantes de diversas áreas do conhecimento debateram os desafios inerentes à utilização de novas tecnologias na saúde, um tema essencial para o futuro da nossa sociedade. A tecnologia tem o potencial de revolucionar os cuidados de saúde, mas a sua aplicação levanta questões que desafiam os paradigmas tradicionais. Este evento procurou, através dos temas abordados e da qualidade dos participantes, identificar e explorar novas soluções para os desafios colocados na interseção da tecnologia e dos cuidados de saúde”, acrescenta.

Ao longo de três dias, a Biblioteca Nacional, em Lisboa, acolheu o encontro internacional do Bio-Med AI Summer School

O evento dedicou a programação à partilha de conhecimento sobre os domínios da biomedicina, big data e IA, tendo sempre o plano da ética e da inovação como pano de fundo. A organização reconhece “o imenso potencial [da IA] para revolucionar a medicina personalizada”, mas não esquece que “com uma grande inovação vem uma grande responsabilidade”.

A conferência contou com a participação de reputados oradores ligados ao setor da saúde, do direito, da tecnologia e da ética, nomeadamente, Margarida Lima Rego (Nova School of Law), Guilherme Victorino (Nova IMS), Vera Lúcia Raposo (Nova School of Law), Paulo Pinheiro, Magda Cocco, Inês Antas de Barros e Pedro Fontes (Vieira de Almeida), Valter Fonseca (Organização Mundial de Saúde), Arlindo Oliveira (Instituto Superior Técnico), Nickolas Papanikolaou (Centre for the Unknown, Champalimaud Foundation), ou John Pavlopoulos (Athens University of Economics and Business), entre outros.

Em formato escola de verão, a iniciativa quis “preencher a lacuna entre a IA e as áreas da biomedicina e da saúde”, apoiando investigadores e profissionais a dominar o potencial e os desafios da integração da IA.

Tecnologia que cuida e previne

De acordo com dados da IDC, até 2025 vai verificar-se um aumento de 60% na adoção de soluções baseadas em IA pelos prestadores de cuidados de saúde, em grande medida devido aos ganhos de eficiência e eficácia. Mais do que cenários de ficção científica, os casos de uso da IA na saúde são hoje uma realidade no mundo e Portugal não é exceção. “Na Luz Saúde, vemos a IA como uma tecnologia transformadora”, afirmou Nuno André da Silva, do Learning Health do Hospital da Luz. No caso do prestador privado de cuidados de saúde, “60% do investimento foi feito na jornada dos nossos pacientes” com o objetivo de simplificar a interação entre médicos e utentes. “Por exemplo, a IA pode fazer um resumo [escrito] de uma consulta. O médico não precisa de escrever esse resumo na ficha e pode concentrar-se no paciente”, explicou o responsável durante o painel “The Use of AI in Medical Delivery”.

No grupo Lusíadas, existe já um chatbot ao serviço dos pacientes que presta auxílio em questões como o agendamento de consultas, ainda que tenha capacidade para fazer mais. “Pode responder a algumas questões dos profissionais de saúde e pode ser muito autónomo, mas decidimos mantê-lo mais controlado”, apontou Josué Delgado, especialista em cibersegurança do grupo.

"Temos agora o AI Act [da Comissão Europeia, aprovado no início do ano] para tentar regular esta área. Nesse âmbito, a utilização de dados de saúde está enquadrada nos riscos elevados pelo que há maiores restrições para proteger os cidadãos”

Carolina Brites, especialista da Complear.

Embora a tecnologia seja já utilizada para cenários mais complexos, como a identificação de sinais de doença em ressonâncias magnéticas ou raio-x, o médico João Frutuoso, do Hospital São Francisco Xavier, acredita ser importante “que estas ferramentas sejam isso mesmo, ferramentas, porque a decisão final é sempre do médico”. “Vamos sempre precisar de um humano”, reforça.

Não basta desenvolver uma ferramenta de IA e colocá-la ao serviço de profissionais de saúde, é preciso cumprir a (cada vez mais apertada) regulação europeia e, sobretudo, assegurar a fiabilidade dos dados usados na sua construção. “Temos agora o AI Act [da Comissão Europeia, aprovado no início do ano] para tentar regular esta área. Nesse âmbito, a utilização de dados de saúde está enquadrada nos riscos elevados pelo que há maiores restrições para proteger os cidadãos”, detalhou Carolina Brites, especialista da Complear.

Nuno André da Silva e Josué Delgado concordam que é fundamental conhecer a origem dos dados, certificar a sua qualidade e garantir uma utilização adequada das ferramentas. “É preciso perceber de onde vêm os dados, como são tratados pelo modelo e se aquilo que estamos a colocar nas mãos do médico é fiável”, insiste Josué Delgado.

Da teoria à prática: três casos reais

Apoio à decisão

Nickolas Papanikolaou, do Centre for the Unknown da Fundação Champalimaud, integra o projeto ProCAncer-I que recolheu dados de mais de 12 mil pacientes para criar um modelo que permitisse detetar sinais de doença em ressonâncias magnéticas. “Esta tecnologia pode ajudar também em outro tipo de cancros e noutras utilizações clínicas. Para já, estamos focados no cancro da próstata que já é uma tarefa enorme”, explicou.

Escrever relatórios

John Pavlopoulos, da Athens University of Economics and Business, refletiu sobre a utilização de IA para apoiar a elaboração de relatórios técnicos com base em imagens médicas. “Na Inglaterra, 230 mil pacientes esperam cerca de um mês pelos resultados das suas radiografias, sendo este um caso em que as ferramentas automáticas podem ajudar”, considerou. É, assim, possível “usar a capacidade da IA de ler uma imagem e transformá-la em texto no contexto clínico”, assegura, o que trará ganhos de eficiência aos hospitais e uma melhoria do atendimento aos clientes através da diminuição do tempo de resposta aos pacientes.

Avaliação de saúde mental

Sophia Ananiadou, da Universidade de Manchester, esteve na conferência para falar sobre o MentaLLaMA, um modelo de linguagem em grande escala (LLM, na sigla em inglês), desenhado para interpretar questões ligadas à saúde mental. “Um modelo bem-sucedido tem de ter um bom desempenho, mas também capacidade de interpretação. Precisamos de ter muito cuidado com a análise da situação da saúde mental de alguém”, alertou.

O Bio-Med AI Summer School, organizado pelo whatnext.law em parceria com a Fundação de Investigação Biomédica da Academia de Atenas, terminou na sexta-feira depois de três dias de debate intenso entre académicos de diversas áreas do conhecimento, profissionais ligados à área da saúde e investigadores. Na sessão de encerramento, Adalberto Campos Fernandes, antigo Ministro da Saúde, destacou o papel que a inteligência artificial poderá ter para aumentar, a nível global, o acesso aos cuidados de saúde e acelerar a investigação médica.

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