BRANDS' ECO Portugal e EUA refletem sobre inovação e competitividade

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  • 1 Outubro 2024

Em 2023, os EUA foram o 4º principal destino para as exportações nacionais de bens. Câmara de Comércio Americana debateu, 3ª feira, desafios e oportunidades nas relações bilaterais entre os 2 países.

A relação entre Portugal e os Estados Unidos da América (EUA) é de longa data, mas mantém-se viva e cada vez mais próxima. Ao longo dos últimos mais de 240 anos, os dois países colaboraram e são, desde há muito, aliados – na economia, na segurança e até na cultura.

“Nem sempre temos a mesma forma de olhar para as situações. O que é notável é como, apesar dessas diferenças, os EUA e a Europa continuam a ser o parceiro económico e comercial regional mais bem-sucedido da história”, afirmou Douglas A. Koneff. O ministro conselheiro da Missão dos EUA em Portugal esteve esta terça-feira na quarta edição do Transatlantic Business Summit (TBS), em Lisboa, onde se debateram temas como a competitividade, a inovação e a geoestratégia.

O evento, organizado pela Câmara de Comércio Americana, promoveu “discussões ricas e bastante participadas” sobre “visões para o futuro, de inovação, de transformações e tendências”, destacou o presidente da instituição, António Martins da Costa.

"Nem sempre temos a mesma forma de olhar para as situações. O que é notável é como, apesar dessas diferenças, os EUA e a Europa continuam a ser o parceiro económico e comercial regional mais bem-sucedido da história.”

Douglas A. Koneff, Ministro Conselheiro da Missão dos EUA em Portugal

Ao longo do dia, passaram pelo auditório da Fundação Calouste Gulbenkian mais de três dezenas de oradores nacionais e internacionais, que destacaram a importância das relações bilaterais entre os dois países e sugeriram caminhos para o seu aprofundamento, nomeadamente por via do reforço das trocas comerciais. Vale a pena recordar que, em 2023, os EUA foram o quarto principal destino das exportações nacionais de bens, numa trajetória de crescimento que se regista há vários anos.

Entre as presenças na conferência, destaque para o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, que lembrou “o abalo gigantesco” sentido no setor da comunicação social, em particular com “o advento das plataformas digitais” e “a falência do modelo de negócio tradicional dos media”. Numa altura em que proliferam as notícias falsas e a desinformação, o ministro repetiu o anúncio feito há dias sobre “um plano de ação para os media”. “Vamos fazer um esforço para que isto seja o mais consensual possível na sociedade portuguesa”, garantiu, sublinhando que os detalhes serão conhecidos “nas próximas semanas”.

Competitividade sob ameaça

Duas semanas após a apresentação do relatório de Mario Draghi, antigo primeiro-ministro da Itália, o tema da competitividade europeia continua a ser motivo de debate em vários fóruns – e o TBS 2024 não foi exceção. “O diagnóstico é difícil de ignorar: a capacidade de inovação da Europa está a diminuir em comparação com outras economias mundiais e a concorrência da China, as tensões globais e a dependência da energia importada estão a enfraquecer ainda mais a competitividade e a produtividade da Europa”, assinalou Douglas A. Koneff.

"A capacidade de inovação da Europa está a diminuir em comparação com outras economias mundiais.”

Douglas A. Koneff, Ministro Conselheiro da Missão dos EUA em Portugal

É preciso “apelar a que a China jogue com as mesmas regras” que as restantes potências, uma ideia muitas vezes repetida ao longo de todo o dia – especialmente quando o tema são as novas tecnologias, as cadeias de abastecimento ou a transição energética. “Temos de produzir as coisas, temos de ser produtores e não podemos depender da China”, insistiu Deborah L. Wince-Smith. A presidente do Council on Competitiveness não ignora, porém, aquele que considera ser um dos grandes desafios para a economia europeia: “os elevados custos da eletrificação para as indústrias energeticamente intensivas”.

Disputas pelo poder afetam a economia

Embora os oradores concordem ser necessário reduzir a dependência da Europa em relação à China em produtos como painéis fotovoltaicos, baterias ou até mesmo de matérias-primas, muitas foram as vozes que lembraram que o protecionismo económico não deve ser o caminho. “Vimos que Trump impôs taxas aduaneiras em módulos solares, baterias e veículos elétricos [com origem na China], foram aumentadas por Biden e é expectável que se mantenham com Harris. Mas podem subir mais ainda com o regresso de Trump”, disse Antoine Vagneur-Jones, especialista em Comércio e Cadeias de Distribuição da BloombergNEF.

