“A mobilidade tem direito a estar no pódio dos desafios urbanos”

  • ECO
  • 30 Setembro 2024

O desafio da mobilidade é, para Miguel Castro Neto, Diretor da NOVA Information Management School, um dos principais problemas dos centros urbanos modernos.

Entre os vários desafios que as cidades enfrentam, Miguel Castro Neto, Diretor da NOVA Information Management School, considera que a mobilidade deverá estar entre os principais. Esta conclusão foi partilhada durante a conferência Outlook Auto, num painel que também reuniu Miguel Eiras Antunes, Partner da Deloitte, e que foi moderado por Shrikesh Laxmidas, Diretor-Adjunto do ECO.

Miguel Castro Neto apontou Lisboa como exemplo das dificuldades que as cidades enfrentam no caminho para a neutralidade carbónica. Segundo ele, “50% das emissões [da capital] vêm dos transportes, da mobilidade”, um indicador que torna essa área num dos maiores desafios que qualquer cidade moderna enfrenta. Lisboa faz parte da missão «Cidades com Impacto Neutro no Clima e Inteligentes até 2030», tem o objetivo de antecipar a neutralidade carbónica para 2030, bem antes do limite estabelecido para 2050. Mas, para cumprir isso, o diretor da NOVA Information Management School considera os transportes públicos e a adoção de novas tecnologias serão pilares centrais nesse processo.

"50% das emissões [da capital] vêm dos transportes, da mobilidade.”

Miguel Castro Neto, Diretor da NOVA Information Management School

O diretor também destacou o impacto das falhas de mobilidade em outras áreas urbanas, como o acesso à habitação. “Muitos dos problemas que nós, por vezes, imputamos às cidades resultam das dificuldades da mobilidade”, afirmou, sublinhando que o planeamento urbano deve considerar a oferta de soluções de transporte acessíveis e sustentáveis, capazes de ligar as pessoas a empregos, educação, serviços de saúde e outras necessidades diárias. Referiu ainda que, na sua visão, o conceito de cidades dos 15 minutos – em que os cidadãos podem aceder a tudo o que necessitam num raio de 15 minutos a pé ou de bicicleta – é um objetivo desejável, mas extremamente desafiador.

Por tudo isto, Miguel Castro Neto afirmou mesmo que “a mobilidade tem direito a estar no pódio dos desafios urbanos” pelo facto de afetar não só o setor dos transportes, mas também todos os outros que dependem dela.

Miguel Castro Neto, Diretor da NOVA Information Management SchoolHugo Amaral/ECO

Por sua vez, Miguel Eiras Antunes, que coordena a área de Smart Cities na Deloitte, partilhou uma visão integrada para a transformação da mobilidade, ao apresentar o trabalho que a sua equipa tem desenvolvido a nível global. “A mobilidade é uma componente muito relevante nas smart cities“, disse, enfatizando a necessidade de colaboração entre especialistas de vários setores – desde o automóvel aos transportes públicos e privados. O especialista referiu ainda a participação da Deloitte em grandes eventos internacionais, como o Smart Cities World Congress e o Fórum Económico Mundial, nos quais têm sido debatidas as tendências e inovações no setor da mobilidade urbana.

"A transição para veículos elétricos é inevitável.”

Miguel Eiras Antunes, Partner da Deloitte

Entre os exemplos práticos que o responsável da Deloitte mencionou, destacou-se o envolvimento da Deloitte em projetos de mobilidade em cidades como Bruxelas, onde foram implementadas novas soluções tecnológicas, e NEOM, o maior projeto de desenvolvimento urbano do mundo, para o qual a consultora tem contribuído com estratégias de mobilidade inteligente.

Miguel Eiras Antunes, Partner da DeloitteHugo Amaral/ECO

A necessidade de uma mudança urgente no setor automóvel também foi frisada pelo partner da Deloitte, que sublinhou que a mobilidade sustentável passa pela transição para veículos elétricos e pela adaptação das empresas às novas regulamentações, como a proibição de venda de veículos a combustão a partir de 2035. “A transição para veículos elétricos é inevitável”, afirmou, apontando que os jovens, com hábitos de consumo diferentes das gerações anteriores, estão mais inclinados para a mobilidade partilhada e serviços de subscrição de veículos, uma tendência que terá um impacto direto nos modelos de negócio dos operadores automóveis.

"Nós não estamos a resolver o verdadeiro problema das cidades, que é termos carros a mais.”

Miguel Castro Neto, Diretor da NOVA Information Management School

Esta ideia também foi reforçada por Miguel Castro Neto, que alertou para o risco de se perpetuar o excesso de veículos nas cidades, mesmo com a eletrificação das frotas. “Nós não estamos a resolver o verdadeiro problema das cidades, que é termos carros a mais”, disse, referindo que a proliferação de veículos autónomos poderá até agravar a circulação de automóveis nas cidades, já que estes poderão estar constantemente em movimento, ao invés de estacionados. Para ele, a solução passa por um “ajustamento dinâmico” do transporte público, que deve ser eficiente e flexível para responder às necessidades dos cidadãos em tempo real.

Painel “Smart Cities – Impacto no setor”Hugo Amaral/ECO

Outro tema abordado foi a crescente importância de soluções de mobilidade para populações específicas, como idosos, crianças e pessoas com deficiência. Segundo Miguel Eiras Antunes, este é um dos desafios que pode abrir novas oportunidades de receita para o setor automóvel, mas que requer inovação e adaptação das infraestruturas de mobilidade.

"O cidadão deve estar no centro [das soluções de mobilidade].”

Miguel Eiras Antunes, Partner da Deloitte

Nesse sentido, os especialistas foram, ainda, unânimes ao destacar o papel central do cidadão nas cidades do futuro. “O que eu acho que vai acontecer é que vamos poder usar soluções de mobilidade de forma invisível”, defendeu Miguel Castro Neto, explicando que o objetivo é criar um ambiente em que os cidadãos possam usufruir dos serviços urbanos sem fricções, com soluções de mobilidade que resolvam de forma prática os desafios diários de deslocação: “Ou seja, quando sair de casa [o cidadão], terá uma solução de mobilidade que combina transporte público e transporte privado, diferentes modalidades, de forma a levá-lo ao seu destino. É esse o caminho”.

Esta visão também foi complementada por Miguel Eiras Antunes, que afirmou que “o cidadão deve estar no centro” das soluções de mobilidade, com opções complementares que permitam uma experiência fluida entre transporte público, privado e partilhado.

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