A Europa está a seguir um caminho semelhante no que respeita à taxação de veículos elétricos chineses, mas “estas disputas têm impacto direto no custo da descarbonização”. É preciso, acredita o perito, que a Europa reforce os incentivos dados à produção de clean tech.

O antigo embaixador da União Europeia (UE) nos EUA, na ONU e no Reino Unido, João Vale de Almeida, concorda que “não é com excesso de competição, com protecionismo e excesso de rivalidade que vamos proteger os nossos valores e objetivos”. O diplomata diz que a transição que o mundo atravessa, com uma “ordem mundial em declínio”, é um dos assuntos que mais o preocupa. Mas identifica cinco grandes “problemas” que devem estar no horizonte de cidadãos, empresários e, sobretudo, políticos. Desde logo a proliferação do poder nuclear com vários países a reforçar as suas capacidades bélicas a este nível, mas também “a instabilidade securitária na UE”. A guerra na Ucrânia, afirma, “não vai acabar tão cedo e ainda pode piorar antes de acabar”.

"Não é com excesso de competição, com protecionismo e excesso de rivalidade que vamos proteger os nossos valores e objetivos.”

João Vale de Almeida, antigo embaixador da União Europeia (UE) nos EUA, na ONU e no Reino Unido

Por outro lado, continua, a perturbação dos circuitos comerciais internacionais – em particular no estreito do Golfo e em Taiwan – pode resultar em danos graves para a economia mundial se não for atenuada. Mais uma vez, o protecionismo e a “reversão da globalização não são bons para o mundo”, em especial para economias abertas como a europeia e a norte-americana. Por fim, João Vale de Almeida fala nos conflitos invisíveis e na “situação humanitária catastrófica” no Sudão, onde se estima que até ao final deste ano possam morrer 2,5 milhões de pessoas.

Inovação, talento e a inteligência artificial

A disrupção foi tema comum a vários painéis e diferentes intervenções, em particular no debate “Visões do Futuro” que contou com Pedro Santa Clara (Tumo Portugal), João Bento (CTT e Business Roundtable Portugal) e João Maria Botelho (eleito na lista Forbes 30 Under 30), moderado pelo diretor do ECO António Costa. Os participantes concordaram com a “necessidade dramática de simplificar a regulação” na UE e que se facilite a criação de grandes empresas, de forma a permitir que as economias ganhem escala e possam ser mais competitivas a nível internacional. “É sabido e é factual que as maiores empresas são mais produtivas, pagam mais, investem mais”, sublinhou João Bento.

Mas a mudança deve ser também cultural e isso implica outras pequenas revoluções na sociedade portuguesa, como na educação e formação dos futuros líderes. Pedro Santa Clara diz estar “farto desta mediocridade coletiva” que se vive no ensino nacional por falta de inovação e abertura a novos modelos de educação. “Há possibilidade de construir outras formas de aprendizagem utilizando tecnologia bastante simples para desenhar uma experiência mais eficaz, mais escalável”, acredita.

"Temos de ter consciência que ainda estamos no nível 2 das capacidades da IA generativa, temos de chegar ao nível 5. Temos de levar isto às empresas, à nossa estrutura empresarial. Este caminho ainda está muito no início.”

Sofia Marques de Sousa (DXC Technology)

Num outro painel moderado pelo subdiretor do ECO, André Veríssimo, a inteligência artificial (IA) generativa foi mote para uma mesa-redonda que juntou António Vargas (Amazon Web Services), Sofia Marques de Sousa (DXC Technology) e Ricardo Chaves (Centro de Excelência de Inteligência Artificial do BPI). “Portugal está numa posição destaca na Europa no que respeita à IA”, assegura António Vargas, que em contracorrente acredita que a regulação da UE para a IA “tem muitos aspetos positivos”. No entanto, alerta: as PME, que compõem mais de 99% do tecido empresarial português, terão muita dificuldade em garantir o cumprimento da legislação se não tiverem ajuda.

Ricardo Chaves não tem dúvidas de que a IA generativa está a revolucionar o mundo do trabalho e setores como o da banca, mas faz questão de lembrar “o potencial” destas ferramentas ao serviço das PME. Há, porém, um entrave que deve ser ultrapassado – a formação e reskilling das equipas para que sejam capazes de tirar partido da tecnologia.

A saúde ou as utilities serão grandes beneficiados pelo poder da IA generativa, acrescenta Sofia Marques de Sousa, embora haja desafios a superar para que esse ganho possa ser conquistado. “Temos de ter consciência que ainda estamos no nível 2 das capacidades da IA generativa, temos de chegar ao nível 5. Temos de levar isto às empresas, à nossa estrutura empresarial. Este caminho ainda está muito no início”, apontou.

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